CORPO DE DEUS

          Amanhã celebraremos com toda a Igreja a solenidade do SS. Corpo e Sangue de Cristo, ou Corpus Christi, presente na Santíssima Eucaristia.
Por que tal festa? “Augustíssimo sacramento é a Santíssima Eucaristia, na qual se contém, se oferece e se recebe o próprio Cristo Senhor e pela qual continuamente vive e cresce a Igreja. O Sacrifício Eucarístico, memorial da morte e ressurreição do Senhor, em que se perpetua pelos séculos o Sacrifício da cruz, é o ápice e a fonte de todo o culto e da vida cristã, por ele é significada e se realiza a unidade do povo de Deus, e se completa a construção do Corpo de Cristo...” (Direito Canônico cân. 897).
O mesmo nos ensina o Catecismo da Igreja Católica: “A Eucaristia é o coração e o ápice da vida da Igreja, pois nela Cristo associa sua Igreja e todos os seus membros a seu sacrifício de louvor e ação de graças oferecido uma vez por todas na cruz a seu Pai; por seu sacrifício ele derrama as graças da salvação sobre o seu corpo, que é a Igreja. A Eucaristia é o memorial da Páscoa de Cristo: isto é, da obra da salvação realizada pela Vida, Morte e Ressurreição de Cristo, obra esta tornada presente pela ação litúrgica. Enquanto sacrifício, a Eucaristia é também oferecida em reparação dos pecados dos vivos e dos defuntos, e para obter de Deus benefícios espirituais ou temporais” (nn.1407, 1409 e 1414).
        Esse tesouro de valor incalculável, a Santíssima Eucaristia, foi instituído por Jesus na Última Ceia, na Quinta-feira Santa. Mas, então, na Semana Santa, a Igreja estava ocupada com as dores da Paixão de Cristo e não podia dar largas à sua alegria por tão augusto testamento. Por isso, na primeira quinta-feira livre depois do tempo pascal, ou seja, amanhã, a Igreja festeja com toda a solenidade, com Missa e procissão solenes, Jesus Cristo, vivo e ressuscitado, presente sob as espécies de pão e vinho, na Hóstia Consagrada. Esta festa tem a finalidade de expressarmos publicamente a nossa fé, nosso amor e nossa adoração para com Jesus Eucarístico e, ao mesmo tempo, nossa reparação pelos abusos, profanações, sacrilégios e ultrajes feitos à Santíssima Eucaristia.
        Reiteramos o que escrevemos, os Bispos do Estado do Rio, na carta sobre os sofrimentos atuais de nossa população: “Contemplando o mistério do Deus-Amor, que se fez pão descido do céu, convocamos os cató1icos a participarem intensamente da Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, a ser celebrada este ano no dia 26 de maio. Em cada uma de nossas dioceses, haverá procissões e outros momentos em honra do Santíssimo Sacramento. Além das orações para pedirmos perdão pelos pecados e forças para a transformação do mundo, conclamamos os católicos a exercitarem, de modo ainda mais generoso, o sentimento de partilha, recolhendo em cada procissão ou outro evento, alimentos a serem imediatamente enviados a quem necessita. Consideramos importante alertar para o fato de que, em Deus, amamos todos os seres humanos e o que acontece com um só ser humano, afeta a toda a humanidade”.

A ALMA DA IGREJA

         Deus, ao criar Adão, o primeiro homem, após formar o seu corpo do pó do solo, soprou sobre ele um “sopro de vida”, surgindo assim o ser humano completo, corpo e alma (Gn 2, 7).
        Assim Jesus, durante sua vida pública, formou o corpo da Igreja: convocou os Apóstolos, a quem deu a sua autoridade, escolheu Pedro para o chefe, a “pedra”, e deu-lhes o poder de transmitir a graça e os seus ensinamentos. Estava formada a hierarquia, a Igreja docente, que, junto com os outros discípulos, a Igreja discente, formava o corpo da Igreja. Faltava agora a alma, o sopro da vida. Sopro em latim é “spiritus”. Sopro divino, a alma da Igreja, é o Espírito Santo, que Jesus enviou sobre os Apóstolos, sobre a sua nascente Igreja. Agora a obra está completa. A festa de Pentecostes, na qual celebramos a vinda do Espírito Santo sobre a Igreja, na pessoa dos Apóstolos reunidos com Nossa Senhora (Atos 1, 13-14), é a inauguração oficial da Igreja de Cristo, seu Corpo Místico vivo,  pela ação do Espírito Santo.
          Foi o Espírito Santo que completou a obra de Cristo, santificando os Apóstolos, transformando-os de fracos em fortes, de medrosos em corajosos, de ignorantes em sábios, para assim pregarem o Evangelho de Jesus a todos os povos, enfrentando a sabedoria pagã, as perseguições e até a morte, pela causa de Cristo. E até hoje, é o Espírito Santo que dá força aos mártires, testemunhas do Evangelho até o derramamento do sangue, o vigor aos missionários e pregadores, a ciência aos doutores, a pureza às virgens, a perseverança aos justos e a conversão aos pecadores. É o Espírito Santo que garante a indefectibilidade e a infalibilidade à Igreja, até ao fim do mundo. Nenhuma sociedade humana sobreviveria a tantas perseguições, tantas heresias e cismas, tantos inimigos externos e internos, tanta gente ruim no seu seio (nós, por exemplo!), leigos, padres, Bispos e Papas ruins, tantos escândalos da parte dos seus membros, tantas dificuldades, se não fosse a ação do Espírito Santo que a mantém incólume no meio de todas essas tempestades, até a consumação dos séculos.
      É essa ação do Espírito Santo  que produziu os santos, que fazem a glória da Igreja, e são milhares e milhares. Conhecemos alguns por nome, respeitados por todo o mundo, mesmo pelos não católicos e não cristãos: quem não respeita e admira a santidade de um São Francisco de Assis, a ciência de um Santo Agostinho, um São Jerônimo e um Santo Tomás de Aquino, a firmeza de São Sebastião, a pureza de Santa Inês e Santa Cecília, a candura de Santa Teresinha do Menino Jesus, a caridade da Beata Teresa de Calcutá e da Beata Dulce dos Pobres, etc. É o Espírito Santo, presente na Igreja, que cumpre a promessa de Jesus: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim dos tempos” (Mt 28, 20).
        A Igreja reproduz a condição do seu Divino Fundador, Jesus, Deus e homem. Como Deus, perfeitíssimo como o Pai, como homem, sujeito a fraquezas como nós, exceto no pecado. Também a Igreja é divina nos seus ensinamentos, graça e perfeição, pela presença do Espírito Santo, continuador da obra de Jesus, humana e fraca nos seus membros, que somos todos nós. 

CATÁSTROFE SOCIAL

           Diante dos inúmeros sofrimentos atuais da população do Estado, nós, Bispos do Estado do Rio de Janeiro, como pastores, manifestamos nossa angústia, pois não podemos deixar de nos sentir afetados pelas lágrimas que brotam de tantas situações precárias que atingem, entre outras, as áreas de saúde, educação, alimentação, segurança, moradia, emprego, não recebimento de salários e aposentadorias.
Exortamos os investidos no poder público em seus diversos âmbitos a encontrar, com rapidez, soluções estruturais para essa triste realidade, pois têm a responsabilidade moral e legal de buscar essas soluções. Exortamos, especialmente, todos os cató1icos e pessoas de boa vontade a que também assumam sua responsabilidade na busca de soluções concretas, através da união de forças, diálogo e criatividade, dentro do espírito democrático e pacífico que marca nossa nação, procurando evitar toda a violência, na colaboração de todos, autoridades e povo, em busca do bem comum.
As primeiras soluções voltar-se-ão para o imediato, isto e, para as dores que não podem esperar o dia de amanhã, aguardando os trâmites dos planejamentos e das burocracias. Por isso, na criatividade tão própria do povo brasileiro, cada um encontre formas de ajudar a quem está bem próximo, ao alcance da mão e do coração.
Este não é o momento de ficarmos apenas apontando responsabilidades alheias, mas de agirmos, pensando no bem comum. Por isso, conclamamos as comunidades católicas, paróquias, movimentos e demais associações que abram suas portas e saiam, como uma igreja  samaritana,  uma  igreja  em  campanha,  uma  igreja  em  missão,  na busca  de  quem  está  sofrendo   as  diversas   formas   deste  momento tão peculiar. Não se trata de aguardar quem venha bater a porta de nossas comunidades, mas, ao contrario, colocando tudo em comum (cf At 2,44), sair ao encontro de quem precisa, mobilizando os (as) batizados(as)  a  ações  que, impulsionadas   pela  criatividade   do Espirito  Santo,  sejam  capazes  de aliviar  a dor e a penúria. Apelamos a todos, especialmente os da Pastoral Familiar, Catequética e da Visitação, que procurem identificar os que realmente passam necessidade.
Contemplando o mistério do Deus-Amor, que se fez pão descido do céu, convocamos os cató1icos a participarem intensamente da Solenidade do Corpo e Sangue de Cristo, a ser celebrada este ano no dia 26 de maio. Em cada uma de nossas dioceses, haverá procissões e outros momentos em honra do Santíssimo Sacramento. Além das orações para pedirmos perdão pelos pecados e forças para a transformação do mundo, conclamamos os católicos a exercitarem, de modo ainda mais  generoso,   o  sentimento   de  partilha,   recolhendo   em  cada procissão  ou outro  evento,  alimentos  a serem  imediatamente   enviados  a quem necessita. Consideramos importante alertar para o fato de que, em Deus, amamos todos os seres humanos e o que acontece com um só ser humano, afeta a toda a humanidade.

O TRABALHO DIGNIFICADO

        Dia 1º de maio, dia do trabalho, foi também dia de São José operário, patrono dos trabalhadores. Desejoso de ajudar os trabalhadores a santificar o seu dia, já mundialmente comemorado, o Papa Pio XII instituiu a festa de São José operário, modelo do trabalhador. De origem nobre da Casa de Davi, ganhando a vida como simples carpinteiro, São José harmoniza bem a união de classes em uma sociedade cristã, onde predominam a justiça e a caridade.
Preconizando “a prioridade do trabalho em confronto com o capital” (S. João Paulo II, Laborem Exercens 12), a doutrina social da Igreja ensina também que, para uma sadia economia, são necessários o trabalho e o capital, na clássica formulação de Leão XIII: “Elas (as duas classes – a dos detentores do capital e a dos que oferecem a mão-de-obra) têm imperiosa necessidade uma da outra: não pode haver capital sem trabalho, nem trabalho sem capital. A concórdia traz consigo a ordem e a beleza...” (Rerum Novarum 31). E defende o direito de propriedade, por ser ela fruto do trabalho humano, e a necessidade do justo salário, que seja suficiente para assegurar a subsistência do operário sóbrio e honrado (Rerum Novarum 16 e 61). 
O trabalho é obra de Deus. Deus, ao criar o homem, colocou-o no jardim do Éden para nele trabalhar. O trabalho existe, portanto, antes do pecado. Depois deste, passou a ter a conotação de penitência, pois adquiriu uma nota de dificuldade e o necessário esforço para desempenhá-lo: “Comerás o pão com o suor do teu rosto” (Gn 3,19).
O trabalho é algo muito digno e nobre, seja ele qual for, desde que seja honesto e nos encaminhe para Deus, seu autor. O trabalho é também expressão do amor.  A expressão quotidiana deste amor na vida da Família de Nazaré é o trabalho. O texto evangélico especifica o tipo de trabalho, mediante o qual José procurava garantir a sustentação da Família: o trabalho de carpinteiro. Esta simples palavra envolve toda a extensão da vida de José. Para Jesus este período abrange os anos da vida oculta, de que fala o Evangelista, a seguir ao episódio que sucedeu no templo: ‘Depois, desceu com eles para Nazaré e era-lhes submisso’ (Lc 2, 51). Esta submissão, ou seja, a obediência de Jesus na casa de Nazaré é entendida também como participação no trabalho de José. Aquele que era designado como o ‘filho do carpinteiro’, tinha aprendido o ofício de seu ‘pai’ adotivo. Se a Família de Nazaré, na ordem da salvação e da santidade, é exemplo e modelo para as famílias humanas, é-o analogamente também o trabalho de Jesus ao lado de José carpinteiro. Na nossa época, a Igreja pôs em realce isto mesmo, também com a memória de São José Operário, fixada no primeiro de maio. O trabalho humano, em particular o trabalho manual, tem no Evangelho uma acentuação especial. Juntamente com a humanidade do Filho de Deus ele foi acolhido no mistério da Encarnação, como também foi redimido de maneira particular. Graças ao seu banco de trabalho, junto do qual exercitava o próprio ofício juntamente com Jesus, José aproximou o trabalho humano do mistério da Redenção”(S. João Paulo II, Ex. Apost. Redemptoris Custos 22).