O meu último artigo – “um
manuscrito polêmico” -, na verdade uma crônica em forma de parábola, criada por
mim, não sem base na história da Igreja primitiva, nos Evangelhos e nos Atos,
com aplicação aos tempos atuais, foi uma forma de mostrar que sempre houve
problemas e falhas humanas na Igreja, olhados com bom e com mau espírito. Hoje,
como antigamente, diante da crise atual na Igreja e de tantos escândalos e
heresias até nos meios eclesiais, muitos católicos se encontram, com razão, perplexos
e até desarvorados, com risco de perderem a fé. Alguns, ponderados, sabem
entender e distinguir o joio do trigo, o bem e o mal, ficando com o bem e
jogando fora e combatendo o mal. Outros atacam tudo, e até a Igreja como tal,
caindo no mau espírito de crítica e lançando suspeitas sobre as pessoas.
Por isso,
escrevi aquele artigo, com o fim de reforçar a nossa fé na divindade da Igreja
e nunca nos esquecermos da presença contínua do seu Divino Fundador e sua ação
divina, através do Divino Espírito Santo, garantia da sua indefectibilidade e
infalibilidade: “Eu estarei convosco todos os dias até a consumação dos
séculos” (Mt 28,20). A Barca de Pedro nunca afundará (Mt 16,18). Muitos, ao
verem-na balançando no meio das tempestades, duvidaram, pularam fora dela e
pereceram, enquanto ela continua firme: “esta Sé de São Pedro permanece imune de todo erro,
segundo a promessa de Nosso Divino Salvador feita ao Príncipe de Seus
Apóstolos: ‘Eu roguei por ti, para que tua Fé não desfaleça; e tu, uma vez
convertido, confirma teus irmãos’ (Lc 22,32). Pois este carisma da verdade e da
fé, que nunca falta, foi conferido a Pedro e a seus sucessores nesta
cátedra...” (Conc. Ecum. Vaticano I,
Constituição Dogmática Pastor Aeternus, sobre a Igreja de Cristo).
As “fontes” do “manuscrito” estão no Novo Testamento. Jesus
chamou Judas e permitiu sua presença (Mt 10, 4), porque é bom e misericordioso,
dando uma chance de mudança para todos até o final. Os apóstolos, mesmo vendo
as ambições de Judas, não imaginavam que ele fosse até à traição.
A presença de
pessoas más na Igreja foi explicada por Jesus na parábola da rede de pesca: “o
Reino dos Céus (a Igreja) é semelhante a uma rede que, lançada ao mar, colheu peixes
de todo tipo...”. A separação dos maus dos justos só acontecerá no fim do mundo
(Mt 13, 47-50). Na parábola do joio e do trigo, ele reforça a ideia da mistura
de bons e maus em sua Igreja, que ele permite até o fim dos tempos (Mt 13,
24-30). Quem desejava uma Igreja feita só de pessoas boas e puras eram os
hereges “cátaros”. Quem pensa em uma Igreja só de santos, deve aguardar o Céu.
Os fariseus sempre criticaram Jesus, sistematicamente,
observando-o continuamente para ver se o apanhavam em algum deslize (Lc 6, 7 e
Mt 22, 15). Os saduceus eram incrédulos (At 23 8), mas se uniam aos fariseus
(Mt 16, 1). Sabe-se que toda comparação claudica e toda parábola é um tanto
obscura, nem todos as entendiam. Mas os destinatários entendiam: “os fariseus
ouviram as parábolas de Jesus e entenderam que estava falando deles” (Mt 21,
45).
As divergências na Igreja primitiva são descritas nos
Atos dos Apóstolos (At 6,1). “Alguns da seita dos fariseus, que haviam abraçado
a fé, protestaram...” (At 15, 5).
São Paulo combateu os judaizantes, judeus cristãos que
queriam que se conservassem as práticas do judaísmo, especialmente a
circuncisão, e, por isso, resistiu a Pedro (Gl 2, 11-14). Depois disso, “por
causa dos judeus que se encontravam nessas regiões”, circuncidou Timóteo (At
16,3). As circunstâncias eram diferentes. São
Gregório louva a discrição de São Paulo. E São João Crisóstomo, explicando o
caso de São Paulo ter circuncidado Timóteo, atribui tantas
conversões, que são descritas no versículo 5 desse mesmo capítulo, ao
esforço de São Paulo pela concórdia (Cornélio a Lápide, ad
rem).
Ouçamos
o conselho do grande São Bento, em sua regra, sobre a maledicência e a crítica
de mau espírito: “Há um zelo mau, de amargura, que separa de Deus e conduz ao
inferno” (Cap. 72, v.1) “Há caminhos considerados retos pelos homens cujo fim
mergulha até o fundo do inferno” (VII, 21).
A bênção, D Rifan!
ResponderExcluirSe S Paulo errou pelo que fez não contradiz seu ensino doutrinário, mas simplesmente falhou e, o apóstolo, como qualquer outro ser humano, era sujeito ao erro, não comprometeu a doutrina da Igreja nascente.
S Paulo, fazendo Timóteo circuncidar-se, não é necessariamente inconsistente com o que ele ensinou em Gálatas, são casos são diferentes como disse o Revmo Bispo, pois se opunha violentamente a quem quer que fizesse a circuncisão como <>, porém não se opôs a ela como proveitosa para a evangelização.
Ele disse: “Procedi, para com os judeus, como judeu, a fim de ganhar os judeus; para os que vivem sob o regime da lei, como se eu mesmo assim vivesse, para ganhar os que vivem debaixo da lei, embora não esteja eu debaixo da lei” 1 Co 9.20.
Entretanto, quando os judaizantes insistiram que “se não vos circuncidardes segundo o costume de Moisés, não podeis ser salvos” At 15.1, então S Paulo tomou dura posição oposta à circuncisão pois nesse caso envolvia contradição à doutrina, aí ele não admitiu!
E, pelo que sei, continua em pleno vigor: "Fora da Igreja não há salvação"; infelizmente diversos deixando-a por causa de falhas pessoais de membros do clero mas chafurdando-se no relativismo protestante em particular, como se lá se redimissem, não distinguindo o Cristo-Igreja de membros dela!.
Faltou entre setas "como necessária para a salvação"
ResponderExcluirObrigado, Giorgyi, pelo seu comentário bem explicativo.
ResponderExcluirGostei muito da explicação de Dom Rifan porque fala da nossa realidade, nos previne contra o radicalismo e nos alerta para o perigo das heresias. Que o bom Deus nos ilumine nas estradas da vida.
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