A ARCA PERDIDA APARECEU

 

O primeiro filme da saga Indiana Jones – Os caçadores da Arca Perdida – traz a história de Indiana Jones e um grupo de nazistas procurando a Arca da Aliança, que Hitler acreditava ter poderes misteriosos para tornar seu exército invencível. Tudo isso é ficção, é claro.

            O que era a Arca da Aliança? O ponto central do povo de Deus no Antigo Testamento era o Tabernáculo, que continha essa Arca da Aliança, sinal vivo da presença de Deus no meio do povo hebreu. A Arca da Aliança era uma urna feita de acácia, madeira incorruptível, revestida de ouro, com uma tampa também de ouro puro, encimada por dois querubins de asas abertas, em gesto de adoração. Essa tampa chamava-se propiciatório, e representava a presença de Deus.  A Arca continha as tábuas da Lei - o Decálogo, os dez mandamentos dados a Moisés - o cetro de Aarão e um pote com o maná, aquele pão milagroso que alimentou o povo durante quarenta anos no deserto. Esta Arca, que era levada em procissões solenes, foi muito honrada e louvada pelo Rei Davi, que a instalou sob a tenda do santuário real de Jerusalém. O rei Salomão a introduziu no Templo de Jerusalém, por ele magnificamente construído. Ao lado da arca se depositava o livro da Lei ou da Aliança, daí o nome de Arca da Aliança.  

            Parece que esta arca teria desaparecido quando da invasão dos babilônios, chefiados por Nabucodonosor, que destruíram Jerusalém e o Templo de Salomão no ano 587 A.C.. O segundo livro dos Macabeus (2, 1-8) diz que, na ocasião, a Arca foi escondida por Jeremias numa gruta do Monte Nebo, local nunca achado, e que reaparecerá no fim dos tempos.

O livro do Apocalipse (Revelação), que trata dos últimos tempos, fala do reaparecimento da Arca: “Abriu-se o Santuário de Deus que está no céu, e apareceu no Santuário a Arca da sua Aliança... Então apareceu no céu um grande sinal: uma mulher vestida do sol, tendo a lua debaixo dos pés e, sobre a cabeça, uma coroa de doze estrelas. Estava grávida...” (Ap 11, 19 – 12, 2). Quem é essa mulher-mãe, que seria a Arca da Aliança, que teria um filho que governaria todas as nações, a quem o dragão (o demônio), não conseguiria derrotar?

            A Constituição Apostólica Munificentissimus Deus do Papa Pio XII, sobre a definição do dogma da Assunção de Nossa Senhora em corpo e alma ao céu, cita os Santos Padres da Igreja ao interpretar textos da Sagrada Escritura, referindo-se a Nossa Senhora. Assim, a propósito, o Salmo: “Erguei-vos, Senhor,...Vós e a Arca da vossa santificação” (Sl 131, 8). E, na Arca da Aliança, feita de madeira incorruptível e colocada no templo de Deus, viam como que uma imagem do corpo puríssimo da virgem Maria, preservado da corrupção do sepulcro, e elevado a tamanha glória no céu. Do mesmo modo, ao tratar desta matéria, descrevem a entrada triunfal da Rainha na corte celeste, e como se vai sentar à direita do divino Redentor (Sl 44,10.14-16).

            Como Jesus honrou a sua Mãe, honramos nós também a Virgem Maria, a nova Arca da Aliança, que conteve em seu seio, assim como simbolicamente continha a antiga Arca, o Filho de Deus feito homem, Jesus Mestre (os dez mandamentos), o pão da vida eterna, a Eucaristia (o maná), o sumo sacerdote da nova lei (o cetro de Aarão).

 

        *Bispo da Administração Apostólica Pessoal

                                                                         São João Maria Vianney

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O BISPO NA IGREJA

 

Celebramos no domingo passado a solenidade da Assunção de Nossa Senhora, ou seja, a verdade de fé, baseada na Tradição, que ensina que Jesus, querendo honrar a sua Mãe, especialmente aquele corpo onde foi formada a sua humanidade, levou Maria Santíssima de corpo e alma para o Céu, antecipando assim, por especialíssimo privilégio, o destino reservado a todos os justos com a vitória sobre a morte e a ressurreição da carne. Jesus, como bom filho, glorificando a sua Mãe, antecipa o ponto culminante da condição escatológica da Igreja.

Há 19 anos, numa festa da Assunção de Nossa Senhora que, naquele ano de 2002 se festejou no domingo, dia 18 de agosto, eu recebia a ordenação episcopal, oficiada pelo saudoso Cardeal Dom Darío Castrillón Hoyos, prefeito da Sagrada Congregação para o Clero. A ele e a todos os que cooperaram para que esse dia acontecesse minha imorredoura gratidão. Faço menção especial dos saudosos Dom Antônio de Castro Mayer, Bispo que me ordenou sacerdote, Dom Carlos Alberto Navarro, que muito ajudou na solução do impasse na Diocese de Campos, Dom Licínio Rangel, meu antecessor e sustentáculo, e Dom Roberto Guimarães, o então Bispo Diocesano.

A Sagração de um Bispo é algo da maior importância na Igreja. Trata-se da perpetuação da sucessão apostólica, pois Jesus enviou os Apóstolos e “quis que os sucessores deles, os Bispos, fossem pastores na sua Igreja até ao fim dos tempos” (Lumen Gentium, 18). São aqueles que “o Espírito Santo colocou como Bispos para reger a Igreja de Deus” (At 20,28). Em comunhão com o Papa, “cada Bispo é o princípio e o fundamento visível da unidade da sua Igreja particular, formada à imagem da Igreja universal: nas quais e a partir das quais resulta a Igreja Católica una e única” (ibidem, 23). Cada celebração eucarística é feita em união não só com o próprio Bispo, mas também com o Papa...” (Eccl. de Eucharistia, S. J. Paulo II, 39). Conforme nos lembra agora o Papa Francisco, os Bispos são os guardas da Tradição doutrinária e litúrgica, da fidelidade ao Magistério e à comunhão com o Papa (“Traditionis custodes” - Lumen Gentium).

E, no caso da nossa Administração Apostólica Pessoal, Igreja particular equiparada a uma Diocese (CDC Cânon 368), torna-se necessário um Bispo próprio, nomeado pelo Papa, para custodiar essa unidade de doutrina e a fidelidade e comunhão com o Sumo Pontífice e o Magistério da Igreja, evitando qualquer risco de cisma. Sem a sua autoridade isso se tornaria difícil e mesmo impossível, dadas as características da Administração Apostólica, com costumes e um rito próprio, o rito romano antigo. Foi o que a Santa Sé desejou e almejou, quando criou a Administração Apostólica, com um Bispo próprio com sucessores, como prometeu São João Paulo II, em união com o qual se celebra a Santa Missa e se demonstra a comunhão com o Papa e com a Igreja. E isso em perfeita comunhão com o Bispo Diocesano local, hoje Dom Roberto Francisco Ferrería Paz, nosso irmão e amigo, a quem pertence a jurisdição territorial. A ele e à Igreja prestamos esse serviço de guardar esse rebanho da Administração Apostólica na plena comunhão eclesial.

Graças a Deus, em nossa ação, fora do âmbito jurisdicional da nossa Administração Apostólica, a pedido dos fiéis, os Bispos, em cujas dioceses exercemos o ministério com as devidas faculdades dadas por eles próprios, são unânimes em dizer que já seguimos as orientações dadas agora pelo Papa Francisco, agindo sempre em perfeita comunhão com eles e seguindo suas orientações. Por isso, não houve problemas para nós com o Motu Proprio Traditionis Custodes, pois já seguimos essas orientações agora lembradas pelo Papa. Somos contra qualquer instrumentalização da Missa no rito romano antigo, como meio de atacar o Magistério da Igreja, os Sumos Pontífices e o Concílio Vaticano II. Isso falei pessoalmente ao Papa Francisco, que ficou ciente e tranquilo quanto à nossa posição. 

A Administração Apostólica, por graça de Deus e concessão da Santa Sé, conserva o Rito Romano da Missa na sua forma antiga, não por motivos heterodoxos, mas por ser uma das riquezas litúrgicas católicas, como bem explicou o Papa São João Paulo II, ao falar sobre esse assunto: “Todos os pastores e os outros fiéis devem também ter uma nova consciência não somente da legitimidade, mas também da riqueza que representa para a Igreja a diversidade dos carismas e das tradições da espiritualidade e do apostolado. Esta diversidade constitui assim a beleza da unidade na variedade: tal é a sinfonia que, sob a ação do Espírito Santo, a Igreja faz subir ao Céu” (M. P. Ecclesia Dei, 1o de julho de 1988). E pela riqueza, beleza, elevação, nobreza e solenidade das suas cerimônias, pelo seu sentido de mistério, pela sua maior precisão e rigor nas rubricas, segurança contra os abusos, ela se torna um enriquecimento da liturgia católica, una na essência e múltipla nos seus ritos. E cito o grande teólogo e liturgista Cardeal Joseph Ratzinger (depois Bento XVI): “Se bem que haja numerosos motivos que possam ter levado um grande número de fiéis a encontrar refúgio na liturgia tradicional, o mais importante dentre eles é que eles aí encontram preservada a dignidade do sagrado” (Conferência aos Bispos, Santiago 13/7/1988). 

Que Deus conserve sempre a nossa Administração Apostólica na plena comunhão da Igreja e que Deus dê a fidelidade, a mim e a meus sucessores, a essa missão, para a qual conto com o apoio e as orações de todos. “Ecce venio: eis que venho para fazer a vossa vontade” (Hb 10,9).

 

        *Bispo da Administração Apostólica Pessoal

                                                                         São João Maria Vianney

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A ALEGRIA DO AMOR NA FAMÍLIA

 

Teve início, com o dia dos pais, mais uma Semana Nacional da Família, com o tema “A alegria do amor na família, a chamada “igreja doméstica”, com o lema: “Dá e recebe, e alegra a ti mesmo” (Sir 14,1).

Nestes tempos difíceis, os problemas se tornam uma oportunidade de crescimento, de amadurecimento, de vivência mais profunda da fé (cf. Papa Francisco, Amoris Laetitia). Precisamos, pois, “resgatar a alegria do amor na família. Uma alegria cheia de sentido, profunda, aquela que brota do coração de cada lar cristão, como fruto do fortalecimento dos vínculos conjugais que unem os filhos e vencem juntos obstáculos e crises, porque foram sustentados pela fé. Somente um verdadeiro amor pode trazer a alegria que vem de Deus. A família que persevera na oração, usa de criatividade para oferecer seus dons à comunidade eclesial na caridade, abrir as portas de sua casa, de modo que a igreja doméstica seja evangelizadora, em saída, para tocar e santificar o mundo. Mas também suas portas estarão abertas para acolher, acompanhar, discernir e integrar todos os casais e as famílias que precisam reencontrar a fonte do verdadeiro amor e da verdadeira alegria: Jesus Cristo” (Dom Ricardo Hoepers, Bispo presidente da Comissão Episcopal da CNBB para a Vida e a Família).

A Igreja sempre deu enorme importância à família, tratando-a como “Igreja doméstica e santuário da vida”, porque ambas nos transmitem a Fé: “tal como uma mãe ensina os seus filhos a falar e, dessa forma, a compreender e a comunicar, a Igreja, nossa Mãe, ensina-nos a linguagem da fé, para nos introduzir na inteligência e na vida da fé” (C.I.C. n.171).

E o Papa Francisco nos recorda o quanto “é importante que os pais cultivem as práticas comuns de fé na família, que acompanhem o amadurecimento da fé dos filhos” (Carta Enc. Lumem Fidei, 53). E nos ensinou a rezar assim: “Sagrada Família de Nazaré, tornai também as nossas famílias lugares de comunhão e cenáculos de oração, escolas autênticas do Evangelho e pequenas Igrejas domésticas”. Assim, reinará o amor e a alegria nas famílias.

            A alegria do amor que se vive nas famílias é também o júbilo da Igreja. Apesar dos numerosos sinais de crise no matrimônio, o desejo de família permanece vivo, especialmente entre os jovens... Cada família tem diante de si o ícone da família de Nazaré, com o seu dia-a-dia feito de fadigas e até de pesadelos, como quando teve que sofrer a violência incompreensível de Herodes, experiência que ainda hoje se repete tragicamente em muitas famílias de refugiados descartados e inermes. Como os Magos, as famílias são convidadas a contemplar o Menino com sua Mãe, a prostrar-se e adorá-Lo. Como Maria, são exortadas a viver, com coragem e serenidade, os desafios familiares tristes e entusiasmantes, e a guardar e meditar no coração as maravilhas de Deus. No tesouro do coração de Maria, estão também todos os acontecimentos de cada uma das nossas famílias, que ela guarda solicitamente. Por isso pode ajudar-nos a interpretá-los de modo a reconhecer a mensagem de Deus na história familiar” (Papa Francisco, Amoris Laetitia).

 

        *Bispo da Administração Apostólica Pessoal

                                                                         São João Maria Vianney

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O DIA DO PADRE

 

Hoje é o dia de cumprimentarmos todos os nossos sacerdotes, que seguindo a sua vocação, se tornaram “outro Cristo”, seus ministros, dedicando-se totalmente às nossas almas, esgotando-se ao seu “serviço”, não tendo outra profissão que a dedicação a Deus e à sua Igreja.

            Por que hoje? Porque hoje se celebra o patrono de todos os padres, São João Maria Vianney, o Cura ou Pároco da cidadezinha francesa de Ars, “modelo sem par, para todos os países, do desempenho do ministério e da santidade do ministro”, no dizer de São João Paulo II, paradigma para a nova evangelização. 

Nascido de uma família de camponeses católicos e muito caridosos, João Maria tinha sete anos quando o “Terror” da Revolução Francesa reinava em Paris e os padres eram exilados ou mortos. Recebeu a primeira comunhão aos treze anos, durante o segundo Terror, quando a igreja de sua cidade foi fechada e as tropas revolucionárias atravessavam a paróquia. O governo revolucionário estabeleceu a constituição civil do clero e só os padres que faziam esse juramento cismático eram conservados nos cargos. Os outros padres, fiéis à Igreja e que não aceitavam aquele cisma, eram perseguidos, mas atendiam secretamente os fiéis nos paióis das fazendas. Foi a visão desses heróis da fé que fez surgir no jovem Vianney a sua vocação sacerdotal. Candidato, pois, ao heroísmo e à cruz no ministério.

Enfrentou dificuldades no Seminário, donde chegou a ser despedido por incapacidade nos estudos, teve problemas com o serviço militar, conseguiu, porém, aos vinte e nove anos, ser ordenado sacerdote, mas sem permissão para ouvir confissões. Após três anos, foi enviado a uma pequeníssima paróquia, Ars, onde permaneceu durante 42 anos, até o fim da sua vida.

“Há pouco amor de Deus nessa paróquia”, disse-lhe o Vigário Geral ao nomeá-lo, “Vossa Reverendíssima procurará colocá-lo lá”. De fato, Ars, nesse período pós Revolução Francesa, estava esquecida de Deus: pouca frequência às Missas, trabalho contínuo nos domingos, bailes, blasfêmias, etc. O Pe.Vianney começou com penitências e orações próprias. Pregação e catequese contínuas, visitas às famílias e caridade para com os pobres. A Igreja foi se enchendo. Ouvia confissões desde a madrugada até a noite. Peregrinos de toda a França acorriam a Ars, chegando a cem mil por ano. Suas pregações eram assistidas por bispos e cardeais. Seu catecismo era ouvido por grandes pregadores que ali vinham aprender com tanta sabedoria. Morreu aos 74 anos, esgotado pelas penitências e trabalhos apostólicos no ministério sacerdotal. Dizia esse herói da Fé: “É belo morrer depois de ter vivido na cruz”.

Durante a JMJ, na Missa na Catedral do Rio, o Papa Francisco nos lembrou: “Não é a criatividade, por mais pastoral que seja, não são os encontros ou os planejamentos que garantem os frutos, embora ajudem e muito, mas o que garante o fruto é sermos fiéis a Jesus, que nos diz com insistência: ‘Permanecei em mim, como eu permaneço em vós’ (Jo 15,4)”. Rezemos sempre pelos nossos sacerdotes. Sua santificação nos interessa muito.

 

        *Bispo da Administração Apostólica Pessoal

                                                                         São João Maria Vianney

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