NATAL DE UMA SÓ LUZ

 

Que Natal tão diferente /Do Natal dos outros anos, / A saudade e os desenganos / Enchendo a alma da gente! - Muitos amigos partiram / Sem lhes darmos nosso abraço / Nem pra beijos houve espaço, / Só as lágrimas seguiram. - Em Belém, não houve luz / Uma noite sem amigos / Pastores, pobres, mendigos / Cercaram o rei Jesus. - Jesus nasceu, noite escura, / Em sua morte, escuridão. / Ele é luz, ressurreição, / A terra ficou mais pura. - Que Ele nos traga alegria / A um mundo tão sofredor. / Que Natal de pandemia! / Natal de tristeza e dor! - Natal de brilho e de luz / Natal de uma só estrela / Aquela sim a mais bela / Pois é o Menino Jesus!

Escrevi esse singelo poema para o ano de 2020. Mas se aplica ainda ao presente ano.    

O primeiro Natal, do qual celebramos a memória, foi realmente alegre e feliz. Que alegria e que felicidade! Nasceu Jesus, o Messias, prometido desde o paraíso perdido, esperado desde Adão pelos Patriarcas, razão de ser do povo eleito, o Salvador da humanidade, o Senhor feito homem. E os anjos anunciaram aos pastores essa felicidade. A aparição da estrela misteriosa fez renascer a felicidade no coração dos Magos que vieram do Oriente.

“Eis que vos anuncio uma grande alegria para todo o povo: nasceu o Salvador, o Cristo, o Senhor” (Lc 2,10-11).  “A aparição daquela estrela os encheu de grandíssima alegria” (Mt 2,10). Mas como pode ter sido feliz um Natal cheio de sofrimentos? 

Segundo a filosofia, felicidade é o estado constituído pelo acúmulo de todos os bens com a ausência de todos os males (Cícero, Tusculanes V,10 – Boécio, De Cons. Phil. III, p.2, 2).

 Então, como poderemos chamar feliz um Natal onde houve desprezo, rejeição – Jesus nasceu numa estrebaria por falta de lugar para Ele nas casas e nas hospedarias -, lágrimas, gritos, morte, luto – Herodes, perseguindo Jesus, mandou matar as crianças de Belém – fuga, desterro, pobreza, sacrifícios?

 Realmente, felicidade perfeita, na definição filosófica, só se encontrará no Céu, na Jerusalém celeste, onde Deus “enxugará toda a lágrima dos seus olhos e já não haverá morte, nem luto, nem grito, nem dor, porque tudo isto passou” (Ap 21,4). É a grande lição do Natal: pode-se ser feliz no desterro, na dor, no desprezo, no luto, até com lágrimas, aqui na terra.

 Aqui, o que faz a felicidade é a esperança: “alegres pela esperança, pacientes na tribulação” (Rom 12,12). O cristão é otimista pela esperança. É feliz porque faz o bem e espera. Mesmo quando sofre. Mesmo no meio dos sofrimentos, angústias e dores, pode-se ter a felicidade.

  Por isso, o primeiro Natal foi cheio de felicidade. Porque lá estava Jesus, penhor da esperança, fonte da alegria e da felicidade, a luz, a estrela do Natal. E alegres e felizes estavam Nossa Senhora e São José.

  A pobre estrebaria de Belém era o Céu. Ali faltava tudo e não faltava nada. Ali estava a felicidade e a alegria. Este é o segredo da felicidade. Assim, o meu FELIZ NATAL PARA VOCÊ!

*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

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À ESPERA DO NATAL

  

Amanhã começaremos a Novena de preparação para o Santo Natal. Nas Vésperas dos dias que antecedem a grande festa natalina, cantam-se as belíssimas antífonas latinas que começam com a exclamação de desejo “Ó!”: Ó Sabedoria, Ó Adonai, Ó Raiz de Jessé, Ó Chave de Davi, Ó Oriente, Ó Rei das Nações, Ó Emanuel, palavras de esperança das antigas profecias bíblicas, referentes ao Salvador cujo nascimento celebraremos no Natal. São o reflexo dos anseios de todo o mundo pela vinda do Messias, o Salvador da humanidade, o novo Adão, Jesus Cristo.

            O modelo para nós de expectativa do Messias é a sua Mãe, Maria Santíssima, Nossa Senhora do Advento. Por causa dessas antífonas da expectação, o povo deu a ela o título de Nossa Senhora do Ó. É uma devoção muito antiga, surgida na Espanha e em Portugal. Aqui no Brasil, em São Paulo, por exemplo, temos a “Freguesia (paróquia) do Ó”, bairro, onde se encontra a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Expectação do Ó, cuja construção começou em 1610.

              A devoção a Nossa Senhora é inata no povo católico. Enquanto os teólogos, durante séculos, discutiam a base teológica da Imaculada Conceição da Virgem Maria – o dogma de fé só foi proclamado por Pio IX no dia 8 de dezembro de 1864 -, o povo católico já a cultuava por toda a parte. Desde os primeiros séculos, os cristãos já honravam essa prerrogativa de Maria. No século VIII, o culto foi autorizado nas igrejas. A partir do século XII, espalhou-se a celebração dessa festa. Clemente XI, em 1708, elevou-a a festa de preceito. A imagem de Nossa Senhora da Conceição da Praia, na Basílica do mesmo nome em Salvador BA, foi trazida por Tomé de Souza e a primeira capela em seu louvor, foi construída a mando do então governador.

Celebramos dia 12 Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira da América Latina. Sob diversos nomes, Maria Santíssima é patrona de muitos países do Novo Mundo, e sua devoção está no coração de todos. O Documento de Aparecida exalta “o papel tão nobre e orientador que a religiosidade popular desempenha, especialmente a devoção mariana, que contribuiu para nos tornar mais conscientes de nossa comum condição de filhos de Deus” (37). Mas, reconhece que, “no entanto, devemos admitir que essa preciosa tradição começa a diluir-se... Nossas tradições culturais já não se transmitem de uma geração à outra...” (39). “Observamos que o crescimento percentual da Igreja não segue o mesmo ritmo que o crescimento populacional... Verificamos, deste modo, uma mentalidade relativista no ético e no religioso.... Nas últimas décadas vemos com preocupação, que numerosas pessoas perdem o sentido transcendental de suas vidas e abandonam as práticas religiosas...”. “Tal como manifestou o Santo Padre no Discurso Inaugural de nossa Conferência: ‘Percebe-se certo enfraquecimento da vida cristã no conjunto da sociedade e da própria pertença à Igreja Católica’.” (100).

Rezemos mais, pois estamos em “um novo período da história, caracterizado pela desordem generalizada..., pela difusão de uma cultura distante e hostil à tradição cristã e pela emergência de variadas ofertas religiosas que tratam de responder, à sua maneira, muitas vezes errônea, à sede de Deus que nossos povos manifestam” (DocAp 10). 

 

*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

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A IMACULADA CONCEIÇÃO

 

Muitas meninas recebem, no Batismo, o belo nome de Maria da Conceição ou Conceição de Maria ou, simplesmente, Conceição, homenageando Maria, a Mãe de Jesus, na sua Imaculada Conceição, que hoje celebramos. Honramos assim o privilégio singular concedido por Deus à Virgem Maria, escolhida para a Mãe de Jesus, o Filho de Deus encarnado, Salvador do gênero humano, preservando-a, em vista dos méritos dele, desde a sua concepção ou conceição, da herança do pecado original.

Este pecado original, em Adão uma falta voluntária, nos outros homens se constitui na privação da graça divina, que havia sido concedida a toda a humanidade na pessoa do primeiro homem. A graça, por ele perdida para si e para todos os seus descendentes, foi recuperada pelo segundo Adão, Jesus Cristo, pela sua Redenção, que nos alcança e santifica através do Batismo.

Ora, Deus havia prometido, no momento do pecado de Adão, que uma mulher com o seu filho, o futuro Salvador, venceria completamente o demônio. Não teria, pois, nenhum pecado. Não teria, em nenhum instante, a menor privação da graça divina. Por isso, essa mulher especial, Maria, escolhida para a Mãe do Redentor, foi saudada pelo Anjo mensageiro de Deus com as palavras: “Ave, ó cheia de graça (agraciada de modo especial) ..., bendita entre as mulheres”, ou seja, sem pecado (privação da graça). A Redenção de Cristo a atingiu, de modo preventivo, preservando-a, por privilégio único, do pecado que atinge a todos os homens.

Recordamos que a padroeira oficial do Brasil é Nossa Senhora da Conceição, vulgarmente chamada de Aparecida.

Mas, por que honramos Maria, de modo tão especial?

“O nosso mediador é só um, segundo a palavra do Apóstolo: ‘não há senão um Deus e um mediador entre Deus e os homens, o homem Jesus Cristo, que Se entregou a Si mesmo para redenção de todos’ (1 Tim. 2, 5-6). Mas a função maternal de Maria em relação aos homens de modo algum ofusca ou diminui esta única mediação de Cristo; manifesta antes a sua eficácia. Com efeito, todo o influxo salvador da Virgem Santíssima sobre os homens se deve ao beneplácito divino e não a qualquer necessidade; deriva da abundância dos méritos de Cristo, funda-se na Sua mediação e dela depende inteiramente, haurindo aí toda a sua eficácia; de modo nenhum impede a união imediata dos fiéis com Cristo, antes a favorece” (Lumen Gentium 60).

“A Virgem Santíssima, predestinada para Mãe de Deus desde toda a eternidade simultaneamente com a encarnação do Verbo, por disposição da divina Providência foi na terra a nobre Mãe do divino Redentor, a Sua mais generosa cooperadora e a escrava humilde do Senhor. Concebendo, gerando e alimentando a Cristo, apresentando-O ao Pai no templo, padecendo com Ele quando agonizava na cruz, cooperou de modo singular, com a sua fé, esperança e ardente caridade, na obra do Salvador, para restaurar nas almas a vida sobrenatural. É por esta razão nossa mãe na ordem da graça” (Lumen Gentium 61).

 

*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

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ARMANDO O PRESÉPIO DE NATAL

 

Já estamos em um novo Ano Litúrgico, no Advento, tempo da “bela tradição das famílias prepararem o Presépio, e o costume de o armarem nos lugares de trabalho, nas escolas, nos hospitais, nos estabelecimentos prisionais, nas praças” ...: é assim que começa a Carta Apostólica do Papa Francisco, “Sinal Admirável”, sobre o valor e o significado do Presépio.  

“Representar o acontecimento da natividade de Jesus equivale a anunciar, com simplicidade e alegria, o mistério da encarnação do Filho de Deus. O Presépio é como um Evangelho vivo que transvaza das páginas da Sagrada Escritura. Ao mesmo tempo que contemplamos a representação do Natal, somos convidados a colocar-nos espiritualmente a caminho, atraídos pela humildade d’Aquele que Se fez homem a fim de Se encontrar com todo o homem, e a descobrir que nos ama tanto, que Se uniu a nós para podermos, também nós, unir-nos a Ele. O evangelista Lucas limita-se a dizer que, tendo-se completado os dias de Maria dar à luz, ‘teve o seu filho primogênito, que envolveu em panos e recostou numa manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria’ (2, 7). Jesus é colocado numa manjedoura, que, em latim, se diz praesepium, donde vem a nossa palavra presépio. Ao entrar neste mundo, o Filho de Deus encontra lugar onde os animais vão comer. A palha torna-se a primeira enxerga para Aquele que Se há de revelar como ‘o pão vivo, o que desceu do céu’ (Jo 6, 51). Uma simbologia, que já Santo Agostinho, a par doutros Padres da Igreja, tinha entrevisto quando escreveu: ‘Deitado numa manjedoura, torna-Se nosso alimento’. Na realidade, o Presépio inclui vários mistérios da vida de Jesus, fazendo-os aparecer familiares à nossa vida diária”.

            A ideia dessa representação é atribuída a São Francisco de Assis: “Quero representar o Menino nascido em Belém, para de algum modo ver com os olhos do corpo os incômodos que Ele padeceu pela falta das coisas necessárias a um recém-nascido, tendo sido reclinado na palha duma manjedoura, entre o boi e o burro” ... “O Presépio é um convite a ‘sentir’, a ‘tocar’ a pobreza que escolheu, para Si mesmo, o Filho de Deus na sua encarnação, tornando-se assim, implicitamente, um apelo para O seguirmos pelo caminho da humildade, da pobreza, do despojamento, que parte da manjedoura de Belém e leva até à Cruz, e um apelo ainda a encontrá-Lo e servi-Lo, com misericórdia, nos irmãos e irmãs mais necessitados”.

“‘Vamos a Belém ver o que aconteceu e que o Senhor nos deu a conhecer’ (Lc 2, 15) ...: os pastores tornam-se as primeiras testemunhas do essencial, isto é, da salvação que nos é oferecida... Pouco a pouco, o Presépio leva-nos à gruta, onde encontramos as figuras de Maria e de José. Maria é uma mãe que contempla o seu Menino e O mostra a quantos vêm visitá-Lo... Ao lado de Maria, em atitude de quem protege o Menino e sua mãe, está São José... É o guardião” ... “O coração do Presépio começa a palpitar, quando colocamos lá, no Natal, a figura do Menino Jesus. Assim Se nos apresenta Deus, num menino, para fazer-Se acolher nos nossos braços... Em Jesus, Deus foi criança e, nesta condição, quis revelar a grandeza do seu amor” ...

 

*Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney

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OBRIGADO, MEU DEUS!

 

Amanhã, dia 25 de novembro, celebra-se o Dia Nacional de Ação de Graças. É uma festa de origem norte-americana (Thanksgiving), regulamentada no calendário brasileiro em 1949, pelo então presidente Eurico Gaspar Dutra, por sugestão de Joaquim Nabuco, entusiasmado com as comemorações que vira na Catedral de São Patrício, quando embaixador em Washington. No Brasil, o Dia Nacional de Ação de Graças vem sendo ofuscado pelo Black Friday, também de origem americana, promoção de venda antes das vendas de Natal, festa cristã também comercializada.

Mas, mesmo sendo de origem não católica, essa celebração pode ser uma boa ocasião para darmos graças a Deus, por todos os seus benefícios e graças: nossa existência, a natureza que ele nos deu, a família, os amigos, as graças espirituais e materiais, com o reconhecimento da sua suprema soberania e bondade, por tudo de bom que recebemos durante o ano. Por isso, é um bom costume cristão, herdado de nossos antepassados, dizer sempre “graças a Deus!”. E é dia de agradecimento também ao nosso próximo, especialmente aos nossos pais, parentes e amigos.

São Paulo inculcava nas suas cartas este contínuo espírito de gratidão: ‘Em todas as circunstâncias dai graças, porque esta é a vosso respeito a vontade de Deus em Jesus Cristo’ (1 Tess. 6, 18); ‘Enchei-vos do Espírito... dando sempre graças por tudo a Deus Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo’ (cf. Ef. 5, 18-20). É uma atitude ‘eucarística’, que vos dá paz e serenidade nas fadigas, vos liberta de todo o apego egoísta e individualista, vos torna dóceis à vontade do Altíssimo, também nas exigências morais mais difíceis, vos abre para a solidariedade e para a caridade universal, vos faz compreender como é absolutamente necessária a oração, e sobretudo a vida eucarística mediante a Santa Missa, o ato de Ação de graças por excelência, para viver e testemunhar coerentemente a própria fé cristã. Agradecer significa acreditar, amar, dar! E com alegria e generosidade!” (São João Paulo II, homilia no dia de ação de graças 9/11/1980).

E agradecemos a Deus as alegrias e até os sofrimentos, pois são para o nosso bem e deles podemos tirar bons frutos. Celebramos há pouco a memória de Santa Isabel, rainha da Hungria. Quando no castelo, aproveitou da sua influência para fazer o bem. Sempre agradecia a Deus. Poder-se-ia dizer que isso é fácil pela vida rica que tinha! Mas a desgraça lhe bateu à porta: após a morte do marido, foi expulsa da corte pelos usurpadores do reino, insultada por todos, até pelos mendigos e enfermos que ela tinha socorrido, e teve que se refugiar, com os filhos pequenos, num curral de porcos. Dali, de madrugada, ouviu o sino de um convento, que ela tinha ajudado a construir, e lá foi pedir que rezassem em ação de graças, pela tribulação que ela estava passando!

Em português, como forma de agradecer, temos a belíssima palavra “obrigado”. Significa o mais profundo grau da gratidão, não só um reconhecimento intelectual do favor recebido (thank you), nem apenas uma simples retribuição com outra mercê (merci, gracias), mas uma vinculação, um comprometimento a continuar a servir, a retribuir favores, a quem nos prestou algum benefício. É nesse sentido que dizemos a Deus e aos irmãos: “muito obrigado!”.

 

        *Bispo da Administração Apostólica Pessoal

                                                                         São João Maria Vianney

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POBREZA E CARIDADE

 

Segundo o Governo Federal, 2,8 milhões de famílias vivem em pobreza, com renda entre R$ 90 e 178 per capita mensais. É considerada família vivendo em extrema pobreza aquela com renda per capita de até R$ 89 mensais. Seriam essas 14,5 milhões de famílias brasileiras. A Folha da Manhã nos informa que, na região, cerca de 50 mil famílias vivem na extrema pobreza.

Em sua mensagem para o V Dia Mundial dos Pobres, que comemoramos no domingo passado, o Papa Francisco usa como tema a frase de Jesus: “«Sempre tereis pobres entre vós» (Mc 14, 7) e resume: “Os pobres estão no meio de nós”. É isso um convite à caridade e solidariedade cristãs, sempre presentes na Igreja, a maior instituição caritativa do planeta.

Se a Igreja Católica saísse da África, 60% das escolas e hospitais seriam fechados. Quando a epidemia de AIDS estourou nos EUA e as autoridades não sabiam o que fazer, as freiras da Igreja foram convidadas a cuidar dos doentes, porque ninguém mais queria fazê-lo. No Brasil, até 1950, quando não existia nenhuma política de saúde pública, eram as casas de caridade da Igreja que cuidavam das pessoas que não tinham condições de pagar um hospital.

               A Igreja Católica mantém na Ásia: 1.076 hospitais; 3.400 dispensários; 330 leprosários; 1.685 asilos; 3.900 orfanatos; 2.960 jardins de infância. Na África: 964 hospitais; 5.000 dispensários; 260 leprosários; 650 asilos; 800 orfanatos; 2.000 jardins de infância.

               Na América: 1.900 hospitais; 5.400 dispensários; 50 leprosários; 3.700 asilos; 2500 orfanatos; 4.200 jardins de infância. Na Oceania: 170 hospitais; 180 dispensários; 1 leprosário; 360 asilos; 60 orfanatos; 90 jardins de infância.

               Na Europa: 1.230 hospitais; 2.450 dispensários; 4 Leprosários; 7.970 asilos; 2.370 jardins de infância.

               É o que você, católico, ajuda, quando oferece na Igreja, no dia 29 de junho, o óbolo de São Pedro, que é enviado ao Papa, que o usa nas obras de caridade da Igreja.

               E tudo isso sem muito alarde e propaganda. Assim nos ensina Jesus: “Quando deres esmola, não mandes tocar a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para receber a glória humana. Em verdade, vos digo: já receberam sua recompensa. Tu, porém, quando deres esmola, não saiba a tua mão esquerda o que faz a direita, de modo que tua esmola fique em segredo. E teu Pai, que vê o que está em segredo, te retribuirá” (Mt 6, 2-4).

               O amor aos pobres inspira-se no Evangelho das bem-aventuranças e no exemplo de Jesus com a sua constante atenção aos pobres. Jesus disse: «Todas as vezes que fizerdes isto a um só destes irmãos mais pequeninos, a Mim o fizestes» (Mt 25,40). O amor aos pobres manifesta-se na ação contra a pobreza material e contra as numerosas formas de pobreza cultural, moral e religiosa. As obras de misericórdia, espirituais e corporais e as numerosas instituições de beneficência que surgiram ao longo dos séculos, constituem um concreto testemunho do amor preferencial pelos pobres que caracteriza os discípulos de Jesus” (Compendio CIC 520).

 

        *Bispo da Administração Apostólica Pessoal

                                                                         São João Maria Vianney

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IDEOLOGIAS

 Embora tenha muitos significados, ideologia pode-se definir como um conjunto de ideias, doutrinas ou visões do mundo, no fundo falsas ou ilusórias, formando uma consciência errônea, que se reflete num modo errado de viver e agir.

            Há ideias e ações corretas no começo ou em parte, que podem infelizmente se tornar ideologias. Há muitos “ismos” que podem ser bons; mas há muitos que são ideologias. Cristianismo, catolicismo, civismo, catecismo, etc. são ideias boas. Já outros “ismos” nem tanto. Dou alguns exemplos

            Somos a favor da doutrina da criação do mundo, feita por Deus; mas não aderimos ao criacionismo, ideologia que defende erroneamente a interpretação literal da Bíblia como parâmetro da ciência.

            Podemos reconhecer algum valor em certas análises feitas por Friedrich Engels, recolhidas por Karl Marx; mas não podemos adotar o Marxismo, ideologia baseada no materialismo e na luta de classes, bases da ideologia comunista.

            Podemos aceitar certos postulados da teoria da evolução; mas não o evolucionismo, ideologia materialista que ensina a evolução total com a ausência do Criador. Engels e Marx utilizaram a teoria da evolução para propagar a ideologia materialista ateia do comunismo.

            Reconhecemos que a liberdade, o livre arbítrio, é um dos mais importantes dons de Deus a nós concedido, junto com a inteligência e a vontade. Mas o liberalismo, a exaltação exagerada da liberdade, é uma ideologia malsã.

            O capitalismo, quando significa a economia de mercado, ou seja, o sistema econômico que reconhece o papel fundamental e positivo da empresa, do mercado, da propriedade privada, da livre criatividade humana no setor da economia, submetido a parâmetros legais e morais, é aceitável; mas não o capitalismo, sinônimo de ganância e busca do lucro a qualquer preço, “avidez para o mero lucro econômico” (Papa Francisco), significando um sistema onde a liberdade no setor da economia se considera acima das leis morais e do respeito pela pessoa humana (cf. S. J. Paulo II, Cent. Annus, 42).

            No campo religioso, aceitamos com reservas os valores do mundo moderno; mas não adotamos o modernismo, ideologia condenada por São Pio X, como negadora das verdades da Fé.

O tradicionalismo, entendido como o apego sadio à Tradição, aos valores perenes a nós transmitidos, na fidelidade ao Magistério perene da Igreja, é bom e louvável. Por exemplo, a correta conservação, em comunhão com a Igreja, do antigo rito romano da Santa Missa, um tesouro litúrgico da Igreja, que santificou muitas gerações, usado pelos santos, e onde se preserva de modo especial a dignidade do sagrado. Os que procedem assim, e são muitíssimos no mundo inteiro, merecem o nosso louvor.

Mas o tradicionalismo que que não é fiel ao Magistério da Igreja e assim  não reconhece o Concílio Vaticano II como um dos Concílios Ecumênicos da Igreja Católica, nem aceita a sua doutrina “compreendida à luz da santa Tradição e referida ao perene Magistério da própria Igreja” (S. João Paulo II, 5/11/1979), levando em conta a qualificação teológica de cada documento, como foi estatuída pelo próprio Concílio (CDF 23/12/1982); que não aceita a validade do rito romano na forma atual quando celebrado corretamente; e que se considera exclusivamente como a verdadeira Igreja, transforma-se em uma ideologia perniciosa, heterodoxa e inaceitável.  

 

                                                                                 *Bispo da Administração Apostólica Pessoal

                                                              São João Maria Vianney

                                                                         http://domfernandorifan.blogspot.com.br/

A ESPERANÇA NA VIDA ETERNA

 

Lembrando-nos dos nossos falecidos, finados, animamo-nos com a virtude da esperança. “Esta é, de fato, uma palavra central da fé bíblica, a ponto de, em várias passagens, ser possível intercambiar os termos ‘fé’ e ‘esperança’. Assim, a Carta aos Hebreus liga estreitamente a ‘plenitude da fé’ (10,22) com a ‘imutável profissão da esperança’ (10,23). O Evangelho não é apenas uma comunicação de realidades que se podem saber, mas uma comunicação que gera fatos e muda a vida. A porta tenebrosa do tempo, do futuro, foi aberta de par em par. Quem tem esperança, vive diversamente; foi-lhe dada uma vida nova” (Bento XVI, enc. Spe Salvi, 2).

            O cristianismo não tinha trazido uma mensagem sócio revolucionária semelhante à de Espártaco, que tinha fracassado após lutas cruentas. Jesus não era Espártaco, não era um guerreiro em luta por uma libertação política, como Barrabás ou Bar-Kochba. Aquilo que Jesus – Ele mesmo morto na cruz – tinha trazido era algo de totalmente distinto: o encontro com o Senhor de todos os senhores, o encontro com o Deus vivo e, deste modo, o encontro com uma esperança que era mais forte do que os sofrimentos da escravatura e, por isso mesmo, transformava a partir de dentro a vida e o mundo” (idem ib. 4).

            No décimo primeiro capítulo da Carta aos Hebreus (v. 1), encontra-se, por assim dizer, uma certa definição da fé que entrelaça estreitamente esta virtude com a esperança... A fé não é só uma inclinação da pessoa para realidades que hão de vir, mas estão ainda totalmente ausentes; ela dá-nos algo. Dá-nos já agora algo da realidade esperada, e esta realidade presente constitui para nós uma ‘prova’ das coisas que ainda não se veem. Ela atrai o futuro para dentro do presente, de modo que aquele já não é o puro ‘ainda-não’. O fato de este futuro existir, muda o presente; o presente é tocado pela realidade futura, e assim as coisas futuras derramam-se nas presentes e as presentes nas futuras” (Idem ib. 7).

            No rito do Batismo na forma tradicional, o sacerdote pergunta aos padrinhos, que respondem pelo afilhado: “Que pedes à Igreja?” A resposta: “A fé”. “E que te alcança a fé?” “A vida eterna”. A fé é a chave para a vida eterna. Fé é substância da Esperança.

“Aqui, porém, surge a pergunta: Queremos nós realmente isto: viver eternamente? Hoje, muitas pessoas rejeitam a fé, talvez simplesmente porque a vida eterna não lhes parece uma coisa desejável. Não querem de modo algum a vida eterna, mas a presente... Certamente a morte queria-se adiá-la o mais possível... ‘Sem dúvida, a morte não fazia parte da natureza, mas tornou-se natural; porque Deus não instituiu a morte ao princípio, mas deu-a como remédio. Condenada pelo pecado a um trabalho contínuo e a lamentações insuportáveis, a vida dos homens começou a ser miserável. Deus teve de pôr fim a estes males, para que a morte restituísse o que a vida tinha perdido. Com efeito, a imortalidade seria mais penosa que benéfica, se não fosse promovida pela graça’ (S. Ambrósio). Antes, ele tinha dito: ‘Não devemos chorar a morte, que é a causa de salvação universal’” (Idem ib 10).

 

        *Bispo da Administração Apostólica Pessoal

                                                                         São João Maria Vianney

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A DEFESA E A VIOLÊNCIA

                                    

            Na vida de São Pio X, lê-se que, no início da primeira guerra mundial, o imperador da Áustria pediu-lhe a bênção para a suas tropas. O Papa ordenou que lhe respondessem: “Eu abençoo a paz, não a guerra”.

            Sobre o uso das armas disse Jesus: “Quem não tiver espada, venda o manto para comprar uma” (Lc 22, 36). E: “Todos os que usam da espada, pela espada perecerão” (Mt 26, 52).

            Sobre essa questão do uso das armas, recordo a posição da Igreja sobre a legítima defesa e o desarmamento. As duas posições, aparentemente contraditórias, podem se conciliar.

A legítima defesa é doutrina claramente exposta no Catecismo da Igreja Católica: “Quem defende a sua vida não é réu de homicídio, mesmo que se veja constrangido a desferir sobre o agressor um golpe mortal... A legítima defesa pode ser não somente um direito, mas até um grave dever para aquele que é responsável pela vida de outrem...” “os detentores legítimos da autoridade têm o direito de recorrer mesmo às armas para repelir os agressores da comunidade civil confiada à sua responsabilidade” (nn.2263-67). Portanto, há a possibilidade e até a necessidade de se estar armado: a polícia, o exército, um pai de família que mora na zona rural, as autoridades e seus guarda-costas, etc.

Outra coisa é a guerra cultivada e a corrida armamentista desenfreada. Contra essas é que a Igreja se opõe: o cultivo da guerra e a violência com o uso das armas. É nesse sentido que se deve entender o que disse Dom Orlando Brandes, nosso caro Arcebispo de Aparecida: “Para ser pátria amada não pode ser pátria armada!”

Ouçamos a voz dos Papas:

      “É necessário que com seriedade e lealdade se proceda a uma limitação progressiva e adequada dos armamentos (…) Segundo a medida que se realizar o desarmamento, será preciso estabelecer meios apropriados, honrosos para todos e eficazes” (Ven. Pio XII 24/12/1941).

      “A justiça, a reta razão e o sentido da dignidade humana terminantemente exigem que se pare com essa corrida ao poderio militar, que o material de guerra, instalado em várias nações, se vá reduzindo duma parte e doutra, simultaneamente, que sejam banidas as armas atômicas; e, finalmente, que se chegue a um acordo para a gradual diminuição dos armamentos, na base de garantias mútuas e eficazes”  (S. João XXIII, Pacem in Terris, 1963).

               “Se vós quereis ser irmãos, deixai cair as armas das vossas mãos. Não se pode amar com armas ofensivas nas mãos” (S. Paulo VI, ONU, 4/10/1965)

      “A manutenção da paz mundial exige enérgica tomada de posição em favor dos direitos humanos e esforços resolutos para um desarmamento geral” (S. João Paulo II, 28/10/1982).

               O desarmamento não diz respeito unicamente aos armamentos dos Estados,

mas compromete todos os homens, chamados a desarmar o próprio coração e a ser em toda a parte construtores de paz (…) não se pode descuidar o efeito que os armamentos provocam no estado de espírito e no comportamento do homem. Com efeito, as armas por sua vez tendem a alimentar a violência” (Bento XVI, 10/4/2008).

               “Rezemos para que no mundo prevaleçam os programas de desenvolvimento e não aqueles para os armamentos” (Francisco,28/9/2018).

 

        *Bispo da Administração Apostólica Pessoal

                                                                         São João Maria Vianney

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SÍNODO E MISSÃO

 

O dia mundial das Missões, que será acontecerá no próximo domingo, data criada em 1926 pelo Papa Pio XI, é celebrado anualmente em toda a Igreja, para recordar o caráter missionário que deve sempre estar presente na ação eclesial, incentivando a todos os cristãos a se comprometerem como missionários, emissários da evangelização. O Mês de outubro é o mês das Missões. Missão é o mandato que Jesus deu à sua Igreja: “Ide e fazei discípulos todos os povos...” (Mt 28, 19).

Domingo passado, tivemos a abertura da fase do Sínodo dos Bispos em todas as dioceses, como preparação para a grande assembleia do Sínodo dos Bispos no Vaticano, em outubro de 2023, com o tema “Por uma Igreja Sinodal: Comunhão, Participação e Missão”.

Em sua mensagem para o dia das Missões deste ano, o Papa Francisco usou como lema a frase dos Apóstolos: “Não podemos deixar de afirmar o que vimos e ouvimos” (At 4, 20).

“Quando experimentamos a força do amor de Deus, quando reconhecemos a sua presença de Pai na nossa vida pessoal e comunitária, não podemos deixar de anunciar e partilhar o que vimos e ouvimos. A relação de Jesus com os seus discípulos, a sua humanidade que nos é revelada no mistério da Encarnação, no seu Evangelho e na sua Páscoa mostram-nos até que ponto Deus ama a nossa humanidade e assume as nossas alegrias e sofrimentos, os nossos anseios e angústias (cf. Conc. Ecum. Vat II, Const. past. Gaudium et spes, 22). Tudo, em Cristo, nos lembra que o mundo em que vivemos e a sua necessidade de redenção não Lhe são estranhos e também nos chama a sentirmo-nos parte ativa desta missão: ‘Ide às saídas dos caminhos e convidai todos quantos encontrardes’ (cf. Mt 22, 9). Ninguém é estranho, ninguém pode sentir-se estranho ou afastado deste amor de compaixão”.

A história da evangelização tem início com uma busca apaixonada do Senhor, que chama e quer estabelecer com cada pessoa, onde quer que esteja, um diálogo de amizade (cf. Jo 15, 12-17). Os Apóstolos são os primeiros que nos referem isso, lembrando inclusive a hora do dia em que O encontraram: ‘Eram as quatro da tarde’ (Jo 1, 39). A amizade com o Senhor, vê-Lo curar os doentes, comer com os pecadores, alimentar os famintos, aproximar-Se dos excluídos, tocar os impuros, identificar-Se com os necessitados, fazer apelo às bem-aventuranças, ensinar de maneira nova e cheia de autoridade, deixa uma marca indelével, capaz de suscitar admiração e uma alegria expansiva e gratuita que não se pode conter. Como dizia o profeta Jeremias, esta experiência é o fogo ardente da sua presença ativa no nosso coração que nos impele à missão, mesmo que às vezes implique sacrifícios e incompreensões (cf. 20, 7-9). O amor está sempre em movimento e põe-nos em movimento, para partilhar o anúncio mais belo e promissor: ‘Encontramos o Messias’ (Jo 1, 41)”.

“Como os apóstolos e os primeiros cristãos, também nós exclamamos com todas as nossas forças: ‘não podemos deixar de afirmar o que vimos e ouvimos’ (At 4, 20)”.

 

        *Bispo da Administração Apostólica Pessoal

                                                                         São João Maria Vianney

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AOS PROFESSORES, NOSSOS MESTRES

                                 

         

Dia 15 de outubro próximo, dia de Santa Teresa de Jesus, grande mestra da vida espiritual, e exatamente por isso, é comemorado o dia do professor. Aos mestres, todo o nosso carinho. Deles dependem todos os outros profissionais.

Deixo aqui consignada a minha saudação e gratidão a todos os que se dedicam a essa nobre e benemérita carreira, difícil, mas nem sempre reconhecida e condignamente gratificada. Mais do que uma profissão, educar é uma arte, uma vocação e uma missão: formar, conduzir crianças, jovens e adultos no caminho da verdade, sugerindo opiniões conscientes, aconselhando e tornando-se amigos e irmãos dos seus alunos. Que Deus os abençoe e lhes dê coragem, paciência e perseverança nessa sua verdadeira missão. Missionários da educação!

A melhor definição de educação nós a encontramos no Direito Canônico, conjunto de normas da Igreja (cânon 795): é a formação integral da pessoa humana, dirigida ao seu fim último e, ao mesmo tempo, ao bem comum da sociedade, de modo que as crianças e jovens possam desenvolver harmonicamente seus dotes físicos, morais e intelectuais, adquirir um sentido mais perfeito da responsabilidade e um uso correto da liberdade, preparando-se para participar ativamente da vida social. Que missão nobre, sublime e difícil a do professor-educador! Indicando aos alunos o sentido da vida, ele vai ajudá-los a dominar seus instintos e a dirigi-los pela razão, a desenvolver o conjunto de suas faculdades, a combater as más paixões e desenvolver as boas, a adquirir o domínio de si e a orientar seus sentimentos, levando em conta as diversas fases da vida e as características do seu temperamento, formando assim sua personalidade e seu caráter. Sendo assim, o mestre é cooperador da Graça de Deus, que, como Pai, só quer o bem dos seus filhos. 

Recordo algumas célebres citações que envolvem educação: “Ser-se-á tudo ou nada, conforme a educação recebida” (Clemente XIV). “Educação, o teu nome é paciência” (Marcel Prévost). “Pegam-se mais moscas com uma gota de mel do que com um barril de vinagre” (São Francisco de Sales). “Não há um só de nós que não tenha em si a raiz dum santo ou dum celerado” (Lacordaire). “Educação para a vida, valores para sempre” (Lema do Colégio Três Pastorinhos). “Ser mestre não é só contar a história/ de um certo Pedro Álvares Cabral/ Mas descobrir, de novo, a cada dia, / um mundo grande, livre, fraternal. - Ser mestre não é só mostrar nos mapas/ onde se encontra o Pico da Neblina/ Mas é subir, guiando os alunos,/ à montanha da vida que se empina... Ser mestre é ser o pai, a mãe, o amigo,/ mostrando sempre a direção da luz,/ pois a palavra Mestre – sobretudo –/ também é um dos nomes de Jesus” (Antônio Roberto Fernandes).

            A você, portanto, caro professor e querida professora, a nossa homenagem por ter recebido de Deus tão nobre e importante missão e a nossa gratidão reconhecida pelo seu trabalho, que não se mede pela produção imediata, mas por frutos, muitas vezes escondidos, que só vão aparecer ao longo da vida e que estarão escritos no livro da eternidade. “Os que educaram a muitos para a justiça brilharão como estrelas para sempre” (Dn 12,3).

 

        *Bispo da Administração Apostólica Pessoal

                                                                         São João Maria Vianney

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O PAPA NA IGREJA

 

Um dos alicerces da nossa catolicidade, da Igreja Católica, é a instituição do Papado: o Papa como sucessor de São Pedro, constituído como chefe da Igreja, aquele que tem as chaves, o poder de ligar e desligar, sancionado por Deus no Céu. Nele se cumpre a promessa que Jesus fez à sua Igreja: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28, 20).

            Repito isso porque, alguns cristãos, zelosos pela ortodoxia, no ímpeto de defender algum dos valores e riquezas da Igreja, esquecem-se desse valor primordial. Destruído esse, os outros valores se desmoronam. Perde-se o vínculo da unidade na Igreja e da união com o fundador.        

           Uma das provas de que a Igreja é indefectível, apesar das fraquezas humanas, e goza da assistência contínua e infalível do seu fundador, é a instituição do Papado, que nos dá a garantia da presença contínua dele na sua Igreja, através daquele que lhe faz as vezes, o seu Vigário. 

           Jesus escolheu como seu vigário (que lhe faz as vezes, repito) na terra, Pedro, a pedra. E Pedro, primeiro Papa, é uma figura emblemática e paradigmática. Pedro se chamava Simão. Jesus lhe mudou o nome, significando sua missão, como é habitual nas Escrituras: “Tu és Simão, filho de João. Tu te chamarás Cefas! (que quer dizer Pedro - pedra)” (Jo 1, 42). Quando Simão fez a profissão de Fé na divindade de Jesus, este lhe disse: “Não foi carne e sangue quem te revelou isso, mas o meu Pai que está no céu. Por isso, eu te digo: tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as forças do inferno não poderão vencê-la. Eu te darei as chaves do Reino dos Céus (a Igreja): tudo o que ligares na terra será ligado nos céus e tudo o que desligares na terra será desligado nos céus” (Mt 16, 13-19). Corajoso e com imenso amor pelo Senhor, sentiu também sua fraqueza humana, ao negar três vezes que o conhecia. “Simão, Simão! Satanás pediu permissão para vos peneirar, como o trigo. Eu, porém, orei por ti, para que tua fé não desfaleça. E tu, uma vez convertido, confirma os teus irmãos” (Lc 22, 31-32).  E Pedro, depois de ter chorado seu pecado, foi feito por Jesus o Pastor da sua Igreja.

São Pedro, fraco por ele mesmo, mas forte pela força que lhe deu Jesus, representa bem a Igreja de Cristo. “Cremos na Igreja una, santa, católica e apostólica, edificada por Jesus Cristo sobre a pedra que é Pedro... Cremos que a Igreja, fundada por Cristo e pela qual Ele orou, é indefectivelmente una, na fé, no culto e no vínculo da comunhão hierárquica. Ela é santa, apesar de incluir pecadores no seu seio; pois em si mesma não goza de outra vida senão a vida da graça. Se realmente seus membros se alimentam dessa vida, se santificam; se dela se afastam, contraem pecados e impurezas espirituais, que impedem o brilho e a difusão de sua santidade. É por isso que ela sofre e faz penitência por esses pecados, tendo o poder de livrar deles a seus filhos, pelo Sangue de Cristo e pelo dom do Espírito Santo” (Credo do Povo de Deus).

Nenhuma sociedade humana sobreviveria a tantas fraquezas e dificuldades, se não fosse a ação do Espírito Santo que a mantém incólume no meio de todas essas tempestades, até a consumação dos séculos.

 

        *Bispo da Administração Apostólica Pessoal

                                                                         São João Maria Vianney

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CELEBREMOS A VIDA

                                                  

           

            Do dia 1º a 7 de outubro, a Igreja no Brasil celebra a Semana Nacional da Vida, oportunidade para os católicos celebrarem esse grande dom de Deus, através da oração, da escuta da Palavra divina e da solidariedade para com os mais vulneráveis, pobres, menos favorecidos, doentes e, sobretudo, os nascituros. A Semana Nacional da Vida culmina com o Dia do Nascituro, celebrado no dia 8 de outubro.

            O tema “Família, Santuário da Vida” indica como devemos considerar a família, criação de Deus, lugar onde começa a vida, que devemos proteger e defender como grande dom de nosso Pai do Céu. Os filhos são a “bênção do Senhor”. Consequentemente, devemos avaliar o valor incomparável da pessoa humana, objeto de tanto amor de Deus, o grande bem da vida, dom sagrado e inviolável, o respeito pela vida dos outros, especialmente dos mais fracos, entre os quais se encontram, primordialmente, os nascituros, que devem ser objeto especial da nossa proteção por serem frágeis e sem defesa.

            Voltamos a insistir: diante da atual banalização da vida e de opiniões favoráveis ao aborto, defendido por inúmeras pessoas influentes, é importante lembrar que a Igreja compreende as situações difíceis que levam mães a abortar, mas, por uma questão de princípios, defende com firmeza a vida do nascituro: “É verdade que, muitas vezes, a opção de abortar reveste para a mãe um caráter dramático e doloroso: a decisão de se desfazer do fruto concebido não é tomada por razões puramente egoístas ou de comodidade, mas porque se quereriam salvaguardar alguns bens importantes como a própria saúde ou um nível de vida digno para os outros membros da família. Às vezes, temem-se para o nascituro condições de existência tais que levam a pensar que seria melhor para ele não nascer. Mas essas e outras razões semelhantes, por mais graves e dramáticas que sejam, nunca podem justificar a supressão deliberada de um ser humano inocente” (S. João Paulo II, Evangelium Vitae n. 58). O fim não justifica os meios.

E, usando da prerrogativa da infalibilidade, o mesmo Papa define: “Com a autoridade que Cristo conferiu a Pedro e aos seus sucessores, em comunhão com os Bispos – que de várias e repetidas formas condenaram o aborto e que... apesar de dispersos pelo mundo, afirmaram unânime consenso sobre esta doutrina - declaro que o aborto direto, isto é, querido como fim ou como meio, constitui sempre uma desordem moral grave, enquanto morte deliberada de um ser humano inocente. Tal doutrina, fundada sobre a lei natural e sobre a Palavra de Deus escrita, é transmitida pela tradição da Igreja e ensinada pelo Magistério ordinário e universal” (EV, 62).

            Peçamos aos santos anjos da guarda da família, especialmente das crianças, a São Miguel, São Gabriel e São Rafael, arcanjos, que protejam todas os membros de cada núcleo familiar. As crianças são as mais vulneráveis, corporal e espiritualmente: “Quem causar escândalo (levar ao pecado) a um só destes pequenos que creem em mim, melhor seria que lhe amarrassem ao pescoço uma grande mó e o lançassem ao fundo do mar” (Mt 18, 6).

 

                *Bispo da Administração Apostólica Pessoal

                                                                         São João Maria Vianney

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UNIDADE E PAZ

 

Vi certa vez um desenho gráfico animado alemão, que descrevia um jovem sobre uma ponte querendo suicidar-se. Chega, então, uma jovem tentando convence-lo a não fazer aquilo. Ela lhe diz: Você cré em Deus? Ele responde: sim. Ela se aproxima mais dele e diz: “Oh! Glória! Que bom!” Você é cristão?” Ela se aproxima mais dele, que responde: “Sou sim”. Aleluia! diz ela, eu também. E se aproxima mais. Você é de qual denominação? Ele diz: “De tal”. Ela exclama: “Aleluia! Eu também”. E chega mais para perto. Ela insiste: “Mas de qual convenção: a do ano 1800 e tanto ou de 1900 e tanto?” Ele responde: “A de 1900 e tanto”. Ela, já do lado dele, empurra-o, gritando: “Morre, desgraçado, eu sou da convenção de 1800 e tanto!

            Essa ficção retrata como a paixão e o fanatismo podem cegar as pessoas, nas divisões e ideologias. Ausência total de compreensão e caridade, numa total rejeição de qualquer diferença. Espírito sectário. E isso lamentavelmente existe também entre os cristãos.

            A Epístola aos Gálatas, tema da nossa meditação neste mês da Bíblia, nos ensina essa união na caridade, virtude cristã por excelência, que procede da fé. “Com efeito, em Jesus Cristo, o que vale é a fé agindo pelo amor: “fides, quae per caritatem operatur” (Gl 5, 6).

            Fariseu de nascimento e formação teológica, Paulo Apóstolo se converteu ao cristianismo, depois do seu encontro pessoal com o Senhor Jesus na estrada de Damasco. Sendo judeu de cultura greco-romana, ele se formou nas comunidades helenistas de Damasco, sendo missionário em Antioquia, na Síria, onde havia judeus helenistas e gentios convertidos, uma realidade multicultural e multirracial. Daí terem surgidos desavenças que ele procura corrigir: “Não há mais judeu ou grego, escravo ou livre, homem ou mulher, pois todos vós sois um só em Cristo Jesus” (Gl 3, 28). “Mas se vos mordeis e vos devorais uns aos outros, cuidado para não serdes consumidos uns pelos outros!” (Gl 5, 15).

            “... infelizmente, este ‘morder e devorar’ existe também hoje na Igreja como expressão duma liberdade mal interpretada. Porventura será motivo de surpresa saber que nós também não somos melhores do que os Gálatas? Que pelo menos estamos ameaçados pelas mesmas tentações? Que temos de aprender sempre de novo o reto uso da liberdade? E que devemos aprender sem cessar a prioridade suprema: o amor?” (Bento XVI, carta aos Bispos 10-3-2009).

            Essa ideia de unidade e paz na comunidade, São Paulo a reforça na Epístola à Igreja em Corinto, onde também havia divisões e rixas. Ele queria combater todo o espírito sectário, que pode aparecer entre os cristãos: “Irmãos, eu vos exorto, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, a que estejais todos de acordo no que falais e não haja divisões entre vós. Pelo contrário, sede bem unidos no mesmo pensamento e na mesma intenção... Informaram-me que está havendo discórdias entre vós. Digo isso, porque cada um de vós diz: ‘Eu sou de Paulo’; outro: ‘Eu sou de Apolo’; outro: ‘eu sou de Cefas’; outro: ‘Eu sou de Cristo’. Acaso Cristo está dividido? Acaso foi Paulo crucificado por vós? Ou foi no nome de Paulo que fostes batizados?...” (1Cor 1, 10-13).

           

                *Bispo da Administração Apostólica Pessoal

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