Que Natal tão diferente /Do Natal dos outros
anos, / A saudade e os desenganos / Enchendo a alma da gente! - Muitos amigos
partiram / Sem lhes darmos nosso abraço / Nem pra beijos houve espaço, / Só
as lágrimas seguiram. - Em Belém, não houve luz / Uma noite sem amigos / Pastores,
pobres, mendigos / Cercaram o rei Jesus. - Jesus nasceu, noite escura, / Em
sua morte, escuridão. / Ele é luz, ressurreição, / A terra ficou mais
pura. - Que Ele nos traga alegria / A um mundo tão sofredor. / Que Natal de
pandemia! / Natal de tristeza e dor! - Natal de brilho e de luz / Natal de uma
só estrela / Aquela sim a mais bela / Pois é o Menino Jesus!
Escrevi esse singelo poema para o ano de 2020. Mas se
aplica ainda ao presente ano.
O primeiro Natal, do qual celebramos a memória, foi
realmente alegre e feliz. Que alegria e que felicidade! Nasceu Jesus, o Messias,
prometido desde o paraíso perdido, esperado desde Adão pelos Patriarcas, razão
de ser do povo eleito, o Salvador da humanidade, o Senhor feito homem. E os
anjos anunciaram aos pastores essa felicidade. A aparição da estrela misteriosa
fez renascer a felicidade no coração dos Magos que vieram do Oriente.
“Eis que vos anuncio uma grande alegria para todo o povo:
nasceu o Salvador, o Cristo, o Senhor” (Lc 2,10-11). “A aparição daquela estrela os encheu de
grandíssima alegria” (Mt 2,10).
Mas como pode ter sido feliz um Natal cheio de sofrimentos?
Segundo a filosofia, felicidade é o estado constituído pelo
acúmulo de todos os bens com a ausência de todos os males (Cícero, Tusculanes
V,10 – Boécio, De Cons. Phil. III, p.2, 2).
Então, como poderemos chamar feliz um Natal onde houve
desprezo, rejeição – Jesus nasceu numa estrebaria por falta de lugar para Ele
nas casas e nas hospedarias -, lágrimas, gritos, morte, luto – Herodes,
perseguindo Jesus, mandou matar as crianças de Belém – fuga, desterro, pobreza,
sacrifícios?
Realmente, felicidade perfeita, na definição
filosófica, só se encontrará no Céu, na Jerusalém celeste, onde Deus “enxugará
toda a lágrima dos seus olhos e já não haverá morte, nem luto, nem grito, nem
dor, porque tudo isto passou” (Ap 21,4). É a grande lição do Natal: pode-se ser
feliz no desterro, na dor, no desprezo, no luto, até com lágrimas, aqui na
terra.
Aqui, o que faz a felicidade é a esperança: “alegres
pela esperança, pacientes na tribulação” (Rom 12,12). O cristão é otimista pela
esperança. É feliz porque faz o bem e espera. Mesmo quando sofre. Mesmo no meio
dos sofrimentos, angústias e dores, pode-se ter a felicidade.
Por isso, o primeiro Natal foi cheio de
felicidade. Porque lá estava Jesus, penhor da esperança, fonte da alegria e da felicidade,
a luz, a estrela do Natal. E alegres e felizes estavam Nossa Senhora e São
José.
A pobre estrebaria de Belém era o Céu. Ali
faltava tudo e não faltava nada. Ali estava a felicidade e a alegria. Este é o
segredo da felicidade. Assim, o meu FELIZ NATAL PARA VOCÊ!
*Bispo da
Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianney
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