Sobre
o uso das armas disse Jesus: “Quem não tiver espada, venda o manto para comprar
uma” (Lc 22, 36). E: “Todos os que usam da espada, pela espada perecerão” (Mt
26, 52).
Sobre
essa questão do uso das armas, recordo a posição da Igreja sobre a legítima
defesa e o desarmamento. As duas posições, aparentemente contraditórias, podem
se conciliar.
A legítima defesa é doutrina claramente
exposta no Catecismo da Igreja Católica: “Quem
defende a sua vida não é réu de homicídio, mesmo que se veja constrangido a
desferir sobre o agressor um golpe mortal... A legítima defesa pode ser não
somente um direito, mas até um grave dever para aquele que é responsável pela
vida de outrem...” “os detentores legítimos da autoridade têm o direito de
recorrer mesmo às armas para repelir os agressores da comunidade civil
confiada à sua responsabilidade” (nn.2263-67). Portanto, há a
possibilidade e até a necessidade de se estar armado: a polícia, o exército, um
pai de família que mora na zona rural, as autoridades e seus guarda-costas,
etc.
Outra coisa é a guerra cultivada e a
corrida armamentista desenfreada. Contra essas é que a Igreja se opõe: o
cultivo da guerra e a violência com o uso das armas. É nesse sentido que se
deve entender o que disse Dom Orlando Brandes, nosso caro Arcebispo de
Aparecida: “Para ser pátria amada não pode ser pátria armada!”
Ouçamos a voz dos Papas:
“É
necessário que com seriedade e lealdade se proceda a uma limitação
progressiva e adequada dos armamentos (…) Segundo a medida que se realizar
o desarmamento, será preciso estabelecer meios apropriados, honrosos para todos
e eficazes” (Ven. Pio XII 24/12/1941).
“A
justiça, a reta razão e o sentido da dignidade humana terminantemente exigem
que se pare com essa corrida ao poderio militar, que o material de guerra,
instalado em várias nações, se vá reduzindo duma parte e doutra,
simultaneamente, que sejam banidas as armas atômicas; e, finalmente, que se
chegue a um acordo para a gradual diminuição dos armamentos, na base de
garantias mútuas e eficazes” (S. João
XXIII, Pacem in Terris, 1963).
“Se vós quereis ser irmãos, deixai
cair as armas das vossas mãos. Não se pode amar com armas ofensivas nas
mãos” (S. Paulo VI, ONU, 4/10/1965)
“A manutenção da paz
mundial exige enérgica tomada de posição em favor dos direitos humanos e
esforços resolutos para um desarmamento geral” (S. João Paulo II, 28/10/1982).
“O
desarmamento não diz respeito unicamente aos armamentos dos Estados,
mas compromete todos os homens, chamados a desarmar o
próprio coração e a ser em toda a parte construtores de paz (…) não se pode
descuidar o efeito que os armamentos provocam no estado de espírito e no
comportamento do homem. Com efeito, as armas por sua vez tendem a alimentar a
violência” (Bento XVI, 10/4/2008).
“Rezemos
para que no mundo prevaleçam os programas de desenvolvimento e não aqueles
para os armamentos” (Francisco,28/9/2018).
*Bispo
da Administração Apostólica Pessoal
São João Maria Vianney
http://domfernandorifan.blogspot.com.br/