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CORRUPÇÃO, MAL ANTIGO

           A corrupção financeira, ou seja, o conseguir ilicitamente benefícios através do dinheiro e vice-versa, provém da ambição humana do poder. Pois o dinheiro traz poder. E o poder é o que atrai, seduz, pois, com ele, pensa-se, consegue-se tudo. Quanta gente, pelo dinheiro, por amor do cargo ou posição, pela sede de poder, trai sua consciência e acaba prevaricando!
Mas, sempre há condições, na maioria das vezes ilícitas, para se conseguir com facilidade, sem trabalho, dinheiro e poder. Não foi essa a tentação do Diabo a Jesus: “Tudo isso te darei (todos os reinos do mundo e a sua glória) se, prostrando-te diante de mim, me adorares” (Mt 4, 9)?
“Feliz o homem que não correu atrás do ouro, que não colocou sua esperança no dinheiro! Quem é esse para que o felicitemos?” (Eclo 31, 8-9).  É a exclamação do livro do Eclesiástico. “Ninguém pode servir a dois senhores... Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24), nos ensina Jesus. Servir ao dinheiro significa transforma-lo em deus, com disposição de a ele tudo sacrificar: honra, consciência, virtude, o próximo, etc.
“Aqueles que ambicionam tornarem-se ricos caem nas armadilhas do demônio e em muitos desejos insensatos e nocivos, que precipitam os homens no abismo da ruína e da perdição. Porque a raiz de todos os males é o amor do dinheiro. Acossados pela cobiça, alguns se desviaram da fé e se enredaram em muitas aflições” (I Tim 6,9-10), nos adverte São Paulo.
O exemplo clássico de ambição, de “servir ao dinheiro” foi Judas, que vendeu Jesus aos seus inimigos. Judas certamente não queria a morte de Jesus. Queria sim lucrar com sua entrega, com seu poder, vendendo-o aos inimigos, recebendo deles o dinheiro, pensando que Jesus iria deles se libertar, como já o fizera antes. O amor do dinheiro o cegou a ponto de não enxergar a loucura que estava praticando e levando-o depois ao desespero.
Outro exemplo de ambição do poder, ligado ao dinheiro, também ocorreu na Paixão de Cristo com Pilatos, o governador romano a quem competia julgar Jesus. Declarando por nove vezes sua inocência e tentando libertá-lo, sucumbiu ao terrível argumento dos inimigos de Jesus: a perda do cargo e, consequentemente, do dinheiro a ele inerente: se Pilatos libertasse Jesus, eles o acusariam perante César, e seu cargo correria perigo. Então Pilatos, contra a sua convicção, deixou-se vencer pela força do dinheiro e traiu sua consciência condenando Jesus, por ele proclamado inocente. Corrupto! Também corruptos foram os chefes dos sacerdotes quando deram propina aos guardas para que mentissem sobre a Ressurreição de Jesus (Mt 28,12-15).

Chamamos de corruptos os políticos, mas nos esquecemos de que corrupto é alguém que é corrompido por outro. Esse outro, que corrompe os políticos, acaba sendo o povo que o elege. Pois elegem por interesse, elegem aquele que os beneficia ou poderá beneficiar, votam quando vão lucrar alguma coisa. Então, só os políticos é que são corruptos ou é também o povo, nós mesmos, que os elegemos na base da corrupção?  

A AMBIÇÃO DO PODER E O PODER DA AMBIÇÃO

         O lema da Campanha da Fraternidade desse ano – “Eu vim para servir” - foi tirado do discurso de Jesus sobre o modo de mandar, liderar e chefiar que ele desejava fosse adotado na sua Igreja: “Sabeis que os que são considerados chefes das nações as dominam e os seus grandes fazem sentir seu poder. Entre vós não deve ser assim. Quem quiser ser o maior entre vós seja aquele que vos serve, e quem quiser ser o primeiro entre vós seja o escravo de todos. Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a vida em resgate por muitos” (Mc 10, 42-45).
       Jesus não está negando o poder que deve haver na hierarquia da sua Igreja, mas explicando o modo de exercê-lo. A modo de serviço. Servir, em latim, é “ministrare”. Daí vem a palavra “ministro”, aquele que serve. O sacerdote é ministro, servidor dos fiéis, o Bispo, ministro para os seus sacerdotes, isto é, servidor, e o Papa, desde tempos imemoriais, assina “servus servorum Dei”, servo dos servos de Deus. E Jesus nos deu o exemplo: “Sendo Deus por natureza, não se apegou ao ser igual a Deus, mas despojou-se, assumindo a forma de escravo” (Fl 2, 6-7). E São Paulo pede que tenhamos esse mesmo sentir e pensar.
       Concomitante com a ambição do poder, existe a ambição de possuir. Infelizmente, nos ambientes religiosos, tem sido cultivada a teologia da prosperidade, que propaga a falsa ideia de que ser rico e próspero é ser abençoado por Deus, ser pobre é ser por ele amaldiçoado. A prosperidade é apresentada como prova de fidelidade a Deus. A Fé se torna um instrumento para se obter saúde, riqueza, sucesso e poder terrenos. Os males, as doenças a pobreza são produtos do Diabo. Deturpando, pois, o sentido verdadeiramente evangélico, essa teologia da prosperidade cultiva o individualismo e o interesse próprio, o oposto do verdadeiro cristianismo.
             Erradamente, reforçam sua tese dizendo que temos que viver como “filhos do Rei”, isto é, na prosperidade material. Transforma-se assim a religião em puro materialismo, falsamente baseado na Sagrada Escritura. É claro que não faltam citações que corroborem essa tese, mas todas do Antigo Testamento, não do Novo, que é a plenitude da Revelação.
            Jesus, o verdadeiro filho do Rei, Rei ele mesmo, veio “para servir”. Nasceu pobrezinho numa manjedoura em Belém, viveu humilde e pobre em Nazaré, numa família simples. Na sua vida pública, viveu sem bens materiais: “As raposas têm tocas e os pássaros do céu têm ninhos; mas o Filho do Homem não tem onde repousar a cabeça” (Mt 8, 20). “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6, 24). “Em verdade vos digo, dificilmente um rico entrará no Reino dos Céus. E digo ainda: é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus” (Mt 19, 20).
        Não é condenável possuir riquezas, desde que honestamente.  O direito de propriedade é defendido por lei divina (7º Mandamento). Mas “sobre toda propriedade particular pesa sempre uma hipoteca social, para que os bens sirvam ao destino geral que Deus lhes deu” (São João Paulo II, 29-1-1979), ou seja, se se tem dinheiro é preciso usá-lo para o bem do próximo e da sociedade.  O que é reprovável é a desenfreada busca do dinheiro e a ambição de ficar rico. “A raiz de todos os males é o amor ao dinheiro. Por se terem entregue a ele, alguns se desviaram da fé e se afligem com inúmeros sofrimentos” (1Tm 6, 10). E, pior, querer usar da religião como meio de se enriquecer e prosperar.

 É uma visão, portanto, deturpada do cristianismo a teologia da prosperidade, com sua visão individualista e materialista, instrumentalizando a religião para benefício material próprio. O resumo da mensagem cristã é: “Não temos aqui cidade permanente, mas estamos à procura daquela está para vir” (Hb 13, 14).