FUNDAMENTALISMO BÍBLICO

      O mês de setembro é o mês da Bíblia, todo dedicado a despertar e promover entre os fiéis o conhecimento e o amor dos Livros Santos, a Palavra de Deus escrita, redigida sob a moção do Divino Espírito Santo, motivando-os para sua leitura cotidiana, atenta e piedosa. No próximo dia 29, último domingo de setembro, celebraremos o dia nacional da Bíblia, véspera do dia de São Jerônimo, o grande tradutor dos Livros Santos.
      A Bíblia é o livro sagrado por excelência, escrito para o nosso bem. “Toda a Escritura é inspirada por Deus, e útil para ensinar, para repreender, para corrigir e para formar na justiça. Por ela, o homem de Deus se torna perfeito, capacitado para toda boa obra” (II Tim 3, 16-17).
      O ponto central da Bíblia, convergência de todas as profecias, é Jesus Cristo. O Antigo Testamento é preparação para a sua vinda e o Novo, a realização do seu Reino. “O Novo estava latente no Antigo e o Antigo se esclarece no Novo” (Santo Agostinho).
      Devemos venerar profundamente as Sagradas Escrituras. Mas a religião cristã não é uma “religião do Livro”, como alguns a intitulam. O cristianismo é a religião da Palavra de Deus, não de uma palavra escrita e muda, mas do Verbo encarnado e vivo (São Bernardo). Por isso, proclamamos, ouvimos e acolhemos a Sagrada Escritura como Palavra de Deus, na linha da Tradição Apostólica, da qual é inseparável (Dei Verbum, 20).
      Assim sendo, a Igreja Católica reprova a leitura fundamentalista da Bíblia, que teve sua origem na época da Reforma Protestante e que pretende dar a ela uma interpretação literal em todos os seus detalhes. O “literalismo” propugnado pela leitura fundamentalista constitui uma traição tanto do sentido literal como do espiritual, abrindo caminho a instrumentalizações. O fundamentalismo tende a tratar o texto bíblico como se fosse ditado palavra por palavra pelo Espírito e não chega a reconhecer que a Palavra de Deus foi formulada numa linguagem e numa fraseologia condicionadas a cada época (cf. Bento XVI, Verbum Domini, 44). O fundamentalismo desnatura a mensagem da Palavra de Deus. Tem uma tendência a uma grande estreiteza de visão, considerando, por exemplo, conforme a realidade uma antiga cosmologia já ultrapassada, só porque se encontra expressa na Bíblia; isso impede o diálogo com uma concepção mais ampla das relações entre a cultura e a fé. Quer usar certos textos da Bíblia para confirmar ideias políticas e atitudes sociais marcadas por preconceitos racistas, por exemplo, simplesmente contrários ao Evangelho cristão (cf. Pont. Com. Bíblica – A Interpretação da Bíblia na Igreja).
      No rádio ou na TV, continuamente somos invadidos por mensagens fundamentalistas abrasadas contras os males do nosso tempo: anunciam catástrofes iminentes, possuem um código secreto que predisse certos eventos ocorridos no mundo, opõem-se à presença de mulheres trabalhando fora ou na política, etc., citando sempre a Bíblia ao pé da letra. Esse modo de interpretar é atraente e sedutor, como todo radicalismo, mas acaba por desacreditar e tornar antipática a própria Bíblia. Há que se notar, porém, que, embora o fundamentalismo bíblico tenha nascido no protestantismo, nem todos os evangélicos são fundamentalistas. E o fundamentalismo bíblico também pode atingir os meios católicos.


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