SÃO FIDÉLIS


Domingo passado, dia 24 de abril, celebramos a festa de São Fidélis, padroeiro da cidade que tem o seu nome, nossa vizinha “cidade poema”, minha terra natal. Neste ano, sua festa teve um brilho especial, pela comemoração dos 400 anos do martírio de São Fidélis, acontecimento em honra do qual a Igreja Matriz foi elevada à categoria de Santuário.

São Fidélis nasceu em Sigmaringen, Alemanha, em 1577. Fez seus estudos na universidade de Friburgo, doutorou-se em filosofia e em Direito civil e eclesiástico. Exerceu com muita distinção e integridade a advocacia e a magistratura. Aos 35 anos, sentindo-se chamado à vida religiosa, distribuiu os seus bens aos pobres e ao seminário e entrou para a ordem dos franciscanos capuchinhos. Foi missionário e grande pregador. Foi guardião de diversos conventos. Assistiu como sacerdote e enfermeiro o exército austro-hispano, particularmente nas epidemias. Enviado pela Congregação para a Propagação da Fé como chefe e diretor da missão, trabalhou entre os Grisões, na Suíça, conseguindo muitas conversões.

Por causa da sua pregação, recebeu muitas ameaças. Corajoso, aceitou o martírio. Em 24 de abril de 1622, pregou em Sévis. Ouviu-se na igreja um tiro de mosquete. Era o aviso. Mas ele estava pronto a derramar o seu sangue pela fé. Foi cercado por um grupo de calvinistas que o assassinaram, pois não quis renegar a sua fé. Tinha 45 anos.

São Fidélis foi o protomártir da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos e da Congregação da Propagação da Fé. Sempre ocupará importante papel na história da Igreja, do mundo, da cidade que leva o seu nome e das nossas vidas.

Para nos situarmos um pouco na história do Brasil e do mundo, quando São Fidélis nasceu, fazia 77 anos que o Brasil tinha sido descoberto e celebrada aqui a primeira Missa, por Frei Henrique de Coimbra. Em torno deste altar e da cruz, nasceu o Brasil cristão.

O Brasil era habitado por índios de várias etnias, tribos e famílias. Em nossa região, os índios Goitacazes e Guarulhos, dos quais se separaram os Puris e Coroados.

São Fidélis foi canonizado em 1746, pelo Papa Bento XIV. Em 1781, vindo de Guarulhos, em Campos dos Goytacazes, chegaram a vila da Gamboa, pelo rio Paraíba do Sul, a pedido dos índios Puris-Coroados, missionários capuchinhos italianos, Frei Ângelo de Luca e Frei Vitório de Cambiasca, para catequisarem os índios. Com eles, fundaram a cidade e construíram a bela e grandiosa Igreja Matriz, em honra do santo da sua ordem religiosa, São Fidélis. Foi a primeira igreja em sua honra após a sua canonização. Em 1799, lançaram a pedra fundamental dessa igreja, que foi inaugurada em 1809.

Em torno da Igreja Matriz, nasceu a cidade de São Fidélis. Assim como o Brasil, que nasceu cristão em torno do altar da primeira Missa e da Cruz (Terra de Santa Cruz), a cidade de São Fidélis nasceu e cresceu em torno da sua Igreja Matriz. Que sempre nos recordemos da nossa origem cristã, legado dos nossos antepassados.

A PAZ ESTEJA CONVOSCO

 

    Em sua mensagem de Páscoa – Urbi et Orbi – para este ano de 2022, o Papa Francisco repete a mensagem de paz de Jesus: “Jesus, o Crucificado, ressuscitou! Veio ter com aqueles que choram por Ele, fechados em casa, cheios de medo e angústia. Veio a eles e disse: «A paz esteja convosco!» (Jo 20, 19). Mostra as chagas nas mãos e nos pés, a ferida no lado: não é um fantasma, é mesmo Ele, o mesmo Jesus que morreu na cruz e esteve no sepulcro. Diante dos olhos incrédulos dos discípulos, repete: «A paz esteja convosco!» (20, 21)”.

“Também os nossos olhos estão incrédulos, nesta Páscoa de guerra. Demasiado sangue, vimos; demasiada violência. Também os nossos corações se encheram de medo e angústia, enquanto muitos dos nossos irmãos e irmãs tiveram de se fechar nos subterrâneos para se defender das bombas. Sentimos dificuldade em acreditar que Jesus tenha verdadeiramente ressuscitado, que tenha verdadeiramente vencido a morte. Terá porventura sido uma ilusão? Um fruto da nossa imaginação?”

“Não; não é uma ilusão! Hoje, mais do que nunca, ressoa o anúncio pascal tão caro ao Oriente cristão: «Cristo ressuscitou! Verdadeiramente ressuscitou!» Hoje mais do que nunca precisamos d’Ele, no termo duma Quaresma que parece não querer acabar. Temos atrás de nós dois anos de pandemia, que deixaram marcas pesadas. Era o momento de sairmos do túnel juntos, de mãos dadas, juntando as forças e os recursos... Em vez disso, estamos demostrando que ainda não existe em nós o Espírito de Jesus, mas existe ainda em nós o espírito de Caim, que vê Abel não como um irmão, mas como um rival, e pensa como há de eliminá-lo. Temos necessidade do Crucificado ressuscitado para acreditar na vitória do amor, para esperar na reconciliação. Hoje mais do que nunca precisamos d’Ele, precisamos que venha colocar-Se no meio de nós e nos diga mais uma vez: «A paz esteja convosco!»”.

“Só Ele o pode fazer. Só Ele tem hoje o direito de anunciar-nos a paz. Só Jesus, porque traz as chagas, as nossas chagas. Aquelas chagas d’Ele são nossas duas vezes: são nossas, porque Lh’as provocamos nós com os nossos pecados, a nossa dureza de coração, o ódio fratricida; e são nossas, porque Ele as traz por nós, não as cancelou do seu Corpo glorioso, quis conservá-las, trazê-las consigo para sempre. São um timbre indelével do seu amor por nós, uma perene intercessão ao Pai celeste para que as veja e tenha misericórdia de nós e do mundo inteiro. As chagas no Corpo de Jesus ressuscitado são o sinal da luta que Ele travou e venceu por nós, com as armas do amor, para podermos ter paz, estar em paz, viver em paz. Contemplando aquelas chagas gloriosas, os nossos olhos incrédulos escancaram-se, os nossos corações endurecidos abrem-se e deixam entrar o anúncio pascal: «A paz esteja convosco!» Irmãos e irmãs, deixemos entrar a paz de Cristo nas nossas vidas, nas nossas casas, nos nossos países!” ...

Irmãos e irmãs, deixemo-nos vencer pela paz de Cristo! A paz é possível, a paz é um dever, a paz é responsabilidade primária de todos!

A CRUZ E AS CRUZES

Estamos na Semana Santa, a mais importante do ano litúrgico, memória dos últimos acontecimentos da vida de Jesus, sua Paixão, Morte na Cruz e sua Ressurreição, a nossa Páscoa. 

Nesses últimos tempos, em que todos temos sofrido por diversos modos, vale a pena refletir sobre o valor do sofrimento, inerente à nossa condição humana, preço da nossa finitude e, também, dos nossos pecados. Teremos uma luz especial contemplando o Calvário, teatro dos sofrimentos de Cristo, que abraçou a sua cruz por amor, exemplo de como devemos aceitar a nossa cruz e os nossos sofrimentos, por amor a Ele e ao nosso próximo.

No Calvário, havia três cruzes, porque Jesus foi crucificado entre dois ladrões (Mt 27, 38), para, como queriam seus inimigos, sua maior humilhação, cumprindo assim a profecia de Isaías (Is 53,12): “Ele foi contado entre os criminosos” (Lc 22,37).

Um dos ladrões crucificados com Jesus, Gestas, blasfemava contra Deus e injuriava a Jesus. Revoltado, não aceitou a sua cruz. E assim terminou muito mal os seus dias. 

O outro ladrão, também crucificado, Dimas, repreendeu o seu companheiro: “‘Nem sequer temes a Deus, tu que sofres a mesma pena? Para nós, é justo sofrermos, pois estamos recebendo o que merecemos; mas ele não fez nada de mal’. E acrescentou: ‘Jesus, lembra-te de mim, quando entrares no teu reino’. Ele lhe respondeu: ‘Em verdade te digo: hoje estarás comigo no paraíso’” (Lc 23 39-43). 

Duas cruzes iguais, mas recebidas de modo diferente: um, revoltado; o outro, conformado, penitente, humilde: por isso ganhou o perdão de Jesus. Que maravilha essa misericórdia e esse perdão de Jesus! Esse ladrão, que agonizou e morreu ao seu lado, no Calvário, não era um dos seus amigos. Não viveu com Jesus, nem sequer o conhecia. Conheceu-o no julgamento, quando o viu flagelado e coroado de espinhos, proclamando que era Rei e que tinha um reino. E teve a coragem e a humildade de pedir, no Reino de Jesus, um lugar, que a sua misericórdia não teve coragem de lhe negar. Jesus demonstra aqui o que é o amor, a misericórdia e o perdão. Ele pediu uma lembrança e recebeu de Jesus a promessa do Paraíso. Que valor tem a oração acompanhada do sofrimento! Foi o primeiro santo canonizado em vida, por Jesus: São Dimas, o bom ladrão!

Na cruz onde pagava seus crimes, o Bom Ladrão praticou todas as virtudes: a Fé, reconhecendo em Jesus o Rei Messias, a humildade, confessando os próprios pecados que lhe fizeram merecer a morte de cruz, a caridade e o apostolado para com o outro ladrão, dando-lhe bons conselhos, a paciência e a oração, pedindo a Jesus que se lembrasse dele. 

Mas a Cruz mais importante do Calvário é a de Jesus: nela nós encontramos todas as lições: “A alegria do amor, a resposta ao drama da tribulação e do sofrimento, a força do perdão face à ofensa recebida e a vitória da vida sobre o vazio da morte” (Bento XVI, Porta Fidei, 13). 

Feliz Páscoa para todos, com a vitória de Jesus Ressuscitado!   


                            


FAKENEWS SOBRE JESUS

     Fakenews é a palavra inglesa que significa notícia falsa. É objeto do VIII Mandamento da Lei de Deus: “Não apresentarás falso testemunho contra teu próximo” (Ex 20,16), que proíbe falsear a verdade nas relações com os outros, falta de retidão moral perante Deus que é e quer a verdade. Deus é veraz (Rm 3,4), por isso nós somos chamados a viver na verdade. Mentir é contra a lei natural, por contrariar a expressão do pensamento. O falar ou o exprimir-se deve ser conforme ao que se pensa. Jesus ensina a seus discípulos o amor incondicional da verdade: “Seja o vosso ‘sim’, sim, e o vosso ‘não’, não’ (Mt 5, 37). A verdade como retidão do agir e da palavra humana tem o nome de veracidade, sinceridade ou franqueza. A verdade ou a veracidade é a virtude que consiste em mostrar-se verdadeiro no agir e no falar, guardando-se da duplicidade, da simulação e da hipocrisia. 

Segundo Santo Tomás de Aquino, os homens não poderiam viver juntos se não tivessem confiança recíproca, quer dizer, se não manifestassem a verdade uns aos outros. 

As ofensas à verdade são: a mentira, o falso testemunho, o juízo temerário, a maledicência, quando se revela, sem razão, os defeitos e as faltas dos outros (todos têm direito ao bom nome), a calúnia, quando, por palavras contrárias à verdade, se prejudica a reputação dos outros e se dá ocasião a falsos juízos a respeito deles. São atos que destroem o bom nome e a honra do próximo. A maledicência e a calúnia ferem as virtudes da justiça e da caridade (cf. CIC). 

Na sociedade moderna, os meios de comunicação social exercem um papel primordial na informação, na promoção cultural e na formação, a serviço do bem comum. Há muitos modos de se mentir, faltar à verdade. As meias verdades são até piores do que a mentira clara, pois enganam mais, por terem semelhança com a verdade. Imagens, fotografias, legendas, manchetes, podem ser fakenews, por revelarem apenas uma parte da verdade e insinuarem a mentira. É fakenews dar ênfase a um pronunciamento ou a uma sua parte, ênfase que na realidade não tem. É fakenews caricaturar alguém ou uma notícia, ressaltando maliciosamente aquilo que se pretende criticar. É fakenews dar só uma versão ou uma parte da notícia. Fatos são fatos, mas a versão dos fatos pode ser enganosa. É fakenews manipular os fatos ou parte deles, para influenciar as pessoas.

Nem Jesus escapou da mentira e da calúnia, feitas pelos seus inimigos. As fakenews da época. Jesus falava do seu reino, que não era desse mundo. Começaram a espalhar que ele queria derrubar o império romano. Jesus recebia os pecadores e os exortava à conversão. Foi acusado de andar com as prostitutas. Falando do templo do seu corpo, profetizou a sua ressurreição após três dias. Acusaram-no de querer destruir o templo de Jerusalém para reedifica-lo em três dias. Falou contra a ganância, mas pagou o tributo quando lhe vieram cobrar e disse para dar a César o que é de César. No tribunal o acusaram de impedir o povo de pagar o tributo a César. Na sua ressurreição triunfante, inegável, seus inimigos subornaram os soldados para dizerem que haviam roubado o corpo do Senhor enquanto eles dormiam (Mt 28, 11-15).