MARIA, MÃE DAS MÃES

        Sábado próximo, dia 13, é dia de Nossa Senhora de Fátima. E domingo próximo é o dia das mães. Ocasião para pedirmos à Virgem Maria por todas as mães.

​        A devoção a Nossa Senhora de Fátima nos veio de Portugal, onde Nossa Senhora apareceu a três pastorinhos, em Fátima, cidade portuguesa. Sua aparição se deu em plena primeira guerra mundial. Depois veio a segunda guerra, pior, quando as forças totalitárias e desastrosas do nazismo de Hitler foram vencidas pelos aliados, entre os quais estava também uma outra força totalitária, não menos desastrosa, o comunismo de Joseph Stalin.

        Em Fátima, Nossa Senhora nos alerta, entre outras coisas, contra o perigo do materialismo comunista e seu esquecimento dos bens espirituais e eternos, erro que, conforme sua predição, vai cada vez mais se espalhando na sociedade moderna, vivendo os homens como se Deus não existisse: o ateísmo prático, o secularismo. Todos os sistemas econômicos, se também adotam o materialismo e colocam o lucro acima da moral e da pessoa humana, assumem os erros do comunismo e acabam se encontrando na exclusão de Deus. Sobre isso, no discurso inaugural do CELAM, em 13 de maio de 2007, em Aparecida, o então Papa Bento XVI alertou: “Aqui está precisamente o grande erro das tendências dominantes do último século... Quem exclui Deus de seu horizonte, falsifica o conceito da realidade e só pode terminar em caminhos equivocados e com receitas destrutivas”. Fátima é, sobretudo, a lembrança de Deus e das coisas sobrenaturais aos homens de hoje.

         Aos pastorinhos e a nós, Nossa Senhora pediu a oração, sobretudo a reza do Terço do Rosário todos os dias, e a penitência, a mortificação nas coisas agradáveis e lícitas, pela conversão dos pecadores e pela nossa santificação e perseverança. Explicou que o pecado, além de ofender muito a Deus, causa muitos males aos homens, sendo a guerra uma das suas consequências. Fátima é o resumo, a recapitulação e a recordação do Evangelho para os tempos modernos. É a mãe que vem lembrar aos filhos o caminho do Céu.

         Celebramos nesse mês o dia das Mães. Lembremo-nos de que ela é nossa mãe do céu, que quer o nosso bem: “Maria é a que sabe transformar, com uns poucos paninhos e uma montanha de ternura, uma gruta de animais numa casa de Jesus e é capaz também de fazer saltar um menino no seio de sua mãe, como escutamos no Evangelho; ela é capaz de dar-nos a alegria de Jesus. Ou seja, Maria é fundamentalmente Mãe... Sim! Maria é Mãe! Por quê? Porque te trouxe Jesus. Maria é Mãe, primeiro, não se pode conceber nenhum outro título de Maria que não seja ‘a Mãe’. Ela é Mãe porque gera Jesus e nos ajuda com a força do Espírito Santo a que Jesus nasça e cresça em nós. É aquela que continuamente nos está dando vida, é a Mãe da Igreja, é maternidade. Não temos direito, e se o fazemos estamos equivocados, a ter psicologia de órfãos, ou seja, o cristão não tem direito de ser órfão. Tem Mãe, temos Mãe” (Papa Francisco, audiência de 25/10/2014).

CRISES NA IGREJA

​Crise significa situação de conflito e tensão. Em medicina, a evolução de uma doença. Crise pode ser para o bem ou para o mal. Situação conflitiva.

​Quando me dizem que o mundo está hoje em crise, eu pergunto: “Quando é que não esteve?” O mesmo vale para a Igreja.

​Estou lendo um livro interessante, intitulado “As crises da Igreja”, de dois autores franceses, Silvie Bernay, leiga consagrada, doutora em história, e Bernard Peyrous, padre, doutor em letras, especialista em história da espiritualidade (Editora Santuário, 2023).

​O primeiro capítulo trata da crise nas origens do cristianismo, o problema do batismo dos primeiros pagãos. São Lucas, evangelista, nos Atos dos Apóstolos, escrito no primeiro século, relata um fato, certamente acontecido antes do ano 50, que provocou uma verdadeira crise no seio da primeira comunidade cristã: o batismo dos primeiros pagãos, o centurião Cornélio e sua família, pelo apóstolo Pedro. Com a mentalidade judaica de ser o povo escolhido, único, contrastava a mensagem de Jesus, o bom Pastor: “Tenho ainda outras ovelhas, que não são deste redil; também a essas devo conduzir, e elas escutarão a minha voz, e haverá um só rebanho e um só pastor” (Jo 10, 16). Essa doutrina começou a ser posta em prática, com o batismo de Cornélio, não sem gerar incômodo e discussão entre os Apóstolos e entre os primeiros cristãos, crise superada no Concílio de Jerusalém, com a autoridade apostólica.

​Nos séculos I-IV, houve as crises de compreensão da pessoa divino-humana de Cristo, surgindo várias heresias, a gnose, o arianismo, o nestorianismo, etc, condenadas pela autoridade da Igreja, nos Concílios ecumênicos.

​Na Idade Média, duas grandes crises aconteceram, com os papas indignos do século X e com a querela das investiduras, nos séculos XI e XII. No século XI (ano 1054), houve ainda a ruptura entre a Igreja de Roma e a Igreja de Constantinopla, surgindo as Igrejas ortodoxas, ferida que ainda persiste no seio do cristianismo. Houve também nesse tempo a crise cátara.

​No século XVI ocorreu a grande explosão da cristandade, com a revolta de Martinho Lutero, lançando as bases da Reforma Protestante, com o princípio do livre exame, que deu origem a uma multidão de seitas, divisões e subdivisões, até hoje.

​A crise das luzes, o Iluminismo, provocou uma ruptura com as mães pátrias: Jerusalém, Atenas e Roma, numa virada que passou do mundo objetivo para o mundo subjetivo. Aparece então a catástrofe da Revolução Francesa.

​Chegamos assim às turbulências do século XX e XXI, com as guerras mundiais, o comunismo e o Concílio Vaticano II, que deu azo à crise atual na Igreja, por parte daqueles que dele se aproveitaram, para, falsamente interpretado, colocarem em prática ideias heterodoxas, que a Igreja, com dificuldade, procura corrigir. As crises devem suscitar a nossa oração, com a confiança em Deus e na sua Igreja: “Non praevalebunt! (Não prevalecerão) (Mt 16,18).                                                                                    

OS CHAMADOS

     Quando alguém se admira ao ver um comportamento não exemplar de algum sacerdote ou religioso, eu pergunto: De onde vêm os sacerdotes, os religiosos e religiosas? Das famílias, é claro. Não do céu ou de algum planeta. Daí que, para termos bons sacerdotes, precisamos melhorar as famílias. O mês de agosto é tradicionalmente o mês vocacional. As vocações vêm das famílias: rezemos pela santificação delas, para serem sementeiras de excelentes vocações.  

Vocação vem do latim “vocare”, chamar. É um chamado de Deus para uma vida a ele consagrada. Jesus mesmo nos mandou rezar pelas vocações: “Ao ver as multidões, Jesus encheu-se de compaixão por elas, porque estavam cansadas e abatidas, como ovelhas que não têm pastor. Então disse aos discípulos: ‘A messe é grande, mas os trabalhadores são poucos. Pedi, pois ao Senhor da messe que envie trabalhadores para sua colheita!” (Mt 9, 36-37). 

Aos Bispos, Sacerdotes, religiosos e seminaristas na Catedral do Rio, durante a JMJ, o Papa Francisco nos falou sobre a necessidade de ter sempre presente a nossa vocação: “Creio que é importante reavivar sempre em nós este fato, para o qual amiúde fazemos vistas grossas entre tantos compromissos cotidianos: ‘Não fostes vós que me escolhestes; fui eu que vos escolhi’, diz Jesus (Jo 15,16). É um caminhar de novo até a fonte de nosso chamado. Por isso um bispo, um sacerdote, um consagrado, uma consagrada, um seminarista, não pode ser um desmemoriado. Perde a referência essencial do início de seu caminho. Pedir a graça, pedir à Virgem Maria - ela tinha boa memória - a graça de termos na memória esse primeiro chamado. Fomos chamados por Deus e chamados para permanecer com Jesus (cf. Mc 3, 14), unidos a ele... É precisamente a ‘vida em Cristo’ que garante nossa eficácia apostólica e a fecundidade de nosso serviço... Não é a criatividade, por mais pastoral que seja, não são os encontros ou os planejamentos que garantem os frutos, embora ajudem e muito, mas o que garante o fruto é sermos fiéis a Jesus, que nos diz com insistência: ‘Permanecei em mim, como eu permaneço em vós’ (Jo 15,4)”.

Há muitas vocações especiais na Igreja. Na vida religiosa, temos o chamado à profissão dos conselhos evangélicos, na qual se segue mais de perto a Cristo, numa vida totalmente consagrada a Deus, à construção da Igreja e à salvação do mundo, a fim de se alcançar a perfeição da caridade, preanunciando assim a glória celeste. 

O Concílio Vaticano II sublinhou uma verdade da Tradição da Igreja: a vocação universal à santidade: “O Senhor Jesus, mestre e modelo divino de toda a perfeição, pregou a todos e a cada um dos seus discípulos, de qualquer condição que fossem, a santidade de vida, de que ele próprio é autor e consumador... Todos os fiéis, seja qual for o seu estado ou classe, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade..., são convidados e obrigados a tender para a santidade e perfeição do próprio estado... ‘Os que se servem deste mundo, não se detenham nele, pois a figura deste mundo passa’ (1 Cor 7,31)” (Lumen Gentium, cap. V).

FÁTIMA, ALTAR DO MUNDO

 

Estou em Portugal, a convite, em um Congresso de Bispos, durante o qual faremos uma peregrinação ao Santuário de Nossa Senhora de Fátima, onde rezarei por todos os amigos.

A expressão “Fátima, altar do mundo”, generalizou-se desde a consagração do mundo ao Imaculado Coração de Maria, feita pelo Papa Pio XII em 31 de outubro de 1942, em plena segunda guerra mundial, atendendo a um pedido de Nossa Senhora feito em 1917. 

Pio XII era chamado “o Papa de Fátima”, pois sua consagração episcopal foi exatamente no dia 13 de maio de 1917, data da primeira aparição de Nossa Senhora em Fátima.

Os Papas têm visitado o Santuário de Fátima: São Paulo VI, São João Paulo II, Bento XVI e o atual Papa Francisco. O Papa São João Paulo II ofereceu ao Santuário de Fátima a bala que quase o vitimou em 13 de maio de 1981, e que passaria a figurar na coroa da imagem que ali é venerada. E os Sumos Pontífices têm consagrado o mundo a Nossa Senhora de Fátima.

Portugal, além de nos ter trazido a fé cristã com os descobridores e os primeiros missionários, também trouxe ao Brasil a devoção a Nossa Senhora de Fátima. Nessa pequena cidade de Portugal, Maria apareceu a três pastorinhos, Lúcia, Jacinta e Francisco, no dia 13 de maio de 1917. Os milagres que acompanharam essa aparição foram testemunhados por milhares de pessoas e pelos jornais da época, até os anticlericais. De lá, essa devoção se espalhou e chegou ao Brasil. São sempre atuais e dignas de recordação as suas palavras e seu ensinamento. Aquelas três simples crianças foram os portadores do “recado” da Mãe de Deus para seus filhos.

O segredo da importância e da difusão de sua mensagem está exatamente na sua abrangência de praticamente todos os problemas da atualidade. “Fátima é no mundo a melhor expressão do Céu” (Mons. Luciano Guerra, reitor do Santuário de 1973 a 2008). 

Ali, Nossa Senhora nos alerta contra o perigo do comunismo e seu esquecimento dos bens espirituais e eternos, erro que, conforme sua predição, vai cada vez mais se espalhando na sociedade moderna: o ateísmo prático, o secularismo. “A Rússia vai espalhar os seus erros pelo mundo”, advertiu ela. A Rússia tinha acabado de adotar o comunismo, aplicação prática da doutrina marxista, ateia e materialista. Mas, se o comunismo, como sistema econômico, fracassou, suas ideias continuam vivas na sociedade atual. E o comunismo é incompatível com o catolicismo. Falando que foi batizado como católico, Raul Castro, presidente de Cuba, quando recebido pelo Papa Francisco, confessou por que abandonou a Igreja: “Sou comunista e não se podia ser membro do Partido Comunista e ser católico” (O Globo 11/6/2015). Ele reconhecia o antagonismo. Foi lógico. Rezemos pela sua conversão e a de Cuba, para que, deixando o comunismo, volte à Igreja, como ele insinuou após sua entrevista com o Papa. 

Fátima é o resumo, a recapitulação e a recordação do Evangelho para os tempos modernos. O Rosário, tão recomendado por Nossa Senhora, é a “Bíblia dos pobres” (São João XXIII). Sua mensagem é sempre atual. É a mãe que vem lembrar aos filhos o caminho do Céu.



HONRA TEU PAI E TUA MÃE

 O Dia das Mães, domingo próximo, apesar de ser um dia marcadamente comercial, não impede que nele expressemos nosso amor e gratidão à nossa genitora, e que reflitamos sobre o Quarto Mandamento da Lei de Deus: “Honra teu pai e tua mãe” (Ex. 20,12). Interessante que esse é o único mandamento que, no Antigo Testamento, traz consigo uma promessa: “a fim de que tenhas uma vida longa...” Quem cumprir esse mandamento será abençoado mesmo aqui nessa terra.

A Bíblia Sagrada, no livro dos Provérbios, está cheia de conselhos e ameaças sobre o amor aos pais: “O filho sábio ouve a doutrina do seu pai; o tolo, porém, não ouve a correção” (Pr 13,1). “O filho sábio alegra o seu pai; e o homem insensato despreza a sua mãe” (Pr 15,20). “Aquele que aflige o seu pai, e que faz fugir sua mãe, é infame e desgraçado” (Pr 19,26). “Ouve o teu pai, que te gerou, e não desprezes tua mãe, quando for velha” (Pr 23,22). “O olho que zomba do pai e falta o respeito para com sua mãe, os corvos que andam à borda das torrentes o arrancarão, e o devorarão as aves de rapina” (Pr 30,17).

E o livro do Eclesiástico ensina: “Como quem acumula tesouros, assim é aquele que honra sua mãe. O que honra seu pai encontrará alegria nos seus filhos, e será atendido no dia da sua oração. O que honra seu pai viverá uma vida larga; e consola sua mãe quem obedece a seu pai. O que teme o Senhor honra seus pais; e servirá, como a seus senhores, aos que o geraram. Honra teu pai por ações, por palavras e com toda a paciência, para que venha sobre ti a sua bênção, e esta bênção permaneça contigo até ao fim. A bênção do pai fortifica a casa dos filhos, e a maldição da mãe a destrói pelos alicerces” (Sr 3, 1-11).

Os filhos serão sempre filhos, como os pais sempre pais. Especialmente na velhice e na doença, quando se requer mais paciência, tolerância e compreensão. Assim a Palavra de Deus: “Filho, ampara a velhice de teu pai, e não o entristeças durante a sua vida. Se a inteligência lhe for faltando, suporta-o, e não o desprezes por teres mais vigor do que ele; porque a caridade exercida com teu pai, não ficará no esquecimento. Porque serás recompensado por teres suportado os defeitos de tua mãe... e no dia da tribulação Deus se lembrará de ti” (Sr 3, 14-17).

O próprio Jesus, Deus feito homem, nos deu o exemplo: apesar de superior a eles pela sua natureza divina, Jesus era submisso aos seus pais (Lc 2,51). Os deveres são mútuos, como adverte São Paulo: “Filhos, obedecei a vossos pais segundo o Senhor; porque isto é justo...” Em contrapartida, ele adverte seriamente aos pais: “Pais, não irriteis vossos filhos. Pelo contrário, criai-os na educação e doutrina do Senhor” (Ef 6, 1-4).

Portanto, os pais não devem provocar os seus filhos, mas trata-los com amor e carinho, pois são filhos de Deus a eles confiados. Quantos filhos são maus por causa dos pais, porque não receberam amor e carinho na família! Pais que não amam seus filhos são realmente desnaturados. E infelizmente eles existem! “Felizes os que andam na lei do Senhor!” (Salmo 118,1).


SÃO FIDÉLIS


Domingo passado, dia 24 de abril, celebramos a festa de São Fidélis, padroeiro da cidade que tem o seu nome, nossa vizinha “cidade poema”, minha terra natal. Neste ano, sua festa teve um brilho especial, pela comemoração dos 400 anos do martírio de São Fidélis, acontecimento em honra do qual a Igreja Matriz foi elevada à categoria de Santuário.

São Fidélis nasceu em Sigmaringen, Alemanha, em 1577. Fez seus estudos na universidade de Friburgo, doutorou-se em filosofia e em Direito civil e eclesiástico. Exerceu com muita distinção e integridade a advocacia e a magistratura. Aos 35 anos, sentindo-se chamado à vida religiosa, distribuiu os seus bens aos pobres e ao seminário e entrou para a ordem dos franciscanos capuchinhos. Foi missionário e grande pregador. Foi guardião de diversos conventos. Assistiu como sacerdote e enfermeiro o exército austro-hispano, particularmente nas epidemias. Enviado pela Congregação para a Propagação da Fé como chefe e diretor da missão, trabalhou entre os Grisões, na Suíça, conseguindo muitas conversões.

Por causa da sua pregação, recebeu muitas ameaças. Corajoso, aceitou o martírio. Em 24 de abril de 1622, pregou em Sévis. Ouviu-se na igreja um tiro de mosquete. Era o aviso. Mas ele estava pronto a derramar o seu sangue pela fé. Foi cercado por um grupo de calvinistas que o assassinaram, pois não quis renegar a sua fé. Tinha 45 anos.

São Fidélis foi o protomártir da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos e da Congregação da Propagação da Fé. Sempre ocupará importante papel na história da Igreja, do mundo, da cidade que leva o seu nome e das nossas vidas.

Para nos situarmos um pouco na história do Brasil e do mundo, quando São Fidélis nasceu, fazia 77 anos que o Brasil tinha sido descoberto e celebrada aqui a primeira Missa, por Frei Henrique de Coimbra. Em torno deste altar e da cruz, nasceu o Brasil cristão.

O Brasil era habitado por índios de várias etnias, tribos e famílias. Em nossa região, os índios Goitacazes e Guarulhos, dos quais se separaram os Puris e Coroados.

São Fidélis foi canonizado em 1746, pelo Papa Bento XIV. Em 1781, vindo de Guarulhos, em Campos dos Goytacazes, chegaram a vila da Gamboa, pelo rio Paraíba do Sul, a pedido dos índios Puris-Coroados, missionários capuchinhos italianos, Frei Ângelo de Luca e Frei Vitório de Cambiasca, para catequisarem os índios. Com eles, fundaram a cidade e construíram a bela e grandiosa Igreja Matriz, em honra do santo da sua ordem religiosa, São Fidélis. Foi a primeira igreja em sua honra após a sua canonização. Em 1799, lançaram a pedra fundamental dessa igreja, que foi inaugurada em 1809.

Em torno da Igreja Matriz, nasceu a cidade de São Fidélis. Assim como o Brasil, que nasceu cristão em torno do altar da primeira Missa e da Cruz (Terra de Santa Cruz), a cidade de São Fidélis nasceu e cresceu em torno da sua Igreja Matriz. Que sempre nos recordemos da nossa origem cristã, legado dos nossos antepassados.

A PAZ ESTEJA CONVOSCO

 

    Em sua mensagem de Páscoa – Urbi et Orbi – para este ano de 2022, o Papa Francisco repete a mensagem de paz de Jesus: “Jesus, o Crucificado, ressuscitou! Veio ter com aqueles que choram por Ele, fechados em casa, cheios de medo e angústia. Veio a eles e disse: «A paz esteja convosco!» (Jo 20, 19). Mostra as chagas nas mãos e nos pés, a ferida no lado: não é um fantasma, é mesmo Ele, o mesmo Jesus que morreu na cruz e esteve no sepulcro. Diante dos olhos incrédulos dos discípulos, repete: «A paz esteja convosco!» (20, 21)”.

“Também os nossos olhos estão incrédulos, nesta Páscoa de guerra. Demasiado sangue, vimos; demasiada violência. Também os nossos corações se encheram de medo e angústia, enquanto muitos dos nossos irmãos e irmãs tiveram de se fechar nos subterrâneos para se defender das bombas. Sentimos dificuldade em acreditar que Jesus tenha verdadeiramente ressuscitado, que tenha verdadeiramente vencido a morte. Terá porventura sido uma ilusão? Um fruto da nossa imaginação?”

“Não; não é uma ilusão! Hoje, mais do que nunca, ressoa o anúncio pascal tão caro ao Oriente cristão: «Cristo ressuscitou! Verdadeiramente ressuscitou!» Hoje mais do que nunca precisamos d’Ele, no termo duma Quaresma que parece não querer acabar. Temos atrás de nós dois anos de pandemia, que deixaram marcas pesadas. Era o momento de sairmos do túnel juntos, de mãos dadas, juntando as forças e os recursos... Em vez disso, estamos demostrando que ainda não existe em nós o Espírito de Jesus, mas existe ainda em nós o espírito de Caim, que vê Abel não como um irmão, mas como um rival, e pensa como há de eliminá-lo. Temos necessidade do Crucificado ressuscitado para acreditar na vitória do amor, para esperar na reconciliação. Hoje mais do que nunca precisamos d’Ele, precisamos que venha colocar-Se no meio de nós e nos diga mais uma vez: «A paz esteja convosco!»”.

“Só Ele o pode fazer. Só Ele tem hoje o direito de anunciar-nos a paz. Só Jesus, porque traz as chagas, as nossas chagas. Aquelas chagas d’Ele são nossas duas vezes: são nossas, porque Lh’as provocamos nós com os nossos pecados, a nossa dureza de coração, o ódio fratricida; e são nossas, porque Ele as traz por nós, não as cancelou do seu Corpo glorioso, quis conservá-las, trazê-las consigo para sempre. São um timbre indelével do seu amor por nós, uma perene intercessão ao Pai celeste para que as veja e tenha misericórdia de nós e do mundo inteiro. As chagas no Corpo de Jesus ressuscitado são o sinal da luta que Ele travou e venceu por nós, com as armas do amor, para podermos ter paz, estar em paz, viver em paz. Contemplando aquelas chagas gloriosas, os nossos olhos incrédulos escancaram-se, os nossos corações endurecidos abrem-se e deixam entrar o anúncio pascal: «A paz esteja convosco!» Irmãos e irmãs, deixemos entrar a paz de Cristo nas nossas vidas, nas nossas casas, nos nossos países!” ...

Irmãos e irmãs, deixemo-nos vencer pela paz de Cristo! A paz é possível, a paz é um dever, a paz é responsabilidade primária de todos!