A BÊNÇÃO, VOVÔ E VOVÓ

 

Na segunda-feira passada, celebramos São Joaquim e Sant’Ana, pais de Maria  Santíssima, avós de Jesus. Por isso o Papa Francisco estabeleceu neste domingo anterior a esta festa, o I Dia Mundial dos Avós e dos Idosos. O Papa usa como tema de sua mensagem a frase de Jesus aos discípulos “Eu estou contigo todos os dias” (Mt 28,20), para lembrar a nossa solidariedade e preocupação com os avós e idosos, sem nunca os deixar abandonados.

Francisco lembra aos idosos que estamos em tempos difíceis: “Bem sei que esta mensagem te chega num tempo difícil: a pandemia foi uma tempestade inesperada e furiosa, uma dura provação que se abateu sobre a vida de cada um, mas, a nós idosos, reservou-nos um tratamento especial, um tratamento mais duro. Muitíssimos de nós adoeceram – e muitos partiram –, viram apagar-se a vida do seu cônjuge ou dos próprios entes queridos, e tantos – demasiados – viram-se forçados à solidão por um tempo muito longo, isolados”.

Mas, consola-nos a presença do Senhor: “O Senhor conhece cada uma das nossas tribulações deste tempo. Ele está junto de quantos vivem a dolorosa experiência de ter sido afastado; a nossa solidão – agravada pela pandemia – não O deixa indiferente. Segundo uma tradição, também São Joaquim, o avô de Jesus, foi afastado da sua comunidade, porque não tinha filhos; a sua vida – como a de Ana, sua esposa – era considerada inútil. Mas o Senhor enviou-lhe um anjo para o consolar. Estava ele, triste, fora das portas da cidade, quando lhe apareceu um Enviado do Senhor e lhe disse: ‘Joaquim, Joaquim! O Senhor atendeu a tua oração insistente’. Giotto dá a impressão, num afresco famoso, de colocar a cena de noite, uma daquelas inúmeras noites de insônia a que muitos de nós se habituaram, povoadas por lembranças, inquietações e anseios”. “Ora, mesmo quando tudo parece escuro, como nestes meses de pandemia, o Senhor continua a enviar anjos para consolar a nossa solidão repetindo-nos: ‘Eu estou contigo todos os dias’. Di-lo a ti, di-lo a mim, a todos. Está aqui o sentido deste Dia Mundial que eu quis celebrado pela primeira vez precisamente neste ano, depois dum longo isolamento e com uma retomada ainda lenta da vida social: oxalá cada avô, cada idoso, cada avó, cada idosa – especialmente quem dentre vós está mais sozinho – receba a visita de um anjo! Este anjo, algumas vezes, terá o rosto dos nossos netos; outras vezes, dos familiares, dos amigos de longa data ou conhecidos precisamente neste momento difícil. Neste período, aprendemos

UNIDADE NA DIVERSIDADE DA LITURGIA

 

        Na Carta Apostólica Traditionis Custodes, de 16 de julho último, o Papa Francisco trata do uso da Liturgia Romana antes da reforma de 1970, e relembra que “para promover a concórdia e a unidade da Igreja, com paternal solicitude para com aqueles que em qualquer região aderem às formas litúrgicas anteriores à reforma pretendida pelo Concílio Vaticano II , os meus Veneráveis Predecessores São João Paulo II e Bento XVI, concederam e regulamentaram a faculdade de usar o Missal Romano editado por São João XXIII em 1962.  Desta forma, pretendiam ‘facilitar a comunhão eclesial daqueles católicos que se sentem apegados a algumas formas litúrgicas anteriores’ e não a outras”.

         Mas, como foram necessários reajustes nesta regulamentação, ele o faz, neste Motu Proprio, entregando ao Bispo de cada Diocese, a competência de, “como moderador, promotor e guardião de toda a vida litúrgica da Igreja particular que lhe foi confiada, ... autorizar o uso do Missal Romano de 1962 na sua diocese, segundo as orientações da Sé Apostólica”.

        Nem é preciso dizer que, como católicos, acatamos essa orientação do Papa Francisco.

        Infelizmente, essa intervenção do Papa atual foi provocada pelos abusos de muitos chamados tradicionalistas, que, não observando o que desejava Bento XVI, instrumentalizaram a Missa na forma tradicional para atacar o Papa e o Concílio Vaticano II. Mas esses não são a maioria nem os mais importantes, mas são os que mais gritam e aparecem nas redes sociais. É incomparavelmente maior o número daqueles fiéis que aderem à forma antiga do Rito Romano por razões corretas, nem a instrumentalizam, nem negam a ortodoxia e o valor do Concílio Vaticano II nem a reforma litúrgica dele oriunda, a chamada Missa de Paulo VI, ou a forma normal do Rito Romano. Os justos não poderiam pagar pelos pecadores (cf. Gn18,23-25).

         Nós, da Administração Apostólica, e muitíssimos outros fiéis do mundo inteiro, conservamos a Missa na sua forma antiga, não por motivos heterodoxos, mas por ser uma das riquezas litúrgicas católicas, como bem explicou o Papa São João Paulo II: “Todos os pastores e os outros fiéis devem também ter uma nova consciência não somente da legitimidade, mas também da riqueza que representa para a Igreja a diversidade dos carismas e das tradições da espiritualidade e do apostolado. Esta diversidade constitui assim a beleza da unidade na variedade: tal é a sinfonia que, sob a ação do Espírito Santo, a Igreja faz subir ao Céu” (Motu Proprio Ecclesia Dei Adflicta, 1o de julho de 1988). E pela riqueza, beleza, elevação, nobreza e solenidade das suas cerimônias, pelo seu sentido de mistério, pela sua maior precisão e rigor nas rubricas, segurança contra os abusos, ela se torna um enriquecimento da liturgia católica, una na essência e múltipla nos seus ritos. E cito o grande teólogo e liturgista Cardeal Joseph Ratzinger (depois Bento XVI, hoje papa emérito): “Se bem que haja numerosos motivos que possam ter levado um grande número de fiéis a encontrar refúgio na liturgia tradicional, o mais importante dentre eles é que eles aí encontram preservada a dignidade do sagrado” (Conferência aos Bispos chilenos, Santiago 13/7/1988).

                                                                         *Bispo da Administração Apostólica Pessoal                                                                                                                                                                                                                              São João Maria Vianney

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MARIA NO ANTIGO E NOVO TESTAMENTO

 


            Maria, a mãe de Jesus, já tinha sido prefigurada no Antigo Testamento como aquela mulher, cujo filho, o Messias, o Salvador da humanidade, esmagaria a cabeça da serpente, do inimigo. E o livro do Apocalipse, que encerra o Novo Testamento, a representa figurativamente naquela mulher coroada de estrelas e vencedora do dragão. 

            Uma devoção muito divulgada no Brasil e em todo o mundo é a de Nossa Senhora do Carmo ou do Monte Carmelo, devoção da Igreja com raízes no Antigo Testamento. Sua festa é no próximo dia 16 de julho.

Quase na divisa com o Líbano, o monte Carmelo situa-se na terra de Israel. “Carmo”, em hebraico, significa “vinha” e “El”, abreviatura de Elohim, significa “Deus”, donde Carmelo, a vinha de Deus. Ali se refugiou o profeta Elias, que lá realizou grandes prodígios, e, depois, o seu sucessor, Eliseu. Na pequena nuvem portadora da chuva após a grande seca, Elias viu simbolicamente Maria, a futura mãe do Messias esperado. Eles reuniram no monte Carmelo os seus discípulos e com eles viviam em ermidas.

Assim, Maria foi venerada profeticamente por esses eremitas e, depois da vinda de Cristo, por seus sucessores cristãos, como Nossa Senhora do Monte Carmelo ou do Carmo.

No século XII, os muçulmanos conquistaram a Terra Santa e começaram a perseguir os cristãos, entre eles os eremitas do Monte Carmelo, muitos dos quais fugiram para a Europa. No ano 1241, o Barão de Grey da Inglaterra retornava das Cruzadas com os exércitos cristãos, convocados para defender e proteger contra os muçulmanos os peregrinos dos Lugares Santos, e trouxe consigo um grupo de religiosos do Monte Carmelo, doando-lhes uma casa no povoado de Aylesford. Juntou-se a eles um eremita chamado Simão Stock, inglês de família ilustre do condado de Kent. De tal modo se distinguiu na vida religiosa, que os Carmelitas o elegeram como Superior Geral da Ordem, que já se espalhara pela Europa.

No dia 16 de julho de 1251, no seu convento de Cambridge, na Inglaterra, rezava o santo para que Nossa Senhora lhe desse um sinal do seu maternal carinho para com a Ordem do Carmo, por ela tão amada, mas então muito perseguida. A Virgem Santíssima ouviu essas preces fervorosas de São Simão Stock, dando-lhe, como prova do seu carinho e de seu amor por aquela Ordem, o Escapulário marrom, como veste de proteção, fazendo-lhe a célebre e consoladora promessa: “Recebe, meu filho, este Escapulário da tua Ordem, que será o penhor do privilégio que eu alcancei para ti e para todos os filhos do Carmo. Todo aquele que morrer com este Escapulário será preservado do fogo eterno. É, pois, um sinal de salvação, uma defesa nos perigos e um penhor da minha especial proteção”.

            Por isso, os católicos fervorosos usam tão valiosa veste: “O sagrado Escapulário, como veste mariana, é penhor e sinal da proteção de Deus” (Pio XII). Aliado a uma vida cristã, o escapulário é garantia de bênçãos e de salvação.

 

        *Bispo da Administração Apostólica Pessoal

                                                                         São João Maria Vianney

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OS BONS CRISTÃOS

 

Quando se quer conhecer uma empresa ou uma agremiação, o melhor espelho dela são os seus bons membros, que compensam as fraquezas dos maus. Os bons, os que seguem as normas e são corretos, são os que verdadeiramente representam a empresa ou agremiação. Quem quiser conhecer os brasileiros, não deve ir ao presídio. Ali não estão os melhores cidadãos. Mas deve pesquisar as pessoas honradas e cumpridoras dos seus deveres.

            O mesmo acontece com a Igreja. Quem quiser conhece-la, e ela tem vinte séculos, deve olhar, não os hereges ou os maus cristãos, mas os santos. Esses realmente a representam e são exemplos para todos. Esses são os verdadeiros cristãos, os que seguiram os seus ensinamentos.

“A santidade é o rosto mais belo da Igreja” (Papa Francisco – Gaudete et Exsultate, 9). E a Igreja tem santos de todas as condições e classes sociais, a nos ensinar que qualquer um, de qualquer posição ou profissão, pode vir a ser santo. São os modelos de cristãos. 

No último dia 3, foi nos proposta a veneração de São Tomé, apóstolo, muito conhecido pela recusa em acreditar na ressurreição de Jesus, a menos que o visse com seus próprios olhos e tocasse nas cicatrizes de suas chagas. São Gregório Magno comenta que “mais nos serviu para a nossa fé a incredulidade de Tomé, que a fé dos discípulos fiéis”. Pois, tendo Jesus lhe aparecido, o fez tocar nas suas chagas, recebendo dele a firme profissão de fé: “Meu Senhor e meu Deus!”. São João afirma, o que São Tomé corrobora: “O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e o que as nossas mãos apalparam... nós vos anunciamos” (1Jo 1, 1). Ele pregou o Evangelho na Pérsia, onde foi martirizado pela sua Fé, apagando com o seu sangue, seu pecado de incredulidade.  

Domingo passado, transferido do dia 29 de junho, tivemos a solenidade de São Pedro e São Paulo. Pedro, escolhido de propósito por Jesus para chefe e fundamento da sua Igreja, engloba a fraqueza humana e a força divina que o sustentava e sustenta em seus sucessores, vigários de Cristo na terra. Paulo, fariseu fanático, convertido no encontro com Jesus ressuscitado, tornou-se o grande propagador do cristianismo no mundo pagão greco-romano.

No dia 6, festejamos Santa Maria Goretti, denominada a Santa Inês do século XX, assassinada em 6 de julho de 1902, com 12 anos de idade, porque preferiu morrer a ofender a Deus, pecando contra a castidade, como a queria forçar seu assassino. Era uma menina de família católica, de boa formação. Exemplo de resistência às seduções e assédios.

Dela disse o Papa Pio XII: “Santa Maria Goretti pertence para sempre ao exército das virgens e não quis perder, por nenhum preço, a dignidade e a inviolabilidade do seu corpo. E isso não porque lhe atribuísse um valor supremo, senão porque, como templo da alma, é também templo do Espírito Santo. Ela é um fruto maduro do lar cristão, onde se reza, onde se educam os filhos no temor de Deus e na obediência aos pais. Que o nosso debilitado mundo aprenda a honrar e a imitar a invencível fortaleza desta jovem virgem”.

 

        *Bispo da Administração Apostólica Pessoal

                                                                         São João Maria Vianney

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