Estou em Portugal, Sintra, onde vim
participar, a convite, como todos os anos, de um Congresso internacional para
Bispos, este ano com a presença de 134 Bispos, incluídos 5 Cardeais, de 50
países, promovido pelo Acton Institute,
instituição universitária americana voltada para estudos de economia e
sociologia à luz da Doutrina social da Igreja. O congresso deste ano versa
sobre: “Fé, Razão e a Sociedade Justa”.
Faz parte também do Congresso uma
peregrinação dos Bispos ao Santuário de Nossa Senhora em Fátima, onde rezarei
por todas as nossas intenções diante dos graves problemas políticos, religiosos
e morais da nossa sociedade brasileira e mundial.
A
Doutrina Social da Igreja, tratada nesse congresso, abarca todos os problemas
da chamada “Justiça Social”. Eis o que nos ensina o seu Magistério, expresso no
Catecismo da Igreja Católica:
Sociedade
Justa é aquela na qual se pratica a justiça social, ou seja, quando realiza as
condições que permitem a todos, associações e cada membro seu, obter o que lhes
é devido conforme sua natureza e sua vocação. A justiça social está ligada ao
bem comum e ao exercício da autoridade (CIC 1928). Só se pode conseguir a
justiça social no respeito à dignidade transcendente do homem. A pessoa
representa o fim último da sociedade, que por sua vez lhe está ordenada. Nisso
todos são responsáveis. E o respeito à pessoa humana implica que se respeitem
os direitos que decorrem da sua dignidade de criatura de Deus. Esses direitos
são anteriores à sociedade e se lhe impõem. São eles que fundam a legitimidade
moral de toda autoridade. Sem esse respeito, uma autoridade só pode apoiar-se
na força ou na violência para obter a obediência de seus súditos.
O
respeito pela pessoa humana passa pelo respeito deste princípio: “Que cada um
respeite o próximo, sem exceção, como ‘outro eu’, levando em consideração antes
de tudo sua vida e os meios necessários para mantê-la dignamente. Nenhuma lei
seria capaz, por si só, de fazer desaparecer os temores, os preconceitos, as
atitudes de orgulho e egoísmo que constituem obstáculos para o estabelecimento
de sociedades verdadeiramente fraternas. Esses comportamentos só podem cessar
com a caridade, que vê em cada homem um “próximo”, um irmão. O dever de
tornar-se próximo do outro e servi-lo ativamente se torna ainda mais urgente
quando este se acha mais carente, em qualquer setor que seja. “Todas as vezes
que fizestes a um destes meus irmãos menores, a mim o fizestes”, disse Jesus
(Mt 25, 40).
Este
mesmo dever se estende àqueles que pensam ou agem diferentemente de nós. A
doutrina de Cristo vai até o ponto de exigir o perdão das ofensas. Estende o mandamento
do amor, que é o da nova lei, a todos os inimigos. A libertação no espírito do
Evangelho é incompatível com o ódio ao inimigo, como pessoa, mas não com o ódio
ao mal que este pratica, como inimigo (cf. CIC 1928-1933).