A coerência é uma virtude cristã
que deve penetrar todas as nossas ações e atitudes. Pensar, viver e agir
conforme a nossa fé e nossas convicções cristãs. Caso contrário, seremos
hipócritas e daremos um grande contra-testemunho do nosso cristianismo. A
consciência é única e unitária, e não dúplice. Não se age como cristão na
Igreja e como pagão fora dela.
Mas será já
existiu um político cristão verdadeiramente coerente? Sim, ele existiu, e a Igreja o proclamou padroeiro dos Governantes
e dos Políticos, exatamente porque soube ser coerente com os princípios morais
e cristãos até ao martírio. O belo filme da sua vida, em português, intitula-se
“O homem que não vendeu sua alma!”. Trata-se do mártir São Tomás More. Lorde Chanceler do Reino da
Inglaterra, por não ter aceitado o divórcio e o cisma do rei Henrique VIII, foi
condenado à morte por traição e decapitado em 1535. Preferiu perder o cargo e a
vida a trair sua consciência.
“O Concílio exorta os cristãos, cidadãos de
ambas as cidades [terrena e celeste], a que procurem cumprir fielmente os seus
deveres terrenos, guiados pelo espírito do Evangelho. Afastam-se da verdade os
que, sabendo que não temos aqui na terra uma cidade permanente, mas que vamos
em demanda da futura, pensam que podem por isso descuidar os seus deveres
terrenos, sem atenderem a que a própria fé ainda os obriga mais a cumpri-los,
segundo a vocação própria de cada um. Mas não menos erram os que, pelo
contrário, opinam poder entregar-se às ocupações terrenas, como se estas fossem
inteiramente alheias à vida religiosa, a qual pensam consistir apenas no
cumprimento dos atos de culto e de certos deveres morais. Este divórcio
entre a fé que professam e o comportamento quotidiano de muitos deve ser
contado entre os mais graves erros do nosso tempo” (Gaudium et Spes, 43).
O ensinamento social da
Igreja não é uma intromissão no governo do País, mas traz um dever moral de
coerência aos fiéis leigos, no interior da sua consciência. “Não pode
haver, na sua vida, dois caminhos paralelos: de um lado, a chamada vida
‘espiritual’, com os seus valores e exigências, e, do outro, a chamada vida
‘secular’, ou seja, a vida de família, de trabalho, das relações sociais, do
empenho político e da cultura” (São João Paulo II, Christif. Laici, 59).
“Reconhecendo muito embora a autonomia da
realidade política, deverão se esforçar os cristãos solicitados a entrarem na
ação política por encontrar uma coerência entre as suas opções e o
Evangelho” (Paulo VI, Octogésima
Adveniens, 46). “Também para o cristão é válido que, se ele quiser viver a
sua fé numa ação política, concebida como um serviço, não pode, sem se
contradizer a si mesmo, aderir a sistemas ideológicos ou políticos que se
oponham radicalmente, ou então nos pontos essenciais, à sua mesma fé e à sua
concepção do homem...” (idem, 26).
Possa o exemplo de Santo
Tomás More ensinar aos governantes e políticos, atuais e futuros, que o homem
não pode se separar de Deus, nem a política da moral, e que a consciência não
se vende por nenhum preço, mesmo que isto nos custe caro e até a própria vida.
Peçamos ao nosso bom Deus que nos ajude a construir um mundo melhor, mais justo e mais fraterno.
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