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UMA SOCIEDADE JUSTA



Estou em Portugal, Sintra, onde vim participar, a convite, como todos os anos, de um Congresso internacional para Bispos, este ano com a presença de 134 Bispos, incluídos 5 Cardeais, de 50 países, promovido pelo Acton Institute, instituição universitária americana voltada para estudos de economia e sociologia à luz da Doutrina social da Igreja. O congresso deste ano versa sobre: “Fé, Razão e a Sociedade Justa”.  
Faz parte também do Congresso uma peregrinação dos Bispos ao Santuário de Nossa Senhora em Fátima, onde rezarei por todas as nossas intenções diante dos graves problemas políticos, religiosos e morais da nossa sociedade brasileira e mundial.
            A Doutrina Social da Igreja, tratada nesse congresso, abarca todos os problemas da chamada “Justiça Social”. Eis o que nos ensina o seu Magistério, expresso no Catecismo da Igreja Católica:
            Sociedade Justa é aquela na qual se pratica a justiça social, ou seja, quando realiza as condições que permitem a todos, associações e cada membro seu, obter o que lhes é devido conforme sua natureza e sua vocação. A justiça social está ligada ao bem comum e ao exercício da autoridade (CIC 1928). Só se pode conseguir a justiça social no respeito à dignidade transcendente do homem. A pessoa representa o fim último da sociedade, que por sua vez lhe está ordenada. Nisso todos são responsáveis. E o respeito à pessoa humana implica que se respeitem os direitos que decorrem da sua dignidade de criatura de Deus. Esses direitos são anteriores à sociedade e se lhe impõem. São eles que fundam a legitimidade moral de toda autoridade. Sem esse respeito, uma autoridade só pode apoiar-se na força ou na violência para obter a obediência de seus súditos.
            O respeito pela pessoa humana passa pelo respeito deste princípio: “Que cada um respeite o próximo, sem exceção, como ‘outro eu’, levando em consideração antes de tudo sua vida e os meios necessários para mantê-la dignamente. Nenhuma lei seria capaz, por si só, de fazer desaparecer os temores, os preconceitos, as atitudes de orgulho e egoísmo que constituem obstáculos para o estabelecimento de sociedades verdadeiramente fraternas. Esses comportamentos só podem cessar com a caridade, que vê em cada homem um “próximo”, um irmão. O dever de tornar-se próximo do outro e servi-lo ativamente se torna ainda mais urgente quando este se acha mais carente, em qualquer setor que seja. “Todas as vezes que fizestes a um destes meus irmãos menores, a mim o fizestes”, disse Jesus (Mt 25, 40).
            Este mesmo dever se estende àqueles que pensam ou agem diferentemente de nós. A doutrina de Cristo vai até o ponto de exigir o perdão das ofensas. Estende o mandamento do amor, que é o da nova lei, a todos os inimigos. A libertação no espírito do Evangelho é incompatível com o ódio ao inimigo, como pessoa, mas não com o ódio ao mal que este pratica, como inimigo (cf. CIC 1928-1933).

                                                              

PADROEIRA DA AMÉRICA


Amanhã festejaremos Nossa Senhora de Guadalupe, patrona do México e Padroeira da América Latina, por ter ocorrido a sua aparição nos primórdios do Novo Mundo.
Em 1531, um índio convertido, Juan Diego, a caminho da Missa na missão franciscana, nos arredores da cidade do México, recebeu um chamado para subir à colina de Tepeyac, onde viu uma jovem de radiosa beleza, que o encheu de felicidade e lhe disse: “Eu sou a sempre Virgem Mãe do Deus verdadeiro, no qual vivemos, Criador e Autor do Céu e da Terra. É meu desejo que se construa aqui um templo em minha honra, onde eu derramarei o meu amor, socorro e proteção...”. E disse-lhe que fosse à casa do Bispo, transmitindo-lhe o seu pedido.
O Bispo o recebeu, mas não acreditou muito na sua história. Juan Diego foi dizer à Senhora que arranjasse outra pessoa mais digna para essa missão e não ele, pobre índio. A Senhora lhe disse que poderia ter escolhido outros, mas o queria para essa incumbência. Voltou ao Bispo, o qual lhe disse que deveria pedir à Senhora um sinal como prova de que ela era a Mãe de Deus. A Senhora mandou que ele colhesse ali, naquela colina rochosa e árida, onde nem vegetação havia, no frio do mês de dezembro, abundantes rosas de cor e perfume maravilhosos, as colocasse em sua manta e as levasse ao Bispo, como sinal. Apresentando-se ao Bispo, derramou na sua presença as rosas e o prelado caiu de joelhos maravilhado, não tanto pelas rosas, mas por algo mais extraordinário: na manta de Juan Diego aparecia impressa com beleza surpreendente a Senhora que o pobre índio tinha visto na colina de Tepeyac. Era o dia 12 de dezembro de 1531.
Essa manta do índio é a imagem de Nossa Senhora de Guadalupe, venerada por milhões de peregrinos no grande Santuário construído em sua honra, imagem que se constitui em um grande milagre até hoje. Sábios, técnicos, pintores e especialistas, usando os meios modernos da Química, Física e Raios X, não foram até hoje capazes de explicar como é que se combinam na mesma pintura a aquarela e o óleo, sem vestígio de pincel. O tecido, feito de cacto, não dura mais de 20 anos e este já dura há mais de quatro séculos e meio. A imagem nunca foi retocada e até hoje os peritos de pintura e química não encontraram na tela nenhum sinal de corrupção. Com a invenção e ampliação da fotografia, descobriu-se um prodígio ainda maior: tal como a figura das pessoas com quem falamos se reflete nos nossos olhos, foram descobertas três figuras refletidas nos olhos de Nossa Senhora, na tela. Exames feitos com todo o rigor científico por oftalmologistas americanos concluíram que essas três figuras não são pinturas, mas imagens gravadas nos olhos de uma pessoa viva. As três imagens são João Diego, o intérprete e o Bispo.
Por sua fidelidade, fé simples e humildade, Juan Diego foi canonizado pelo Papa São João Paulo II em 2002.  O nome “Guadalupe” em espanhol é a tradução da frase asteca que significa “aquela que esmaga a serpente”, a quem os astecas costumavam oferecer sacrifícios humanos. Nossa Senhora de Guadalupe é também invocada como protetora dos nascituros.

A EVANGELIZAÇÃO DA AMAZÔNIA

         Com a proximidade do próximo Sínodo da Amazônia, debate-se novamente o problema do índio, sobre cuja civilização ainda se discute. Alguns acham que o índio deve ser preservado em seu estado primitivo, caso contrário se estaria destruindo a sua cultura. Alguns chegam até a questionar a evangelização dos índios, pela mesma razão. 
         Creio que a melhor solução para o problema foi dada por Bento XVI, no seu discurso de abertura da CELAM, em Aparecida, no dia 13 de maio de 2007, quando explicou que a evangelização trouxe aos indígenas Jesus Cristo com toda a sua riqueza. E a cristianização não foi a introdução de uma cultura estranha, mas um enriquecimento das culturas nativas.
         “A fé em Deus animou a vida e a cultura destes povos durante cinco séculos. Do encontro desta fé com as etnias originárias nasceu a rica cultura cristã deste Continente, manifestada na arte, na música, na literatura e sobretudo nas tradições religiosas e na idiossincrasia das suas populações, unidas por uma única história e por um mesmo credo, e formando uma grande sintonia na diversidade das culturas e das línguas...”
         “O que significou, porém, a aceitação da fé cristã para os povos da América Latina e do Caribe? Para eles, significou conhecer e acolher Cristo, o Deus desconhecido que os seus antepassados, sem o saber, buscavam nas suas ricas tradições religiosas. Cristo era o Salvador que esperavam silenciosamente. Significou também ter recebido, com as águas do batismo, a vida divina que fez deles filhos de Deus por adoção; ter recebido, outrossim, o Espírito Santo que veio fecundar as suas culturas, purificando-as e desenvolvendo os numerosos germes e sementes que o Verbo encarnado tinha lançado nelas, orientando-as assim pelos caminhos do Evangelho. Com efeito, o anúncio de Jesus e do seu Evangelho não supôs, em qualquer momento, uma alienação das culturas pré-colombianas, nem foi uma imposição de uma cultura alheia. As culturas autênticas não estão encerradas em si mesmas, nem petrificadas num determinado ponto da história, mas estão abertas, mais ainda, buscam o encontro com outras culturas, esperam alcançar a universalidade no encontro e o diálogo com outras formas de vida e com os elementos que possam levar a uma nova síntese, em que se respeite sempre a diversidade das expressões e da sua realização cultural concreta..” 
         “Em última instância, somente a verdade unifica, e a sua prova é o amor. Por isso Cristo, dado que é realmente o Logos encarnado, ‘o amor até ao extremo’, não é alheio a qualquer cultura, nem a qualquer pessoa; pelo contrário, a resposta desejada no coração das culturas é o que lhes dá a sua identidade última, unindo a humanidade e respeitando, ao mesmo tempo, a riqueza das diversidades, abrindo todos ao crescimento na verdadeira humanização, no progresso autêntico. O Verbo de Deus, tornando-se carne em Jesus Cristo, fez-se também história e cultura.” 
         “A utopia de voltar a dar vida às religiões pré-colombianas, separando-as de Cristo e da Igreja universal, não seria um progresso, mas um regresso. Na realidade, seria uma involução para um momento histórico ancorado no passado.” 
         “A sabedoria dos povos originários levou-os felizmente a formar uma síntese entre as suas culturas e a fé cristã que os missionários lhes ofereciam. Daqui nasceu a rica e profunda religiosidade popular, em que aparece a alma dos povos latino-americanos...”
         Mas é claro que se deve distinguir a cristianização ou evangelização da América da sua colonização. Aí sim houve abusos e erros. E o Papa, em 23 de maio do mesmo ano, completou o seu discurso, afirmando que realmente “não é possível esquecer o sofrimento e as injustiças infligidas pelos colonizadores à população indígena, cujos direitos humanos fundamentais foram constantemente atropelados”. Mas acrescentou que “a obrigatória menção desses crimes injustificáveis... não deve impedir de reconhecer a admirável obra realizada pela graça divina entre essas populações ao longo destes séculos”. 

A MISSÃO DE TODOS


          No próximo domingo, dia 21, a Igreja comemora o Dia Mundial das Missões, com Missa pela Evangelização dos povos. O mês de outubro é o mês missionário.
            Em sua mensagem para esse dia, o Santo Padre, o Papa Francisco, em pleno sínodo dedicado aos jovens, usando o lema “Juntamente com os jovens, levemos o Evangelho a todos”, assim diz: “Queridos jovens, juntamente convosco desejo refletir sobre a missão que Jesus nos confiou. Apesar de me dirigir a vós, pretendo incluir todos os cristãos, que vivem na Igreja a aventura da sua existência como filhos de Deus. O que me impele a falar a todos, dialogando convosco, é a certeza de que a fé cristã permanece sempre jovem, quando se abre à missão que Cristo nos confia. ‘A missão revigora a fé’ (Carta enc. Redemptoris missio, 2): escrevia São João Paulo II, um Papa que tanto amava os jovens e, a eles, muito se dedicou”.
         E o Papa nos lembra que a missão é de todos: “Todo o homem e mulher é uma missão, e esta é a razão pela qual se encontra vivendo na terra. Ser atraídos e ser enviados são os dois movimentos que o nosso coração, sobretudo quando é jovem em idade, sente como forças interiores do amor que prometem futuro e impelem a nossa existência para a frente. Ninguém, como os jovens, sente quanto irrompe a vida e atrai. Viver com alegria a própria responsabilidade pelo mundo é um grande desafio. Conheço bem as luzes e as sombras de ser jovem e, se penso na minha juventude e na minha família, recordo a intensidade da esperança por um futuro melhor. O fato de nos encontrarmos neste mundo sem ser por nossa decisão faz-nos intuir que há uma iniciativa que nos antecede e faz existir. Cada um de nós é chamado a refletir sobre esta realidade: Eu sou uma missão nesta terra, e para isso estou neste mundo”. 
          “A Igreja, ao anunciar aquilo que gratuitamente recebeu (cf. Mt 10, 8; At 3, 6), pode partilhar convosco, queridos jovens, o caminho e a verdade que conduzem ao sentido do viver nesta terra. Jesus Cristo, morto e ressuscitado por nós, oferece-Se à nossa liberdade e desafia-a a procurar, descobrir e anunciar este sentido verdadeiro e pleno. Queridos jovens, não tenhais medo de Cristo e da sua Igreja! Neles, está o tesouro que enche a vida de alegria. Digo-vos isto por experiência: graças à fé, encontrei o fundamento dos meus sonhos e a força para os realizar. Vi muitos sofrimentos, muita pobreza desfigurar o rosto de tantos irmãos e irmãs... Na escola dos santos, que nos abrem para os vastos horizontes de Deus, convido-vos a perguntar a vós mesmos em cada circunstância: ‘Que faria Cristo no meu lugar?’”
       “Pelo Batismo, também vós, jovens, sois membros vivos da Igreja e, juntos, temos a missão de levar o Evangelho a todos... Ambientes humanos, culturais e religiosos ainda alheios ao Evangelho de Jesus e à presença sacramental da Igreja constituem as periferias extremas, os ‘últimos confins da terra’, aos quais, desde a Páscoa de Jesus, são enviados os seus discípulos missionários... Toda a pobreza material e espiritual, toda a discriminação de irmãos e irmãs é sempre consequência da recusa de Deus e do seu amor”.

A FAMÍLIA E A SOCIEDADE

         Teve início com o dia dos pais, a Semana Nacional da Família, de 13 a 19 de agosto. O tema deste ano é “Família, uma luz para vida em sociedade”. Se houver uma verdadeira renovação da família, célula da sociedade, todo o corpo social se renovará. É lá que tudo começa. Ali é o lugar do cultivo dos valores humanos e cristãos. Ali se aprendem o respeito, a mútua convivência, a fraternidade, o senso de hierarquia, a responsabilidade pelos próprios atos, o correto uso da liberdade, a disciplina, o amor, que se refletirão na vida em sociedade.
A Igreja sempre deu enorme importância à família, tratando-a como “Igreja doméstica e santuário da vida”, porque ambas nos transmitem a Fé: “tal como uma mãe ensina os seus filhos a falar e, dessa forma, a compreender e a comunicar, a Igreja, nossa Mãe, ensina-nos a linguagem da fé, para nos introduzir na inteligência e na vida da fé” (C.I.C. n.171).
“A família é a base da sociedade e o lugar onde as pessoas aprendem pela primeira vez os valores que os guiarão durante toda a vida”, dizia São João Paulo II.  O Papa Bento XVI, no Encontro Mundial das Famílias, em Valência, Espanha, afirmou que “esta é uma instituição insubstituível segundo os planos de Deus e cujo valor fundamental a Igreja não pode deixar de anunciar e promover, para que seja vivido sempre com sentido de responsabilidade e alegria”.
Naquele memorável encontro mundial das famílias, refletiu-se no tema “a transmissão da Fé na família”. “Nenhum homem se deu o ser a si mesmo nem adquiriu sozinho os conhecimentos elementares da vida. Todos recebemos de outros a vida e as verdades básicas para ela, e estamos chamados a alcançar a perfeição em relação e comunhão amorosa com os demais. A família, fundada no matrimônio indissolúvel entre um homem e uma mulher, expressa esta dimensão relacional, filial e comunitária, e é o âmbito no qual o homem pode nascer com dignidade, crescer e desenvolver-se de maneira integral”. E o Papa emérito corroborava seu ensinamento com os exemplos bíblicos de Ester e de São Paulo: “Ester confessa: ‘No seio da família, ouvi desde criança, Senhor, escolheste Israel entre todos os povos’ (4, 16). Paulo segue a tradição dos seus antepassados judeus prestando culto a Deus com consciência pura. Louva a fé sincera de Timóteo e recorda-lhe: ‘a tua fé, que se encontrava já na tua avó, Loide, e na tua mãe Eunice e que, estou seguro, se encontre também em ti’ (2 Tm 1, 5). Nestes testemunhos bíblicos a família compreende não só pais e filhos, mas também avós e antepassados. Assim, a família se nos apresenta como uma comunidade de gerações e garantia de um patrimônio de tradições”.
E o Papa Francisco nos recorda o quanto “é importante que os pais cultivem as práticas comuns de fé na família, que acompanhem o amadurecimento da fé dos filhos” (Carta Enc. Lumem Fidei, 53). E nos ensinou a rezar assim: “Sagrada Família de Nazaré, tornai também as nossas famílias lugares de comunhão e cenáculos de oração, escolas autênticas do Evangelho e pequenas Igrejas domésticas”.


SÃO SEBASTIÃO

        Depois de amanhã, dia 20, celebraremos a solenidade do glorioso mártir São Sebastião, padroeiro da Cidade maravilhosa e do nosso Estado do Rio de Janeiro.
Segundo nos explica Dom Orani João Tempesta, Cardeal Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro, ele nasceu em Narbona, uma cidade ao Sul da França, no século III. Era filho de uma família ilustre. Ficou órfão do pai ainda menino, e então, foi levado para Milão por sua mãe, onde passou os primeiros anos da infância e juventude.
A mãe educou-o com esmero e muito zelo. Ele ingressou no exército imperial, e, por sua cultura e grande capacidade atingiu os mais altos graus da hierarquia militar, chegando a ocupar o posto de Comandante do Primeiro Tribunal da Guarda Pretoriana durante o reinado de Diocleciano, um dos mais severos imperadores romanos, perseguidor dos cristãos.
Foi denunciado ao Imperador como sendo cristão. Mesmo sendo um bom soldado romano, suas atitudes demonstravam sua fé cristã, e, diante de todos, confessou bravamente sua convicção. Foi acusado, então, de traição. Na época, o imperador tinha abolido os direitos civis dos cristãos. Por não aceitar renunciar a Cristo, São Sebastião foi condenado à morte, sendo amarrado a um tronco de árvore e flechado. Porém, não morreu ali. Foi encontrado vivo por uma mulher cristã piedosa que tinha vindo buscar o seu corpo. Diante do ocorrido, recuperada a saúde, apresentou-se diante do Imperador e reafirmou sua convicção cristã. E nova sentença de morte veio sobre ele: foi condenado ao martírio no Circo. Sebastião foi executado, então, com pauladas e boladas de chumbo, sendo açoitado até a morte e jogado nos esgotos perto do Arco de Constantino. Era 20 de janeiro.
Seu corpo foi resgatado e levado para as catacumbas romanas com grande honra e piedade. Sua fama se espalhou rapidamente. Suas relíquias repousam sobre a Basílica de São Sebastião, na via Apia, em Roma. O Papa Caio escolheu-o como defensor da Igreja e da fé.
Nesses tempos de grande negação da fé e de valores espirituais e religiosos, humanos e sociais, São Sebastião torna-se um grande modelo de ajuda para nós hoje, principalmente aos jovens, envoltos em grande confusão moral e espiritual. Ele é um sinal de fidelidade a Cristo mesmo com as pressões contrárias. Dessa forma, ele continua anunciando Jesus Cristo, por quem viveu, até os dias de hoje. Ele nos ensina a não desanimarmos com as flechadas que recebemos e a continuarmos firmes na fé.
Um mártir não deve ser um estranho para nós. Ainda em pleno século XXI encontramos irmãos e irmãs nossas que são mortos em tantos países, outros têm ainda seus direitos civis cassados por serem cristãos, outros são condenados à prisão ou à morte por aderirem ao Cristianismo, e ainda são expulsos de suas cidades e suas igrejas queimadas. Além disso, muitos são martirizados em sua fama, em sua honra e tantas outras maneiras modernas de “matar” pessoas por causa da fé ou de suas convicções cristãs.

SÃO SEBASTIÃO

       Hoje celebramos a solenidade do glorioso mártir São Sebastião, padroeiro da Cidade maravilhosa e do nosso Estado do Rio de Janeiro.
Segundo nos explica Dom Orani João Tempesta, Cardeal Arcebispo de São Sebastião do Rio de Janeiro, ele nasceu em Narbona, uma cidade ao Sul da França, no século III. Era filho de uma família ilustre. Ficou órfão do pai ainda menino, e então, foi levado para Milão por sua mãe, onde passou os primeiros anos da infância e juventude.
A mãe educou-o com esmero e muito zelo. Ele ingressou no exército imperial, e, por sua cultura e grande capacidade atingiu os mais altos graus da hierarquia militar, chegando a ocupar o posto de Comandante do Primeiro Tribunal da Guarda Pretoriana durante o reinado de Diocleciano, um dos mais severos imperadores romanos, perseguidor dos cristãos.
Foi denunciado ao Imperador como sendo cristão. Mesmo sendo um bom soldado romano, suas atitudes demonstravam sua fé cristã, e, diante de todos, confessou bravamente sua convicção. Foi acusado, então, de traição. Na época, o imperador tinha abolido os direitos civis dos cristãos. Por não aceitar renunciar a Cristo, São Sebastião foi condenado à morte, sendo amarrado a um tronco de árvore e flechado. Porém, não morreu ali. Foi encontrado vivo por uma mulher cristã piedosa que tinha vindo buscar o seu corpo. Diante do ocorrido, recuperada a saúde, apresentou-se diante do Imperador e reafirmou sua convicção cristã. E nova sentença de morte veio sobre ele: foi condenado ao martírio no Circo. Sebastião foi executado, então, com pauladas e boladas de chumbo, sendo açoitado até a morte e jogado nos esgotos perto do Arco de Constantino. Era 20 de janeiro.
Seu corpo foi resgatado e levado para as catacumbas romanas com grande honra e piedade. Sua fama se espalhou rapidamente. Suas relíquias repousam sobre a Basílica de São Sebastião, na via Apia, em Roma. O Papa Caio escolheu-o como defensor da Igreja e da fé.
Nesses tempos de grande negação da fé e de valores espirituais e religiosos, humanos e sociais, São Sebastião torna-se um grande modelo de ajuda para nós hoje, principalmente aos jovens, envoltos em grande confusão moral e espiritual. Ele é um sinal de fidelidade a Cristo mesmo com as pressões contrárias. Dessa forma, ele continua anunciando Jesus Cristo, por quem viveu, até os dias de hoje. Ele nos ensina a não desanimarmos com as flechadas que recebemos e a continuarmos firmes na fé.
Um mártir não deve ser um estranho para nós. Ainda em pleno século XXI encontramos irmãos e irmãs nossas que são mortos em tantos países, outros têm ainda seus direitos civis cassados por serem cristãos, outros são condenados à prisão ou à morte por aderirem ao Cristianismo, e ainda são expulsos de suas cidades e suas igrejas queimadas. Além disso, muitos são martirizados em sua fama, em sua honra e tantas outras maneiras modernas de “matar” pessoas por causa da fé ou de suas convicções cristãs.

POBREZA PESSOAL E LITÚRGICA

          Jesus proclamou a primeira bem-aventurança para os pobres de coração. O Papa Francisco tem insistido na Igreja dos pobres. Os santos são o grande exemplo de pobreza pessoal a ser por nós imitado. Mas não devemos confundir a pobreza pessoal, desapego dos bens terrenos e simplicidade em nossa vida pessoal, com pobreza litúrgica e das coisas devidas a Deus. Os santos, pobres pessoalmente, foram os que mais construíram esplêndidas, belíssimas e ricas igrejas e catedrais e usaram toda a magnificência litúrgica para a glória de Deus.
          São João Maria Vianney, o modelo de todos os sacerdotes, exigia tudo de melhor para a sua Igreja, tais como estandartes bordados a prata, ostensórios artísticos de prata dourada, baldaquino de veludo, paramentos de seda, bordados a ouro, etc. E dizia: “Uma batina velha fica muito bem debaixo duma casula bonita” (Francis Trochu, O Cura d’Ars): pobreza pessoal e riqueza litúrgica.
           Falando sobre a beleza da liturgia e respondendo às “acusações de ‘triunfalismo’, em nome das quais se jogou fora, com excessiva facilidade, muito da antiga solenidade litúrgica”, o então Cardeal Ratzinger explicava: “Não é triunfalismo, de forma alguma, a solenidade do culto com que a Igreja exprime a beleza de Deus, a alegria da fé, a vitória da verdade e da luz sobre o erro e as trevas. A riqueza litúrgica não é riqueza de uma casta sacerdotal; é riqueza de todos, também dos pobres, que, com efeito, a desejam e não se escandalizam absolutamente com ela. Toda a história da piedade popular mostra que mesmo os mais desprovidos sempre estiveram dispostos instintiva e espontaneamente a privar-se até mesmo do necessário a fim de honrar, com a beleza, sem nenhuma avareza, ao seu Senhor e Deus” (A Fé em crise? E.P.U, pág. 97). 
         Sobre a Música Sacra no atual período pós-conciliar, Ratzinger fazia o seguinte comentário sobre a perda do brilho e o interesse pelo banal: “Uma coisa ficou clara depois das experiências dos últimos anos: a volta do utilitário não fez a liturgia mais aberta, senão mais pobre. A simplicidade necessária não se pode conseguir mediante um empobrecimento” (La Fiesta de la Fe, p. 135). E o mesmo Cardeal Ratzinger insistia: “Liturgia ‘simples’ não significa liturgia mísera ou reles: existe a simplicidade que provém do banal e outra que deriva da riqueza espiritual, cultural e histórica. Também nisso, deixou-se de lado a grande música da Igreja em nome da ‘participação ativa’, mas essa ‘participação’ não pode, talvez, significar também o perceber com o espírito, com os sentidos? Não existe nada de ‘ativo’ no intuir, no perceber, no comover-se? Não há aqui um diminuir o homem, reduzindo-o apenas à expressão oral, exatamente quando sabemos que aquilo que existe em nós de racionalmente consciente e que emerge à superfície é apenas a ponta de um iceberg, com relação ao que é a nossa totalidade? Questionar tudo isso não significa, evidentemente, opor-se ao esforço para fazer cantar todo o povo, opor-se à música ‘utilitária’. Significa opor-se a um exclusivismo (somente tal música), não justificado nem pelo Concílio nem pelas necessidades pastorais” (A Fé em crise?, pág. 96).

A IGREJA E A PROPAGANDA

            Propaganda vem do latim propagare, propagar. É a missão da Igreja: propagar a fé, a boa nova do Evangelho: “ide e ensinai”, “ide e fazei discípulos entre todas as nações!”.
Vale a propósito recordar alguns trechos da curiosa palestra, proferida na CNBB, em 1977, pelo famoso publicitário Alex Periscinotto, um dos pioneiros da propaganda no Brasil.
Ele começou agradecendo à Igreja, por ter inventado todas as ferramentas de trabalho, usadas hoje na comunicação: “O primeiro veículo de comunicação de massa inventado até hoje, o mais forte de todos, foi o sino. O sino, que tinha mensagem nas suas batidas, atingia, na ocasião das aldeias, 80, 90% das pequenas cidades. Ele não só atingia como modificava o comportamento físico e mental de 80, 90% das aldeias cada vez que ele batia”.
Outra ferramenta moderna de comunicação, inventada pelos religiosos, diz ele, é o display, o destaque. “Nós usamos o display para destacar uma informação. Quando todos os telhados das aldeias eram baixinhos, vocês construíram um telhado altíssimo, 4, 5 vezes maior e em forma de ponta... Isso era para se avistar ao longe a torre da igreja, logo que se entrasse na aldeia. Por esse display, a gente com facilidade localizava a igreja. Mais do que isso, vocês inventaram o primeiro logotipo, o mais feliz deles, a cruz. A cruz que nunca foi esquecida de ser colocada no alto do display e que permitia que, além de se identificar que ali era uma igreja, também se identificava que ela pertencia àquela marca, àquela religião...”
“Hoje, uma das ferramentas mais preciosas para se usar nas campanhas é a pesquisa. O primeiro departamento de pesquisa de que se sabe foi inventado por vocês, é o confessionário. Era então um santo departamento de pesquisa. Digo santo porque hoje quando a gente faz um ibope qualquer é possível que a pessoa minta, mas no santo departamento de pesquisa a coisa não só era espontânea, mas necessária e verdadeira. Por exemplo, se eu quero me reconstruir de dentro para fora, eu vou a um analista pago mil dinheiros e ele me ajuda um pouco, mas a minha mãe vai a um confessionário, sai reconstruída de dentro para fora, sai de lá aliviada e perdoada, coisa que nenhum analista faz nem que você pague o dobro”.
“Vocês mudaram o sistema da missa, a missa não é mais em latim e o padre não fica mais de costas para o público. Mas minha mãe nunca achou que vocês estavam de costas para ela, achou que vocês estavam de frente para Deus e ela gostava do latim, embora não entendesse bem as palavras, porque era uma linguagem mística que fazia se entender por Deus... Mas o que quero dizer é que toda essa máquina de comunicação que vocês inventaram não foi à toa. Vocês não inventaram sinos e aquela indumentária toda, que eu chamo de embalagem religiosa simplesmente por nada. Não! Vocês tinham o mesmo problema que nós temos agora: vocês tinham uma coisa a ser propagada, o produto de vocês chamava-se . Eu tenho uma boa notícia para vocês, esse produto, a fé, está em falta no mercado, mas hoje vocês não propagam mais fé (!)...    Fé era o que minha mãe ia buscar na igreja...”.


LUMEN FIDEI

         Lumen Fidei – a Luz da Fé – é o título da primeira carta encíclica do Papa Francisco, sobre a primeira das três virtudes teologais. O Papa Bento XVI já havia escrito as encíclicas sobre a Caridade – Deus caritas est – em 2005, sobre a Esperança – Spe salvi – em 2007 – e sobre o desenvolvimento integral humano na caridade e na verdade – Caritas in veritate - em 2009. Faltava, para completar a trilogia, uma encíclica sobre a Fé. Começada pelo Papa emérito, foi completada e promulgada pelo atual Pontífice, neste Ano da Fé.
            “A providência quis que a coluna faltante fosse um presente do papa emérito ao seu sucessor e, ao mesmo tempo, um símbolo de unidade, pois, ao assumir e completar a obra iniciada pelo seu predecessor, o Papa Francisco dá testemunho com ele da unidade da fé”, explicou o Cardeal Marc Ouellet.
Conforme o mesmo Cardeal, que apresentou a encíclica, o Papa explica em linguagem acessível o que é a fé; apresenta a fé cristã como luz proveniente da escuta da palavra de Deus na história. “A fé não é uma luz que dissolve todas as nossas trevas, mas a lâmpada que guia os nossos passos na noite e o que nos basta para o caminho”. A fé é uma abertura ao amor de Cristo e estende o eu às dimensões de um nós, que, na Igreja, não é somente humano, mas propriamente divino, com uma participação na Trinidade de Deus. A encíclica se vincula de maneira inteiramente natural ao nós, à família, que é o lugar por excelência da transmissão da fé; “penso, diz o Papa, antes de mais nada, na união estável de um homem e uma mulher”. A Lumen Fidei considera que o fiel se encontra envolvido na verdade por ele confessada e, por este mesmo fato, é transformado e introduzido em uma história de amor que dilata o seu ser, tornando-o membro de uma grande comunhão.
            O Papa Francisco com Bento XVI expõem juntos a fé da Igreja, na sua beleza, que é confessada no interior do corpo de Cristo como comunhão concreta dos fiéis. Mostram assim o caminho que a Igreja deve trilhar para cumprir sua missão no mundo de hoje. É uma encíclica com uma forte conotação pastoral, em que o Papa Francisco, com a sua sensibilidade de pastor, consegue traduzir muitas questões de caráter perfeitamente teológico em temáticas que podem ajudar na reflexão e na catequese. Por isso é importante o convite conclusivo da encíclica: “não deixemos que nos roubem a esperança”.

            Conforme explicou o prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, Dom Gerard Müller, a encíclica Lumen Fidei nos convida a reconhecer que “a fé, graças à luz que vem de Deus, ilumina todo o caminho e toda a existência do homem. Ela não nos separa da realidade, mas nos permite entender todo o seu significado mais profundo, descobrir o quanto Deus nos ama”. Dom Müller classificou como “afortunado” o fato de o texto ter sido “escrito pela mão de dois pontífices”, revelando, apesar das diferenças de estilo, “a substancial continuidade do magistério de Bento XVI na mensagem do papa Francisco”.