OBRIGADO, BENTO XVI!


Beatíssimo Padre, junto com a compreensão pelo seu ato, venho expressar-lhe, com toda a sinceridade, minha imensa gratidão. Um dia, o mundo inteiro também lhe será grato e reconhecerá o seu valor!
Obrigado, Santo Padre, por todo o seu Pontificado, tão rico em doutrinas que solidificaram a nossa fé e aumentaram a confiança devida ao Magistério da Igreja. Obrigado pelas três magníficas encíclicas sobre a Caridade, a Esperança e a Doutrina Social da Igreja, e pela proclamação do Ano da Fé. Obrigado, Santo Padre, por nos esclarecer sobre a correta hermenêutica com a qual devemos receber o Concílio Vaticano II, de cuja abertura comemoramos os 50 anos, não em ruptura com o passado da Igreja, mas em plena consonância com sua Tradição. Obrigado, Santo Padre, pelas Exortações Apostólicas, especialmente a “Verbum Domini”, sobre a Palavra de Deus na vida e na missão da Igreja, e a “Sacramentum Caritatis”, sobre a Eucaristia, fonte e ápice da vida e da missão da Igreja.
Obrigado, Santo Padre, pelo incentivo dado à Liturgia corretamente celebrada, com o seu exemplo na arte de celebrar piedosamente, com todo o respeito devido ao Santo Sacrifício da Missa, incrementando desse modo a verdadeira e desejada reforma litúrgica. Obrigado, Santo Padre, pelas suas Cartas Apostólicas, especialmente, o motu proprioSummorum Pontificum”, pelo qual Vossa Santidade, desejando que haja a “paz litúrgica na Igreja”, liberou como legítimo para o mundo inteiro o uso da forma antiga da liturgia romana, e o motu proprio “Lingua Latina”, com o qual V. S. instituiu a Pontifícia Academia de Latinidade, para incrementar o estudo do latim, língua oficial da Igreja. Obrigado, Santo Padre, pela Constituição Apostólica “Anglicanorum coetibus”, criando mecanismos canônicos para receber os Anglicanos na plena comunhão da Igreja, exemplo concreto do mais sadio ecumenismo.
Obrigado, Santo Padre, pelo grande exemplo de humildade que nos deu com a sua renúncia. Vossa Santidade começou o seu pontificado com uma declaração de humildade e confiança em Deus: “Depois do grande Papa João Paulo II, os Senhores Cardeais elegeram-me, simples e humilde trabalhador na vinha do Senhor. Consola-me saber que o Senhor sabe trabalhar e agir também com instrumentos insuficientes. E, sobretudo, recomendo-me às vossas orações. Na alegria do Senhor Ressuscitado, confiantes na sua ajuda permanente, vamos em frente. O Senhor ajudar-nos-á. Maria, sua Mãe Santíssima, está conosco. Obrigado!” E o termina com a renúncia, ato heroico de humildade, desapego e confiança. Humildade ao reconhecer a própria fraqueza - “eu tenho de reconhecer minha incapacidade de adequadamente cumprir o ministério a mim confiado” – e ao pedir perdão – “peço perdão por todos os meus defeitos”. Desapego do cargo e da elevada posição, não se achando necessário, mas apenas humilde servidor. E tranquila confiança, baseada na Fé, pela certeza de que quem governa a barca de Pedro é o próprio Senhor, que proverá sempre a sua Igreja: “as portas do inferno não prevalecerão contra ela”. Santo Padre, reze por nós e conte sempre com nossas orações. 

POR TRÁS DA RENÚNCIA...


A Igreja é repleta de mistérios, sendo ela mesma um mistério, como um sacramento, no qual uma coisa é o que aparece, outra é o que realmente é. E a Igreja, à semelhança de seu Divino Fundador, tem sua parte divina e humana. Divina na sua instituição, doutrina e graça salvífica que nos transmite, e humana nos seus membros, muitas vezes pecadores, ela “é ao mesmo tempo santa e sempre necessitada de purificação” (L.G. 8).
            Pessoas nem sempre imbuídas de espírito de Fé especulam os problemas da Igreja católica, demasiadamente focados na sua parte humana, organizacional e estrutural, esquecendo-se da parte divina, muito mais importante, e a presença nela do seu Fundador, que a assiste através do Divino Espírito Santo. Mas, há já dois mil anos, ela “continua o seu peregrinar entre as perseguições do mundo e as consolações de Deus” (L.G. 8).
            Mas afinal o que há por trás da renúncia de Bento XVI. Além dos motivos visíveis, apontados pelo próprio Papa – “forças já não idôneas, vigor do corpo e do espírito, devido à idade avançada” – existem outros fatores ocultos. Todos estão curiosos e eu vou lhes revelar o que realmente está por detrás dessa atitude do Papa.
            Só é capaz de renunciar a esse cargo de tal importância e influência quem, olhando muito além das perspectivas humanas, tem uma profunda Fé em Deus, na divindade da sua Igreja e na assistência daquele do qual o Papa é o representante na terra: “confiemos a Santa Igreja à solicitude do seu Pastor Supremo, Nosso Senhor Jesus Cristo” (Bento XVI).
            E como a Fé é a base da Esperança e da confiança, por trás dessa renúncia há uma sublime confiança em Deus: a barca de Pedro não soçobrará nas ondas desse mar tempestuoso, nem depende de nós para isso: “as forças do Inferno não poderão vencê-la” (Mt 16, 18).
Por trás dessa renúncia, vemos um grande amor a Deus e à sua Igreja: “uma decisão de grande importância para a vida da Igreja”, como disse ele.  
Um grande desapego do alto cargo e influente posição, declarando-se apenas um humilde servidor, uma profunda humildade, não se julgando necessário e reconhecendo a própria fraqueza e incapacidade, de corpo e de espírito, para exercer adequadamente o ministério petrino, e ao pedir perdão – “peço perdão por todos os meus defeitos”.
Ao lado do heroísmo do Beato João Paulo II de levar o sofrimento pessoal até o fim, temos o grande heroísmo de Bento XVI de renunciar por amor à Igreja, para evitar qualquer sofrimento para ela. No começo da Igreja, no tempo das perseguições, houve cristãos que resolveram ficar onde estavam e enfrentar o martírio. Exemplo de fortaleza. Houve outros cristãos, que temendo a perseguição e a própria perseverança, acharam melhor fugir da perseguição e se refugiar no deserto, para rezar e fazer penitência, longe do mundo. Exemplo de humildade. Houve santos de ambas as posturas, os que enfrentaram e os que se retiraram. Heroísmo de fortaleza e heroísmo de humildade, frutos da Fé. A Igreja é feita de heróis da Fé!

A JUVENTUDE SE DIVERTE...


Terminado o Carnaval, cabe alguma reflexão sobre as diversões. O Carnaval se tornou uma festa totalmente profana e nada edificante. Ao lado de desfiles deslumbrantes das escolas de samba, com todo o seu requinte, fantasias fascinantes, exposição de luxo, vaidade e também despudor, presencia-se uma verdadeira bacanal de embriaguez, orgias e festas mundanas, onde se pensa que tudo é permitido. Infelizmente, há muito tempo que o Carnaval deixou de ser apenas um folguedo popular, uma festa quase inocente, uma diversão até certo ponto sadia.
            Segundo uma teoria, a origem da palavra “carnaval” vem do latim “carne vale”, “adeus à carne”, pois no dia seguinte começava o período da Quaresma, tempo em que os cristãos se abstêm de comer carne, por penitência. Daí que, ao se despedirem da carne na terça-feira que antecede a Quarta-Feira de Cinzas, se fazia uma boa refeição, comendo carne evidentemente, e a ela davam adeus. Tudo isso, só explicável no ambiente cristão, deu origem a uma festa nada cristã. Vê-se como o sagrado e o profano estão bem próximos, e este pode contaminar aquele. Como hoje acontece com as festas religiosas, quando o profano que nasce em torno do sagrado, acaba abafando-o e profanando. Isso ocorre até no Natal e nas festas dos padroeiros das cidades e vilas. O acessório ocupa o lugar do principal, que fica prejudicado, esquecido e profanado.
Comovidos e chocados, choramos os jovens da boate de Santa Maria, rezamos por eles e lamentamos as graves negligências que causaram o desastre. Mas cabe uma reflexão de caráter geral: nos noticiários após a tragédia, pôde-se conhecer a imensa quantidade de boates ou casas noturnas que pululam nas cidades e como milhares de jovens as frequentam. E, segundo o testemunho deles, tomam bebidas alcoólicas antes, durante e depois das baladas, sem falar em outras drogas que aparecem nesses ambientes. Assim fica muito difícil ter bons reflexos em situações de perigo. Sexo, bebidas, drogas etc.: é só assim que se divertem nossos jovens? É dessa maneira que teremos uma juventude responsável, sadia, honesta e feliz, da qual virá o futuro? É só no pecado que conseguem se alegrar? É uma boa reflexão para a Campanha da Fraternidade deste ano, cujo tema é “Fraternidade e Juventude”, que coincide com a Quaresma.
É claro que existe uma diversão sadia. São Francisco de Sales reflete: “A necessidade dum divertimento honesto, para dar certa expansão ao espírito e alívio ao corpo, é universalmente reconhecida... Muito defeituosa é aquela severidade de alguns espíritos rudes, que nunca querem permitir um pouco de repouso nem para si nem para os outros”. Mas ele recomenda a modéstia e a temperança nas diversões, guardando sempre o coração longe do pecado. E completava: “O barulho não faz bem e o bem não faz barulho”.
            Por isso, durante o Carnaval, os cristãos mais conscientes preferem se retirar do tumulto e se entregar ao recolhimento e à oração. Uma boa preparação para a Quaresma, tempo de penitência e oração, pelos jovens e pela Igreja, sobretudo depois da triste notícia da próxima renúncia do Papa. 

PEQUENAS NEGLIGÊNCIAS...


São Leonardo de Porto Maurício, missionário franciscano e exímio pregador, falando sobre a grande responsabilidade dos pais de família, nos conta uma curiosa parábola: certo pastor de cabras foi preso e lançado na prisão sem saber por quê. E ele dizia a si mesmo: eu não fiz mal algum, eu rezava, tocava minha flauta, colhia flores e descansava à sombra de uma árvore. Que mal há nisso? Levado ao julgamento, ele protestava: vocês estão me tomando por outra pessoa, eu não fiz mal algum! E no tribunal lhe perguntaram: você não é o pastor tal, guardião daquele rebanho? Sim, respondeu ele. Você está condenado às galés. Mas por que? Enquanto você tocava sua flauta e descansava, suas cabras romperam a cerca, entraram na plantação do vizinho e destruíram tudo. Elas são animais irracionais. Mas você era o guardião e responsável: crime de omissão. Pela sua negligência, está condenado a pagar todos os prejuízos.
            Pequenas negligências podem causar grandes estragos. Pequenas faltas de atenção podem causar grandes desastres. Pequenas ao nosso julgamento, mas são enormes.
            Ainda estamos abalados com a tragédia de Santa Maria, onde mais de duzentos jovens perderam a vida. E a causa? Claro que ninguém teve a intenção de mata-los. Mas houve negligências, omissões, pequenas na aparência, mas com tão grandes consequências! Na forração acústica do teto, trocaram, uma espuma por outra, inflamável... Os encarregados de fazer a vistoria a deixaram para depois... A fiscalização não foi atenta... Usaram fogos inapropriados para o local... Não houve preocupação com um possível caso de pânico..., etc. Um acúmulo de “pequenas” negligências que causou tão grande tragédia. E se tornaram graves.
            O mesmo já aconteceu em inúmeros desastres. No circo de Niterói, cobriram a lona com cera, para que ficasse impermeável, mas se tornou inflamável em alguns segundos. No Titanic, o telegrafista não se importou com as insistentes advertências dos outros navios sobre a presença de perigosos icebergs. Alguém esqueceu um aparelho ligado no prédio que depois virou uma fornalha. Uma pequena distração do motorista, uma conversa ao celular, uma inadvertência do comandante do transatlântico, um cochilo do piloto do avião que depois ficou ingovernável, etc. Pequenas negligências, grandes desastres! A irresponsabilidade é falta grave.
            A “Imitação de Cristo” nos lembra o adágio: “Age quod agis”, faze bem aquilo que fazes. O zelo é o contrário da negligência. É preciso senso de responsabilidade, seriedade no cumprimento do dever do qual se é encarregado, atenção e cuidado, para não sermos culpados de grandes prejuízos. Isso se aplica a toda classe de deveres e trabalhos de grande responsabilidade: pais, poderes públicos, médicos, enfermeiros, motoristas, aviadores, mecânicos, etc. O pecado de omissão pode ser tão grave quanto o de uma ação má.
E se os homens não nos responsabilizarem, não ficaremos imunes à justiça divina. Jesus promete o prêmio eterno a quem for fiel nas pequenas coisas e adverte que prestaremos contas no dia do Juízo de qualquer palavra ociosa que tivermos proferido.   

EVANGELIZAR O MUNDO DOS NEGÓCIOS


Acabo de participar, a convite, de um Congresso internacional para Bispos, de 23 a 26 de janeiro, nos Estados Unidos, promovido pelo Acton Institute, instituição universitária voltada para estudos de economia e sociologia à luz da Doutrina social da Igreja. O congresso deste ano intitulou-se “A Nova Evangelização: o desafio global da Igreja”. A presença de 50 Bispos, entre os quais 2 cardeais e 5 arcebispos, de 25 países, mostrou a universalidade do congresso e a múltipla representação da Igreja. Enriquecedor e instrutivo é esse contato que tivemos com Bispos, por exemplo, de Gana, do Quênia, de Uganda, de Moçambique, de Zâmbia, da Índia, do Japão, da Lituânia, da Holanda, da Espanha, da França, além dos de toda a América.
            Na palestra inicial, o Cardeal Robert Sarah, da Guiné, presidente do Conselho Pontifício “Cor Unum”, falou sobre “A Nova Evangelização e vivendo uma Vida Autêntica de Caridade”, explanando como a Igreja deve atuar no atual contexto socioeconômico e cultural, sobretudo evangelizando na caridade.
            Muito interessante foi a palestra de Dr. Samuel Gregg, doutor em Filosofia da Universidade de Oxford e autor de vários livros, que versou sobre “Evangelização, a Igreja e As Lutas pela Liberdade Religiosa”, quando deu uma impressionante estatística das perseguições atuais aos cristãos, relatando que, só em 2012, 150.000 cristãos foram assassinados por causa de sua fé cristã.
            Discorrendo sobre a Justiça Social, o Dr. Michael Matheson Miller, graduado em várias universidades e pesquisador em países da Europa, Ásia e África, falou sobre “Doutrina Social da Igreja, a Nova Questão Social e a Nova Evangelização”, enfocando sobre o individualismo, o secularismo cultural, a escravatura da tecnologia, mostrando que a centralização política promove a decomposição da solidariedade, assim como o capitalismo corrupto mantém os pobres desenraizados, fora do mercado de trabalho.
            Dom Jean Lefitte, graduado em ciências políticas, secretário do Pontifício Conselho para a Família, falou sobre “O Bispo e a Família”, mostrando o atual desafio que nos apresenta a situação da família hoje: diante de uma nova moral é preciso uma nova evangelização da família.  
            Em sua palestra, o Dr. Frank Hanna, advogado, banqueiro e empresário, falou-nos sobre “A Evangelização no Mundo dos Negócios”, ressaltando a importância dos valores cristãos e éticos para que as empresas e instituições financeiras funcionem corretamente.
O Padre Roberto Sirico, co-fundador e diretor do Acton, explicou sobre a correta maneira de praticar a caridade para com os pobres, oferecendo-lhes condições de trabalho digno e honesto, e não apenas donativos, que podem faze-los acomodados e sem dignidade.
 Os valores cristãos mostram-se assim a solução para todos os problemas atuais, morais, sociais, políticos e econômicos. Transmiti-los ao mundo de hoje é tarefa da nova Evangelização.