Nesse tempo de internet, em
que se pode anonimamente falar mal à vontade de todo o mundo, em que se compartilham
notícias sem preocupação com a verdade delas, em que se pode postar boatos que
denigrem o bom nome das pessoas, em que se pode dizer meias verdades que
impressionam e destroem a fama alheia, vale a pena recordar o que dizem os
santos a respeito desse vício, que leva o nome de maledicência. O exagero, a
caricatura, a meia-verdade, a reticência, a suspeita lançada ao ar, são tipos
de maledicência que se assemelham à mentira, e até piores do que ela, por serem
mais sedutoras.
O Catecismo da Igreja Católica
ensina: “Toda pessoa goza de um direito natural à honra do próprio nome, à sua
reputação e ao seu respeito. Dessa forma, a maledicência e a calúnia ferem as
virtudes da justiça e da caridade” (C.I.C. 2479).
“Não procures fazer figura pondo-te a
criticar os outros e aprende a tornar mais perfeita a tua vida antes que
denegrir a dos outros. São verdadeiramente poucos os que sabem afastar-se deste
defeito, e é bem raro encontrar alguém que queira mostrar-se tão
irrepreensível, na sua vida, que não critique com satisfação a vida alheia. Não
há outra coisa, de fato, que ponha a alma em tanto barulho e que torne o
espírito tão volúvel e leviano quanto o prestar fé com facilidade a tudo, e dar
ouvido temerariamente às palavras dos críticos. E daí que surgem discórdias
sobre discórdias e sentimentos de ódio que não têm motivo de ser. É justamente
este defeito que frequentemente torna inimigas pessoas que, antes, eram amigas
do peito. Se este mal está universalmente difuso, se este vício está vivo e
forte em muitos, é justamente porque encontra, quase em todos, ouvidos
complacentes” (São Jerônimo, Carta IV, 148, 16).
“Quem tira injustamente a boa fama ao seu próximo,
além do pecado que comete, está obrigado à restituição inteira e proporcionada
à natureza, qualidade e circunstância da maledicência, porque ninguém pode
entrar no céu com os bens alheios, e entre os bens exteriores a fama e a honra
são os mais preciosos e os mais caros... A maledicência, afinal, proferida a
modo de gracejo, é a mais cruel de todas... Nunca digas: fulano é um bêbado ou
ladrão, mesmo que o vejas uma vez embriagar-se ou roubar; seria uma inverdade,
porque uma só ação não dá nome às coisas... Noé e Ló embriagaram-se uma vez e
nem por isso foi bêbado nenhum dos dois. Nem tão pouco foi São Pedro um
blasfemador e sanguinário, porque blasfemou um dia e feriu um homem uma vez. O
nome de vicioso ou virtuoso supõe um hábito contraído por muitos atos repetidos
do vício ou duma virtude... Todas as coisas aparecem amarelas aos olhos dos achacados
de icterícia... A malícia do juízo temerário, dum modo semelhante a esta
doença, faz aparecer tudo mau aos olhos dos que a apanharam... Eis aí como
devemos julgar do próximo: o melhor possível; e, se uma ação tivesse cem
aspectos diferentes, deveríamos encara-la unicamente pelo lado mais belo” (São
Francisco de Sales, Filoteia).
“Se alguém não peca pela língua, esse é perfeito” (Tg
3, 2).