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AOS PROFESSORES, NOSSOS MESTRES

                                 

         

Dia 15 de outubro próximo, dia de Santa Teresa de Jesus, grande mestra da vida espiritual, e exatamente por isso, é comemorado o dia do professor. Aos mestres, todo o nosso carinho. Deles dependem todos os outros profissionais.

Deixo aqui consignada a minha saudação e gratidão a todos os que se dedicam a essa nobre e benemérita carreira, difícil, mas nem sempre reconhecida e condignamente gratificada. Mais do que uma profissão, educar é uma arte, uma vocação e uma missão: formar, conduzir crianças, jovens e adultos no caminho da verdade, sugerindo opiniões conscientes, aconselhando e tornando-se amigos e irmãos dos seus alunos. Que Deus os abençoe e lhes dê coragem, paciência e perseverança nessa sua verdadeira missão. Missionários da educação!

A melhor definição de educação nós a encontramos no Direito Canônico, conjunto de normas da Igreja (cânon 795): é a formação integral da pessoa humana, dirigida ao seu fim último e, ao mesmo tempo, ao bem comum da sociedade, de modo que as crianças e jovens possam desenvolver harmonicamente seus dotes físicos, morais e intelectuais, adquirir um sentido mais perfeito da responsabilidade e um uso correto da liberdade, preparando-se para participar ativamente da vida social. Que missão nobre, sublime e difícil a do professor-educador! Indicando aos alunos o sentido da vida, ele vai ajudá-los a dominar seus instintos e a dirigi-los pela razão, a desenvolver o conjunto de suas faculdades, a combater as más paixões e desenvolver as boas, a adquirir o domínio de si e a orientar seus sentimentos, levando em conta as diversas fases da vida e as características do seu temperamento, formando assim sua personalidade e seu caráter. Sendo assim, o mestre é cooperador da Graça de Deus, que, como Pai, só quer o bem dos seus filhos. 

Recordo algumas célebres citações que envolvem educação: “Ser-se-á tudo ou nada, conforme a educação recebida” (Clemente XIV). “Educação, o teu nome é paciência” (Marcel Prévost). “Pegam-se mais moscas com uma gota de mel do que com um barril de vinagre” (São Francisco de Sales). “Não há um só de nós que não tenha em si a raiz dum santo ou dum celerado” (Lacordaire). “Educação para a vida, valores para sempre” (Lema do Colégio Três Pastorinhos). “Ser mestre não é só contar a história/ de um certo Pedro Álvares Cabral/ Mas descobrir, de novo, a cada dia, / um mundo grande, livre, fraternal. - Ser mestre não é só mostrar nos mapas/ onde se encontra o Pico da Neblina/ Mas é subir, guiando os alunos,/ à montanha da vida que se empina... Ser mestre é ser o pai, a mãe, o amigo,/ mostrando sempre a direção da luz,/ pois a palavra Mestre – sobretudo –/ também é um dos nomes de Jesus” (Antônio Roberto Fernandes).

            A você, portanto, caro professor e querida professora, a nossa homenagem por ter recebido de Deus tão nobre e importante missão e a nossa gratidão reconhecida pelo seu trabalho, que não se mede pela produção imediata, mas por frutos, muitas vezes escondidos, que só vão aparecer ao longo da vida e que estarão escritos no livro da eternidade. “Os que educaram a muitos para a justiça brilharão como estrelas para sempre” (Dn 12,3).

 

        *Bispo da Administração Apostólica Pessoal

                                                                         São João Maria Vianney

                                                                         http://domfernandorifan.blogspot.com.br/

 

 

UNIDADE E PAZ

 

Vi certa vez um desenho gráfico animado alemão, que descrevia um jovem sobre uma ponte querendo suicidar-se. Chega, então, uma jovem tentando convence-lo a não fazer aquilo. Ela lhe diz: Você cré em Deus? Ele responde: sim. Ela se aproxima mais dele e diz: “Oh! Glória! Que bom!” Você é cristão?” Ela se aproxima mais dele, que responde: “Sou sim”. Aleluia! diz ela, eu também. E se aproxima mais. Você é de qual denominação? Ele diz: “De tal”. Ela exclama: “Aleluia! Eu também”. E chega mais para perto. Ela insiste: “Mas de qual convenção: a do ano 1800 e tanto ou de 1900 e tanto?” Ele responde: “A de 1900 e tanto”. Ela, já do lado dele, empurra-o, gritando: “Morre, desgraçado, eu sou da convenção de 1800 e tanto!

            Essa ficção retrata como a paixão e o fanatismo podem cegar as pessoas, nas divisões e ideologias. Ausência total de compreensão e caridade, numa total rejeição de qualquer diferença. Espírito sectário. E isso lamentavelmente existe também entre os cristãos.

            A Epístola aos Gálatas, tema da nossa meditação neste mês da Bíblia, nos ensina essa união na caridade, virtude cristã por excelência, que procede da fé. “Com efeito, em Jesus Cristo, o que vale é a fé agindo pelo amor: “fides, quae per caritatem operatur” (Gl 5, 6).

            Fariseu de nascimento e formação teológica, Paulo Apóstolo se converteu ao cristianismo, depois do seu encontro pessoal com o Senhor Jesus na estrada de Damasco. Sendo judeu de cultura greco-romana, ele se formou nas comunidades helenistas de Damasco, sendo missionário em Antioquia, na Síria, onde havia judeus helenistas e gentios convertidos, uma realidade multicultural e multirracial. Daí terem surgidos desavenças que ele procura corrigir: “Não há mais judeu ou grego, escravo ou livre, homem ou mulher, pois todos vós sois um só em Cristo Jesus” (Gl 3, 28). “Mas se vos mordeis e vos devorais uns aos outros, cuidado para não serdes consumidos uns pelos outros!” (Gl 5, 15).

            “... infelizmente, este ‘morder e devorar’ existe também hoje na Igreja como expressão duma liberdade mal interpretada. Porventura será motivo de surpresa saber que nós também não somos melhores do que os Gálatas? Que pelo menos estamos ameaçados pelas mesmas tentações? Que temos de aprender sempre de novo o reto uso da liberdade? E que devemos aprender sem cessar a prioridade suprema: o amor?” (Bento XVI, carta aos Bispos 10-3-2009).

            Essa ideia de unidade e paz na comunidade, São Paulo a reforça na Epístola à Igreja em Corinto, onde também havia divisões e rixas. Ele queria combater todo o espírito sectário, que pode aparecer entre os cristãos: “Irmãos, eu vos exorto, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, a que estejais todos de acordo no que falais e não haja divisões entre vós. Pelo contrário, sede bem unidos no mesmo pensamento e na mesma intenção... Informaram-me que está havendo discórdias entre vós. Digo isso, porque cada um de vós diz: ‘Eu sou de Paulo’; outro: ‘Eu sou de Apolo’; outro: ‘eu sou de Cefas’; outro: ‘Eu sou de Cristo’. Acaso Cristo está dividido? Acaso foi Paulo crucificado por vós? Ou foi no nome de Paulo que fostes batizados?...” (1Cor 1, 10-13).

           

                *Bispo da Administração Apostólica Pessoal

                                                                           São João Maria Vianney

                                                                           http://domfernandorifan.blogspot.com.br/

 

 

A ARCA PERDIDA APARECEU

 

O primeiro filme da saga Indiana Jones – Os caçadores da Arca Perdida – traz a história de Indiana Jones e um grupo de nazistas procurando a Arca da Aliança, que Hitler acreditava ter poderes misteriosos para tornar seu exército invencível. Tudo isso é ficção, é claro.

            O que era a Arca da Aliança? O ponto central do povo de Deus no Antigo Testamento era o Tabernáculo, que continha essa Arca da Aliança, sinal vivo da presença de Deus no meio do povo hebreu. A Arca da Aliança era uma urna feita de acácia, madeira incorruptível, revestida de ouro, com uma tampa também de ouro puro, encimada por dois querubins de asas abertas, em gesto de adoração. Essa tampa chamava-se propiciatório, e representava a presença de Deus.  A Arca continha as tábuas da Lei - o Decálogo, os dez mandamentos dados a Moisés - o cetro de Aarão e um pote com o maná, aquele pão milagroso que alimentou o povo durante quarenta anos no deserto. Esta Arca, que era levada em procissões solenes, foi muito honrada e louvada pelo Rei Davi, que a instalou sob a tenda do santuário real de Jerusalém. O rei Salomão a introduziu no Templo de Jerusalém, por ele magnificamente construído. Ao lado da arca se depositava o livro da Lei ou da Aliança, daí o nome de Arca da Aliança.  

            Parece que esta arca teria desaparecido quando da invasão dos babilônios, chefiados por Nabucodonosor, que destruíram Jerusalém e o Templo de Salomão no ano 587 A.C.. O segundo livro dos Macabeus (2, 1-8) diz que, na ocasião, a Arca foi escondida por Jeremias numa gruta do Monte Nebo, local nunca achado, e que reaparecerá no fim dos tempos.

O livro do Apocalipse (Revelação), que trata dos últimos tempos, fala do reaparecimento da Arca: “Abriu-se o Santuário de Deus que está no céu, e apareceu no Santuário a Arca da sua Aliança... Então apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos pés e, sobre a cabeça, uma coroa de doze estrelas. Estava grávida...” (Ap 11, 19 – 12, 2). Quem é essa mulher-mãe, que seria a Arca da Aliança, que teria um filho que governaria todas as nações, a quem o dragão (o demônio), não conseguiria derrotar?

            A Constituição Apostólica Munificentissimus Deus do Papa Pio XII, sobre a definição do dogma da Assunção de Nossa Senhora em corpo e alma ao céu, cita os Santos Padres da Igreja ao interpretar textos da Sagrada Escritura, referindo-se a Nossa Senhora. Assim, a propósito, o Salmo: “Erguei-vos, Senhor,...Vós e a Arca da vossa santificação” (Sl 131, 8). E, na Arca da Aliança, feita de madeira incorruptível e colocada no templo de Deus, viam como que uma imagem do corpo puríssimo da virgem Maria, preservado da corrupção do sepulcro, e elevado a tamanha glória no céu. Do mesmo modo, ao tratar desta matéria, descrevem a entrada triunfal da Rainha na corte celeste, e como se vai sentar à direita do divino Redentor (Sl 44,10.14-16).

            Como Jesus honrou a sua Mãe, honramos nós também a Virgem Maria, a nova Arca da Aliança, que conteve em seu seio, assim como simbolicamente continha a antiga Arca, o Filho de Deus feito homem, Jesus Mestre (os dez mandamentos), o pão da vida eterna, a Eucaristia (o maná), o sumo sacerdote da nova lei (o cetro de Aarão).

 

        *Bispo da Administração Apostólica Pessoal

                                                                         São João Maria Vianney

                                                                         http://domfernandorifan.blogspot.com.br/

 

 

UNIDADE NA DIVERSIDADE DA LITURGIA

 

        Na Carta Apostólica Traditionis Custodes, de 16 de julho último, o Papa Francisco trata do uso da Liturgia Romana antes da reforma de 1970, e relembra que “para promover a concórdia e a unidade da Igreja, com paternal solicitude para com aqueles que em qualquer região aderem às formas litúrgicas anteriores à reforma pretendida pelo Concílio Vaticano II , os meus Veneráveis Predecessores São João Paulo II e Bento XVI, concederam e regulamentaram a faculdade de usar o Missal Romano editado por São João XXIII em 1962.  Desta forma, pretendiam ‘facilitar a comunhão eclesial daqueles católicos que se sentem apegados a algumas formas litúrgicas anteriores’ e não a outras”.

         Mas, como foram necessários reajustes nesta regulamentação, ele o faz, neste Motu Proprio, entregando ao Bispo de cada Diocese, a competência de, “como moderador, promotor e guardião de toda a vida litúrgica da Igreja particular que lhe foi confiada, ... autorizar o uso do Missal Romano de 1962 na sua diocese, segundo as orientações da Sé Apostólica”.

        Nem é preciso dizer que, como católicos, acatamos essa orientação do Papa Francisco.

        Infelizmente, essa intervenção do Papa atual foi provocada pelos abusos de muitos chamados tradicionalistas, que, não observando o que desejava Bento XVI, instrumentalizaram a Missa na forma tradicional para atacar o Papa e o Concílio Vaticano II. Mas esses não são a maioria nem os mais importantes, mas são os que mais gritam e aparecem nas redes sociais. É incomparavelmente maior o número daqueles fiéis que aderem à forma antiga do Rito Romano por razões corretas, nem a instrumentalizam, nem negam a ortodoxia e o valor do Concílio Vaticano II nem a reforma litúrgica dele oriunda, a chamada Missa de Paulo VI, ou a forma normal do Rito Romano. Os justos não poderiam pagar pelos pecadores (cf. Gn18,23-25).

         Nós, da Administração Apostólica, e muitíssimos outros fiéis do mundo inteiro, conservamos a Missa na sua forma antiga, não por motivos heterodoxos, mas por ser uma das riquezas litúrgicas católicas, como bem explicou o Papa São João Paulo II: “Todos os pastores e os outros fiéis devem também ter uma nova consciência não somente da legitimidade, mas também da riqueza que representa para a Igreja a diversidade dos carismas e das tradições da espiritualidade e do apostolado. Esta diversidade constitui assim a beleza da unidade na variedade: tal é a sinfonia que, sob a ação do Espírito Santo, a Igreja faz subir ao Céu” (Motu Proprio Ecclesia Dei Adflicta, 1o de julho de 1988). E pela riqueza, beleza, elevação, nobreza e solenidade das suas cerimônias, pelo seu sentido de mistério, pela sua maior precisão e rigor nas rubricas, segurança contra os abusos, ela se torna um enriquecimento da liturgia católica, una na essência e múltipla nos seus ritos. E cito o grande teólogo e liturgista Cardeal Joseph Ratzinger (depois Bento XVI, hoje papa emérito): “Se bem que haja numerosos motivos que possam ter levado um grande número de fiéis a encontrar refúgio na liturgia tradicional, o mais importante dentre eles é que eles aí encontram preservada a dignidade do sagrado” (Conferência aos Bispos chilenos, Santiago 13/7/1988).

                                                                         *Bispo da Administração Apostólica Pessoal                                                                                                                                                                                                                              São João Maria Vianney

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OS BONS CRISTÃOS

 

Quando se quer conhecer uma empresa ou uma agremiação, o melhor espelho dela são os seus bons membros, que compensam as fraquezas dos maus. Os bons, os que seguem as normas e são corretos, são os que verdadeiramente representam a empresa ou agremiação. Quem quiser conhecer os brasileiros, não deve ir ao presídio. Ali não estão os melhores cidadãos. Mas deve pesquisar as pessoas honradas e cumpridoras dos seus deveres.

            O mesmo acontece com a Igreja. Quem quiser conhece-la, e ela tem vinte séculos, deve olhar, não os hereges ou os maus cristãos, mas os santos. Esses realmente a representam e são exemplos para todos. Esses são os verdadeiros cristãos, os que seguiram os seus ensinamentos.

“A santidade é o rosto mais belo da Igreja” (Papa Francisco – Gaudete et Exsultate, 9). E a Igreja tem santos de todas as condições e classes sociais, a nos ensinar que qualquer um, de qualquer posição ou profissão, pode vir a ser santo. São os modelos de cristãos. 

No último dia 3, foi nos proposta a veneração de São Tomé, apóstolo, muito conhecido pela recusa em acreditar na ressurreição de Jesus, a menos que o visse com seus próprios olhos e tocasse nas cicatrizes de suas chagas. São Gregório Magno comenta que “mais nos serviu para a nossa fé a incredulidade de Tomé, que a fé dos discípulos fiéis”. Pois, tendo Jesus lhe aparecido, o fez tocar nas suas chagas, recebendo dele a firme profissão de fé: “Meu Senhor e meu Deus!”. São João afirma, o que São Tomé corrobora: “O que era desde o princípio, o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e o que as nossas mãos apalparam... nós vos anunciamos” (1Jo 1, 1). Ele pregou o Evangelho na Pérsia, onde foi martirizado pela sua Fé, apagando com o seu sangue, seu pecado de incredulidade.  

Domingo passado, transferido do dia 29 de junho, tivemos a solenidade de São Pedro e São Paulo. Pedro, escolhido de propósito por Jesus para chefe e fundamento da sua Igreja, engloba a fraqueza humana e a força divina que o sustentava e sustenta em seus sucessores, vigários de Cristo na terra. Paulo, fariseu fanático, convertido no encontro com Jesus ressuscitado, tornou-se o grande propagador do cristianismo no mundo pagão greco-romano.

No dia 6, festejamos Santa Maria Goretti, denominada a Santa Inês do século XX, assassinada em 6 de julho de 1902, com 12 anos de idade, porque preferiu morrer a ofender a Deus, pecando contra a castidade, como a queria forçar seu assassino. Era uma menina de família católica, de boa formação. Exemplo de resistência às seduções e assédios.

Dela disse o Papa Pio XII: “Santa Maria Goretti pertence para sempre ao exército das virgens e não quis perder, por nenhum preço, a dignidade e a inviolabilidade do seu corpo. E isso não porque lhe atribuísse um valor supremo, senão porque, como templo da alma, é também templo do Espírito Santo. Ela é um fruto maduro do lar cristão, onde se reza, onde se educam os filhos no temor de Deus e na obediência aos pais. Que o nosso debilitado mundo aprenda a honrar e a imitar a invencível fortaleza desta jovem virgem”.

 

        *Bispo da Administração Apostólica Pessoal

                                                                         São João Maria Vianney

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Estamos na semana da Páscoa, maior festa do calendário cristão, celebração da gloriosa Ressurreição de Jesus Cristo, a sua vitória sobre o pecado, sobre a morte e sobre a aparente derrota da Cruz. Cristo ressuscitou glorioso e triunfante para nunca mais morrer, dando-nos o penhor da nossa vitória e da nossa ressurreição. Choramos a sua Paixão e nos alegramos com a vitória da sua Ressurreição. Para se chegar a ela, para vencer com ele, aprendemos que é preciso sofrer com ele: “Quem quiser vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me” (Mt 16,24). A morte não é o fim. O Calvário não foi o fim. Foi o começo de uma redenção, de uma nova vida. A Páscoa é, portanto, a festa da alegria e a da esperança na vitória futura. 

            “Cristo rompeu a perpetuidade da morte, transformando-a de eterna em temporal. Pois, como em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos reviverão (1 Cor 15,2)” (São Leão Magno, Papa).

            “Ressoa na Igreja espalhada por todo o mundo o anúncio do anjo às mulheres: ‘Não tenhais medo. Sei que buscais Jesus, o crucificado; não está aqui, pois ressuscitou. Vinde, vede o lugar onde jazia’ (Mt 28, 5-6). Este é o ponto culminante do Evangelho, é a Boa Nova por excelência: Jesus, o crucificado, ressuscitou! Este acontecimento está na base da nossa fé e da nossa esperança” (Papa Francisco).

Mesmo tendo sido profetizada por Jesus em diversas ocasiões, como sendo o maior de todas os sinais da sua divindade, os Apóstolos demoraram a crer nela. Eles estavam apavorados com a prisão, o julgamento, a paixão e a morte de Jesus, seu Mestre, e com medo de que o mesmo poderia acontecer com eles. A suposição de que eles poderiam roubar o corpo de Jesus é completamente sem fundamento. Os inimigos de Jesus, fariseus e chefes religiosos, sabiam que ele profetizara sua ressurreição no terceiro dia. Por isso foram a Pilatos e pediram que mandasse soldados guardar com segurança o sepulcro de Jesus, o que foi feito: “puseram em segurança o sepulcro, lacrando a pedra e colocando a guarda” (Mt 27, 66). O fato da ressurreição de Jesus não foi algo inventado pelos Apóstolos, eles mesmos incrédulos e temerosos. Só foram convencidos quando foram ao sepulcro e o encontraram vazio, conforme relataram as santas mulheres, que lá foram primeiro para terminar a unção de seu corpo. Foram convencidos mais ainda quando o Senhor lhes apareceu, mostrou-lhes as chagas e tomou refeição com eles no Cenáculo. Tomé, representando a incredulidade de muitos, só acreditou depois que Jesus lhe fez colocar a mão nas suas chagas e penetrar no seu lado aberto pela lança.

Lamentamos profundamente a morte dos nossos amigos e familiares por essa pandemia. Mas, como cristãos, vivemos de esperança. Cristo venceu a morte e nós também a venceremos e nos encontraremos todos, como esperamos, no Céu junto dele. Foi sua promessa. Ele nos resgatou do pecado e da morte. E nos garantiu: “Não se perturbe o vosso coração!... Vou preparar-vos um lugar” (Jo 14, 1-2).

 

                                                           *Bispo da Administração Apostólica Pessoal

                                                                          São João Maria Vianney

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AS TENTAÇÕES

 


A Quaresma é um tempo próprio para a meditação sobre a nossa vida espiritual, que consiste em uma contínua luta: o combate espiritual contra o mal. Sabemos, pelo catecismo e pela experiência, quais são os três inimigos da nossa alma: o mundo, o demônio e a carne. Contra esses, o combate será contínuo, para perseverarmos no bem. E no combate pelo bem contra o mal, há sempre tentações, vindas desses três inimigos.

            Refletimos nesse tempo (1º Domingo) nas tentações de Jesus no deserto. Preparando-se para o seu ministério público, Jesus passou quarenta dias no deserto, afastado do mundo, mortificando a carne, orando e jejuando. Após esse jejum, ele foi tentado pelo demônio, que ele venceu. Suas tentações representam as três concupiscências (1 Jo 2, 16), que tentam nos seduzir: concupiscência da carne, simbolizada ali pela transformação das pedras em pães para satisfazer a carne faminta, a concupiscência dos olhos, figurada pela ambição de possuir todos os reinos e riquezas deste mundo, e a soberba da vida, representada no desejo ganancioso de ser aplaudido.

            A concupiscência da carne, nossa grande fraqueza e fonte de tentações, engloba de modo especial a impureza, a curiosidade mórbida, a pornografia, os prazeres carnais proibidos, os adultérios, as infidelidades, as traições, as violações, os assédios, etc. Mas abrange também as iras, as inimizades, as rixas, os maus tratos, as violências de todo tipo, as agressões, as injúrias, as maledicências, as calúnias, as fofocas, as mentiras. Todos somos tentados a tudo isso, a que devemos resistir pela oração e vigilância. “Vigiai e orai, para não cairdes em tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26, 41).

            A soberba da vida inclui o orgulho, a presunção, a inveja, a complacência própria, o amor-próprio destemperado, o narcisismo, a empáfia, a vaidade, o sadismo, o desejo de subir à custa de pisar nos outros, o julgar-se melhor do que o próximo, a vanglória, a altivez, os juízos temerários, a desobediência, a revolta, o espírito de crítica, o reparar no defeito dos outros sem olhar os próprios, etc.

            A concupiscência dos olhos engloba a ambição de possuir, o insaciável desejo de ter cada vez mais, a inveja também, que é a tristeza de ver o próximo crescer ou a alegria de vê-lo decrescer, a corrupção, a exploração dos outros menos favorecidos, aproveitando-se da sua situação difícil, o desvio do dinheiro público, a sede do poder, a malversação na administração da coisa pública, o desejo desmensurado de ganhar as eleições a qualquer custo, ainda que seja pela compra dos votos, etc.

            Mas tentação não é pecado. É sugestão e convite para pecar. Mesmo Jesus foi tentado. E venceu as tentações. Não nos admiremos de sermos tentados, desde que resistamos a esses convites e sugestões para o mal. Deus não permite que sejamos tentados acima das nossas forças, dando-nos sempre a graça de resistir, porque Ele “nunca manda o impossível, mas nos ordena que façamos o possível e peçamos o que não nos é possível” (Santo Agostinho).

 

                 

                                                                  *Bispo da Administração Apostólica Pessoal

                                                                   São João Maria Vianney

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PAZ NA SÍRIA

     Por ocasião da oração do “Angelus” deste domingo, dia 1º de setembro, o Papa Francisco fez um urgente apelo pela paz no Oriente Médio: “Hoje, queridos irmãos e irmãs, queria fazer-me intérprete do grito que se eleva, com crescente angústia, em todos os cantos da terra, em todos os povos, em cada coração, na única grande família que é a humanidade: o grito da paz! É um grito que diz com força: queremos um mundo de paz, queremos ser homens e mulheres de paz, queremos que nesta nossa sociedade, dilacerada por divisões e conflitos, possa irromper a paz! Nunca mais a guerra! Nunca mais a guerra! A paz é um dom demasiado precioso, que deve ser promovido e tutelado”.
     O apelo angustioso do Papa refere-se sobretudo à situação da Síria e à perspectiva de sua invasão: “Vivo com particular sofrimento e com preocupação as várias situações de conflito que existem na nossa terra; mas, nestes dias, o meu coração ficou profundamente ferido por aquilo que está acontecendo na Síria, e fica angustiado pelos desenvolvimentos dramáticos que se preanunciam. Dirijo um forte Apelo pela paz! Quanto sofrimento, quanta destruição, quanta dor causou e está causando o uso das armas naquele país atormentado, especialmente entre a população civil e indefesa! Pensemos em quantas crianças não poderão ver a luz do futuro! Condeno com uma firmeza particular o uso das armas químicas! Ainda tenho gravadas na mente e no coração as imagens terríveis dos dias passados! Existe um juízo de Deus e também um juízo da história sobre as nossas ações aos quais não se pode escapar! O uso da violência nunca conduz à paz. Guerra chama mais guerra, violência chama mais violência”.
     “Com todas as minhas forças, peço às partes envolvidas no conflito que escutem a voz da sua consciência, que não se fechem nos próprios interesses, mas que olhem para o outro como um irmão e que assumam com coragem e decisão o caminho do encontro e da negociação, superando o confronto cego. Com a mesma força, exorto também a Comunidade Internacional a fazer todo o esforço para promover, sem mais demora, iniciativas claras a favor da paz naquela nação, baseadas no diálogo e na negociação, para o bem de toda a população síria”.
      “Possa uma corrente de compromisso pela paz unir todos os homens e mulheres de boa vontade! Trata-se de um forte e premente convite que dirijo a toda a Igreja Católica, mas que estendo a todos os cristãos de outras confissões, aos homens e mulheres de todas as religiões e também àqueles irmãos e irmãs que não creem: a paz é um bem que supera qualquer barreira, porque é um bem de toda a humanidade”.
     “Por isso, irmãos e irmãs, decidi convocar para toda a Igreja, no próximo dia 7 de setembro, véspera da Natividade de Maria, Rainha da Paz, um dia de jejum e de oração pela paz na Síria, no Oriente Médio, e no mundo inteiro, e convido também a unir-se a esta iniciativa, no modo que considerem mais oportuno, os irmãos cristãos não católicos, aqueles que pertencem a outras religiões e os homens de boa vontade”.