O BOM PASTOR

Em sua mensagem “Urbi et Orbi” pela Páscoa deste ano, o Papa Francisco nos exorta: “Hoje, em todo o mundo, a Igreja renova o anúncio maravilhoso dos primeiros discípulos: Jesus ressuscitou!’ – ‘Ressuscitou verdadeiramente, como havia predito!’ A antiga festa de Páscoa, memorial da libertação do povo hebreu da escravidão, alcança aqui o seu cumprimento: Jesus Cristo, com a sua ressurreição, libertou-nos da escravidão do pecado e da morte e abriu-nos a passagem para a vida eterna”.
“Todos nós, quando nos deixamos dominar pelo pecado, perdemos o caminho certo e vagamos como ovelhas perdidas. Mas o próprio Deus, o nosso Pastor, veio procurar-nos e, para nos salvar, abaixou-Se até à humilhação da cruz. E hoje podemos proclamar: ‘Ressuscitou o bom Pastor, que deu a vida pelas suas ovelhas e Se entregou à morte pelo seu rebanho. Aleluia!’ Através dos tempos, o Pastor ressuscitado não Se cansa de nos procurar, a nós seus irmãos extraviados nos desertos do mundo. E, com os sinais da Paixão – as feridas do seu amor misericordioso –, atrai-nos ao seu caminho, o caminho da vida. Também hoje Ele toma sobre os seus ombros muitos dos nossos irmãos e irmãs oprimidos pelo mal nas suas mais variadas formas. O Pastor ressuscitado vai à procura de quem se extraviou nos labirintos da solidão e da marginalização; vai ao seu encontro através de irmãos e irmãs que sabem aproximar-se com respeito e ternura e fazer sentir àquelas pessoas a voz d’Ele, uma voz nunca esquecida, que as chama à amizade com Deus”.
“Cuida de quantos são vítimas de escravidões antigas e novas: trabalhos desumanos, tráficos ilícitos, exploração e discriminação, dependências graves. Cuida das crianças e adolescentes que se veem privados da sua vida despreocupada para ser explorados; e de quem tem o coração ferido pelas violências que sofre dentro das paredes da própria casa...”.
 “Nas vicissitudes complexas e por vezes dramáticas dos povos, que o Senhor ressuscitado guie os passos de quem procura a justiça e a paz; e dê aos responsáveis das nações a coragem de evitar a propagação dos conflitos e deter o tráfico das armas”.
“Concretamente nos tempos que correm, sustente os esforços de quantos trabalham ativamente para levar alívio e conforto à população civil na Síria, a amada e martirizada Síria, vítima duma guerra que não cessa de semear horrores e morte. Ontem mesmo teve lugar o último ataque vergonhoso aos refugiados em fuga, que deixou numerosos mortos e feridos. Conceda paz a todo o Médio Oriente, a começar pela Terra Santa, bem como ao Iraque e ao Iémen...”.
“... Que seja possível construir pontes de diálogo, perseverando na luta contra o flagelo da corrupção e na busca de soluções pacíficas viáveis para as controvérsias, para o progresso e a consolidação das instituições democráticas, no pleno respeito pelo estado de direito”...
          “Ele, que venceu as trevas do pecado e da morte, conceda paz aos nossos dias”.

A VITÓRIA DE CRISTO

      Estamos na semana da Páscoa, maior festa do calendário cristão, celebração da gloriosa Ressurreição de Jesus Cristo, a sua vitória sobre o pecado, sobre a morte e sobre a aparente derrota da Cruz. Cristo ressuscitou glorioso e triunfante para nunca mais morrer, dando-nos o penhor da nossa vitória e da nossa ressurreição. Choramos a sua Paixão e nos alegramos com a vitória da sua Ressurreição. Para se chegar a ela, para vencer com ele, aprendemos que é preciso sofrer com ele: “Quem quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16,24). “Que por sua Paixão e Cruz cheguemos à glória da Ressurreição!”. A morte não é o fim. O Calvário não foi o fim. Foi o começo de uma redenção, de uma nova vida. A Páscoa é, portanto, a festa da alegria e a da esperança na vitória futura. 
Como figura, esta festa já existia no Antigo Testamento. Era a celebração da libertação da escravidão do Egito, na qual sofreram os israelitas, povo de Deus, por muitas gerações, sendo libertados por Moisés que, por ordem do Senhor, fulminou os egípcios com as célebres dez pragas. Na última dessas pragas, na passagem do anjo de Deus (Páscoa quer dizer passagem, em hebraico), os egípcios foram castigados com a morte dos seus primogênitos, ao passo que os hebreus foram poupados por causa do sangue do cordeiro que imolaram, conforme o Senhor havia prescrito. Todos os anos, em ação de graças, eles repetiam, por ordem de Deus, essa ceia de Páscoa: milhares de cordeiros eram imolados na sexta-feira antes da Páscoa.
Assim o cordeiro ficou sendo por excelência a vítima do sacrifício. São João Batista, ao apresentar Jesus ao povo, disse: “Eis o Cordeiro de Deus, aquele que tira o pecado do mundo!” Esse Cordeiro de Deus, numa sexta-feira antes da Páscoa foi também imolado, realizando, com o seu sangue, a libertação do mundo do pecado, ressuscitando no terceiro dia. Essa é a nossa festa da Páscoa, a festa da Ressurreição de Cristo, o verdadeiro Cordeiro de Deus, o fim do Antigo Testamento e o começo da nova Aliança entre Deus e os homens, o início da Igreja.
“Se se considera a importância que tem o sábado na tradição do Antigo Testamento, baseada no relato da criação e no Decálogo, torna-se evidente que só um acontecimento com uma força extraordinária poderia provocar a renúncia ao sábado e sua substituição pelo primeiro dia da semana. Só um acontecimento que se tivesse gravado nas almas com uma força fora do comum poderia haver suscitado uma mudança tão crucial na cultura religiosa da semana. Para isso não teriam bastado as meras especulações teológicas. Para mim, a celebração do Dia do Senhor, que distingue a comunidade cristã desde o princípio, é uma das provas mais fortes de que aconteceu uma coisa extraordinária nesse dia: o descobrimento do sepulcro vazio e o encontro com o Senhor Ressuscitado” (Bento XVI – Jesus de Nazaré II).
Feliz e Santa Páscoa para todos: que todos fiquemos alegres com a esperança que Jesus Cristo nos dá com o seu triunfo, penhor da nossa vitória um dia no Céu, onde todos esperamos nos encontrar.

FELIZ PÁSCOA!


A SEMANA MAIOR

        Nesta semana mais importante do ano, celebramos o mistério pascal, recordando a Paixão, Morte e, na Páscoa, a Ressurreição de Jesus Cristo, sua vitória sobre o pecado e a morte. Neste tempo, “manteremos o olhar fixo sobre Jesus Cristo: nele encontra plena realização toda a ânsia e anelo do coração humano. A alegria do amor, a resposta ao drama da tribulação e do sofrimento, a força do perdão diante da ofensa recebida e a vitória da vida sobre o vazio da morte... Nele, morto e ressuscitado para a nossa salvação, encontram plena luz os exemplos de fé que marcaram esses dois mil anos da nossa história da salvação” (Porta Fidei).
 “A missão, que trouxe Jesus entre nós, atinge o seu cumprimento no mistério pascal. Do alto da cruz, donde atrai todos a Si (Jo 12, 32), antes de ‘entregar o Espírito’, Jesus diz: ‘Tudo está consumado’ (Jo 19, 30). No mistério da sua obediência até à morte, e morte de cruz (Fl 2, 8), cumpriu-se a nova e eterna aliança. Na sua carne crucificada, a liberdade de Deus e a liberdade do homem juntaram-se definitivamente num pacto indissolúvel, válido para sempre. Também o pecado do homem ficou expiado, uma vez por todas, pelo Filho de Deus (Hb 7, 27; 1 Jo 2, 2; 4, 10)... No mistério pascal, realizou-se verdadeiramente a nossa libertação do mal e da morte” (Bento XVI, Sacramentum Charitatis, 9).
“Do paradoxo da Cruz surge a resposta às nossas interrogações mais inquietantes. Cristo sofre por nós: Ele assume sobre si os sofrimentos de todos e redime-os. Cristo sofre conosco, dando-nos a possibilidade de partilhar com Ele os nossos sofrimentos. Juntamente com o de Cristo, o sofrimento humano torna-se meio de salvação... ‘Agora alegro-me nos sofrimentos que suporto por vós e completo na minha carne o que falta às tribulações de Cristo, pelo seu Corpo, que é a Igreja’ (Cl 1, 24). O sofrimento, aceito com fé, torna-se a porta para entrar no mistério do sofrimento redentor do Senhor. Um sofrimento que já não priva da paz e da felicidade, porque é iluminada pelo esplendor da ressurreição” (S. João Paulo II).
“Este é o coração pulsante do querigma apostólico, no qual ocupa um lugar central e fundamental a misericórdia divina. Nele sobressai ‘a beleza do amor salvífico de Deus manifestado em Jesus Cristo morto e ressuscitado’ (Evangelii gaudium, 36). Então a Misericórdia ‘exprime o comportamento de Deus para com o pecador, oferecendo-lhe uma nova possibilidade de se arrepender, converter e acreditar’ (Misericordiӕ Vultus, 21)
Assim, a Quaresma, cujo término é a Semana Santa, “é um novo começo, uma estrada que leva a um destino seguro: a Páscoa de Ressurreição, a vitória de Cristo sobre a morte. E este tempo não cessa de nos dirigir um forte convite à conversão: o cristão é chamado a voltar para Deus «de todo o coração» (Jl 2, 12), não se contentando com uma vida medíocre, mas crescendo na amizade do Senhor. Jesus é o amigo fiel que nunca nos abandona, pois, mesmo quando pecamos, espera pacientemente pelo nosso regresso a Ele e, com esta espera, manifesta a sua vontade de perdão” (Francisco, Quaresma de 2017). Feliz Páscoa a todos! 

EIS O TEMPO DE CONVERSÃO

       Nesse tempo da Quaresma, a Igreja muito nos fala de conversão. E esse foi o tema dos primórdios da pregação de Jesus: “Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15).
Conversão quer dizer mudança. E a palavra grega usada no Evangelho – “metanoia”- significa mudança de mentalidade. Mais do que o comportamento, é preciso mudar a mentalidade, pois dela procede o comportamento.
A mentalidade do tempo de Jesus era pagã: prazer, ganância e orgulho. Desejo de gozar a vida, de possuir bens materiais e de soberba, muitas vezes confundida com o poder. Tudo isso se concretizava no dinheiro, com o qual se pode comprar o prazer, os bens e o poder. Por isso, Jesus pregava: “Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24).
Opondo-se a essa mentalidade, Jesus propunha a mortificação da carne, o espírito de pobreza, o desapego dos bens materiais e a humildade, dando Ele mesmo o exemplo dessas virtudes. Não foi fácil a pregação desses temas por Ele e pelos Apóstolos no ambiente pagão. E mesmo no ambiente religioso dos judeus essas virtudes eram desconhecidas. Ali também, sob outra roupagem, imperava a impureza, a ganância e o orgulho.
Hoje vivemos no neopaganismo, onde esses vícios imperam e onde são raras as virtudes que lhes são contrárias. Por isso, neste tempo da Quaresma, a Igreja nos leva a refletir sobre a conversão, ou seja, o combate espiritual contra esses vícios.
“Tudo o que há no mundo, a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e a soberba da vida, não procede do Pai, mas do mundo”, ensina São João, Apóstolo (1Jo 2,16).
A concupiscência da carne significa não os prazeres ordenados por Deus, dentro dos seus legítimos limites, mas os desejos desordenados da carne. É a sensualidade, o amor desregrado dos prazeres, que provocam em nós o conflito interior de que fala São Paulo: “Encontro, pois, em mim esta lei: quando quero fazer o bem, o que se me depara é o mal. Sinto prazer na lei de Deus, de acordo com o homem interior. Sinto, porém, nos meus membros outra lei, que luta contra a lei do meu espírito e me prende à lei do pecado que está nos meus membros...” (Rm 7, 21-23). Daí a necessidade, com a graça de Deus, do combate interior: “Todos os atletas se impõem a si muitas privações; e o fazem para alcançar uma coroa corruptível. Nós o fazemos por uma incorruptível...” (1Cor 9, 25,27).
A concupiscência dos olhos é a ambição de possuir. “A raiz de todos os males é o amor ao dinheiro. Acossados pela cobiça, alguns se desviaram da Fé e se enredaram em muitas aflições” (1Tm 6,10). Não é essa a mentalidade subjacente a essa epidemia de corrupção que assistimos?
E a soberba da vida, que vem a ser o orgulho, o egoísmo, que gera o ciúme, a inveja e a ira. “O princípio de todo o pecado é a soberba” (Eclo 10,14).
          Convertamo-nos e combatamos esse “bom combate”.