VÓS SOIS O SAL DA TERRA

        Há pouco, dia 13 de junho, celebramos Santo Antônio, o santo do mundo todo. Grande taumaturgo e exímio pregador, suas palavras ecoaram em vários outros grandes pregadores, entre os quais o grande Padre Antônio Vieira, um dos maiores oradores da língua portuguesa.
          É conhecido o sermão milagroso de Santo Antônio aos peixes, em Rimini. Aproveitando o tema, o Padre Vieira utiliza o mesmo estratagema de Santo Antônio: pregar aos peixes alegoricamente, pregando realmente aos homens. Eis alguns trechos do exórdio do célebre sermão de Vieira:
            “Vós, diz Cristo Senhor nosso, falando aos pregadores, sois o sal da terra: e chama-lhes sal da terra, porque quer que façam na terra, o que faz o sal. O efeito do sal é impedir a corrupção, mas quando a terra se vê tão corrupta como está a nossa, havendo tantos nela que têm ofício de sal, qual será, ou qual pode ser a causa desta corrupção? Ou é porque o sal não salga, ou porque a terra se não deixa salgar. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores não pregam a verdadeira doutrina; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes, sendo verdadeira a doutrina que lhes dão, a não querem receber. Ou é porque o sal não salga, e os pregadores dizem uma coisa e fazem outra; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes querem antes imitar o que eles fazem, que fazer o que dizem; ou porque o sal não salga, e os pregadores se pregam a si, e não a Cristo; ou porque a terra se não deixa salgar, e os ouvintes em vez de seguir a Cristo, servem a seus apetites. Não é tudo isto verdade?”  
            Lembremo-nos de que as palavras de Jesus “vós sois o sal da terra” é dirigida primeiramente aos ministros ordenados da Igreja, Papa, Bispos, sacerdotes e diáconos. Mas, também, ela se refere a todos os cristãos, como aquelas palavras “ide fazer discípulos entre todas as nações” (Mt 28,19). Assim, as reflexões do Padre Vieira atingem a todos os cristãos, quando reclama da corrupção existente, porque ou o sal não salga ou a terra não se deixa salgar. Se acontece com os pregadores oficiais, será que também não acontece com os cristãos leigos, também eles testemunhas, que creem numa doutrina, mas praticam outra? Que dizem uma coisa e fazem outra? Que são cristãos fervorosos nos domingos e pagãos durante a semana? É também do Padre Vieira a célebre frase: “Palavras sem exemplo são tiros sem balas”.
            “Suposto, pois, que ou o sal não salgue, ou a terra não se deixe salgar, que se há de fazer a este sal, e que se há de fazer a esta terra? O que se há de fazer ao sal, que não salga, Cristo o disse logo: ‘Não vale nada, a não ser para ser jogado fora e pisado pelas pessoas’ (Mt 5, 13). Se o sal perder a substância e a virtude, e o pregador faltar à doutrina e ao exemplo, o que se lhe há de fazer é lança-lo fora como inútil, para que seja pisado de todos. Quem se atrevera a dizer tal coisa, se o mesmo Cristo a não pronunciara? Assim como não há quem seja mais digno de reverência e de ser posto sobre a cabeça, que o pregador, que ensina e faz o que deve, assim é merecedor de todo o desprezo, e de ser metido debaixo dos pés, o que com a palavra ou com a vida prega o contrário”. 

2 comentários:

  1. É preciso pregar a palavra de Deus e viver essa palavra santa em todos os momentos da nossa vida, por isso peçamos a Jesus que nos ajude a viver o seu evangelho.

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  2. A bênção, D Fernando!
    O sal, abordado no contexto acima sob a ótica bíblica e docente de Jesus tem, ao que me parece, a cada vez mais se tornado insosso, servindo apenas para ser levado para os aterros sanitários, já que não cumprido a devida função; hoje tem mais mesmo é dessalgado.
    Nesse caso, o sal tem de funcionar como agente a partir da Alta Hierarquia até às camadas populares; quando a superior, mesmo em parte que não funcionaria a contento, muito menos a inferior, dividida em múltiplos afazeres e preocupações, sempre desinformada sob forma de dissimulado ensinamento pela mídia engenhosa de como sutilmente perverter o povo.
    Algumas provas disso:
    - O crescimento vertical da imoralidade pública das mulheres - sinal visível de degradação de um povo, ousadamente até nas celebrações da S Missa - e grande parte em todos os lugares, vestindo-se piores que as mulheres às portas de motéis aguardando clientes.
    - A desmedida corrupção se intensificando em todos os lugares sob as mais diversas modalidades.
    - Um povo de tradição católica sob as patas de um governo comunista e todos praticamente silentes - salvas as exceções - implantando-se devido à frouxidão e/ou apostasia cristã!
    N Senhora do Bom Sucesso para os secs XIX e XX, para esse caso:
    “A atmosfera saturada do espírito de impureza que, à maneira de um mar imundo, correrá pelas ruas, praças e logradouros públicos… Quase não haverá almas virgens no mundo. A delicada flor da virgindade, tímida e ameaçada de completa destruição, luzirá de longe” (II, 135).
    Porta aberta para o divórcio, concubinato, filhos ilegítimos, educação laica em muitas ditas famílias que, à noite, se reúnem assistindo às pérfidas novelas ou programas similares, equivalendo-se a irem juntos à boemia para aprenderem tudo quanto seja afastarem-se de Deus; ao inverso, instruírem-se de como se filiarem a Satã!
    E mais:
    “Tempos funestos sobrevirão, nos quais, cegando na própria claridade aqueles que deveriam defender em justiça os direitos da Igreja, sem temor servil nem respeito humano, darão a mão aos inimigos da Igreja para fazer o que estes quiserem”.
    Do lado de lá, os soturnos Vindice e Nubius em 1824 poderiam estar pagando pelos crimes que perpetravam para ocorrerem depois de uns 100 anos adiante...


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