O BISPO NA IGREJA

 

Celebramos no domingo passado a solenidade da Assunção de Nossa Senhora, ou seja, a verdade de fé, baseada na Tradição, que ensina que Jesus, querendo honrar a sua Mãe, especialmente aquele corpo onde foi formada a sua humanidade, levou Maria Santíssima de corpo e alma para o Céu, antecipando assim, por especialíssimo privilégio, o destino reservado a todos os justos com a vitória sobre a morte e a ressurreição da carne. Jesus, como bom filho, glorificando a sua Mãe, antecipa o ponto culminante da condição escatológica da Igreja.

Há 19 anos, numa festa da Assunção de Nossa Senhora que, naquele ano de 2002 se festejou no domingo, dia 18 de agosto, eu recebia a ordenação episcopal, oficiada pelo saudoso Cardeal Dom Darío Castrillón Hoyos, prefeito da Sagrada Congregação para o Clero. A ele e a todos os que cooperaram para que esse dia acontecesse minha imorredoura gratidão. Faço menção especial dos saudosos Dom Antônio de Castro Mayer, Bispo que me ordenou sacerdote, Dom Carlos Alberto Navarro, que muito ajudou na solução do impasse na Diocese de Campos, Dom Licínio Rangel, meu antecessor e sustentáculo, e Dom Roberto Guimarães, o então Bispo Diocesano.

A Sagração de um Bispo é algo da maior importância na Igreja. Trata-se da perpetuação da sucessão apostólica, pois Jesus enviou os Apóstolos e “quis que os sucessores deles, os Bispos, fossem pastores na sua Igreja até ao fim dos tempos” (Lumen Gentium, 18). São aqueles que “o Espírito Santo colocou como Bispos para reger a Igreja de Deus” (At 20,28). Em comunhão com o Papa, “cada Bispo é o princípio e o fundamento visível da unidade da sua Igreja particular, formada à imagem da Igreja universal: nas quais e a partir das quais resulta a Igreja Católica una e única” (ibidem, 23). Cada celebração eucarística é feita em união não só com o próprio Bispo, mas também com o Papa...” (Eccl. de Eucharistia, S. J. Paulo II, 39). Conforme nos lembra agora o Papa Francisco, os Bispos são os guardas da Tradição doutrinária e litúrgica, da fidelidade ao Magistério e à comunhão com o Papa (“Traditionis custodes” - Lumen Gentium).

E, no caso da nossa Administração Apostólica Pessoal, Igreja particular equiparada a uma Diocese (CDC Cânon 368), torna-se necessário um Bispo próprio, nomeado pelo Papa, para custodiar essa unidade de doutrina e a fidelidade e comunhão com o Sumo Pontífice e o Magistério da Igreja, evitando qualquer risco de cisma. Sem a sua autoridade isso se tornaria difícil e mesmo impossível, dadas as características da Administração Apostólica, com costumes e um rito próprio, o rito romano antigo. Foi o que a Santa Sé desejou e almejou, quando criou a Administração Apostólica, com um Bispo próprio com sucessores, como prometeu São João Paulo II, em união com o qual se celebra a Santa Missa e se demonstra a comunhão com o Papa e com a Igreja. E isso em perfeita comunhão com o Bispo Diocesano local, hoje Dom Roberto Francisco Ferrería Paz, nosso irmão e amigo, a quem pertence a jurisdição territorial. A ele e à Igreja prestamos esse serviço de guardar esse rebanho da Administração Apostólica na plena comunhão eclesial.

Graças a Deus, em nossa ação, fora do âmbito jurisdicional da nossa Administração Apostólica, a pedido dos fiéis, os Bispos, em cujas dioceses exercemos o ministério com as devidas faculdades dadas por eles próprios, são unânimes em dizer que já seguimos as orientações dadas agora pelo Papa Francisco, agindo sempre em perfeita comunhão com eles e seguindo suas orientações. Por isso, não houve problemas para nós com o Motu Proprio Traditionis Custodes, pois já seguimos essas orientações agora lembradas pelo Papa. Somos contra qualquer instrumentalização da Missa no rito romano antigo, como meio de atacar o Magistério da Igreja, os Sumos Pontífices e o Concílio Vaticano II. Isso falei pessoalmente ao Papa Francisco, que ficou ciente e tranquilo quanto à nossa posição. 

A Administração Apostólica, por graça de Deus e concessão da Santa Sé, conserva o Rito Romano da Missa na sua forma antiga, não por motivos heterodoxos, mas por ser uma das riquezas litúrgicas católicas, como bem explicou o Papa São João Paulo II, ao falar sobre esse assunto: “Todos os pastores e os outros fiéis devem também ter uma nova consciência não somente da legitimidade, mas também da riqueza que representa para a Igreja a diversidade dos carismas e das tradições da espiritualidade e do apostolado. Esta diversidade constitui assim a beleza da unidade na variedade: tal é a sinfonia que, sob a ação do Espírito Santo, a Igreja faz subir ao Céu” (M. P. Ecclesia Dei, 1o de julho de 1988). E pela riqueza, beleza, elevação, nobreza e solenidade das suas cerimônias, pelo seu sentido de mistério, pela sua maior precisão e rigor nas rubricas, segurança contra os abusos, ela se torna um enriquecimento da liturgia católica, una na essência e múltipla nos seus ritos. E cito o grande teólogo e liturgista Cardeal Joseph Ratzinger (depois Bento XVI): “Se bem que haja numerosos motivos que possam ter levado um grande número de fiéis a encontrar refúgio na liturgia tradicional, o mais importante dentre eles é que eles aí encontram preservada a dignidade do sagrado” (Conferência aos Bispos, Santiago 13/7/1988). 

Que Deus conserve sempre a nossa Administração Apostólica na plena comunhão da Igreja e que Deus dê a fidelidade, a mim e a meus sucessores, a essa missão, para a qual conto com o apoio e as orações de todos. “Ecce venio: eis que venho para fazer a vossa vontade” (Hb 10,9).

 

        *Bispo da Administração Apostólica Pessoal

                                                                         São João Maria Vianney

                                                                         http://domfernandorifan.blogspot.com.br/

 

 

 

0 comentários:

Postar um comentário

Seu comentário é muito bem vindo. Que Deus o abençõe.