Terminado o Carnaval, cabe alguma
reflexão sobre as diversões. O Carnaval se tornou uma festa totalmente profana
e nada edificante. Ao lado de desfiles deslumbrantes das escolas de samba, com
todo o seu requinte, fantasias fascinantes, exposição de luxo, vaidade e também
despudor, presencia-se uma verdadeira bacanal de embriaguez, orgias e festas
mundanas, onde se pensa que tudo é permitido. Infelizmente, há muito tempo que
o Carnaval deixou de ser apenas um folguedo popular, uma festa quase inocente,
uma diversão até certo ponto sadia.
Segundo
uma teoria, a origem da palavra “carnaval” vem do latim “carne vale”, “adeus à
carne”, pois no dia seguinte começava o período da Quaresma, tempo em que os
cristãos se abstêm de comer carne, por penitência. Daí que, ao se despedirem da
carne na terça-feira que antecede a Quarta-Feira de Cinzas, se fazia uma boa
refeição, comendo carne evidentemente, e a ela davam adeus. Tudo isso, só
explicável no ambiente cristão, deu origem a uma festa nada cristã. Vê-se como
o sagrado e o profano estão bem próximos, e este pode contaminar aquele. Como
hoje acontece com as festas religiosas, quando o profano que nasce em torno do
sagrado, acaba abafando-o e profanando. Isso ocorre até no Natal e nas festas
dos padroeiros das cidades e vilas. O acessório ocupa o lugar do principal, que
fica prejudicado, esquecido e profanado.
Comovidos e chocados, choramos os jovens
da boate de Santa Maria, rezamos por eles e lamentamos as graves negligências
que causaram o desastre. Mas cabe uma reflexão de caráter geral: nos
noticiários após a tragédia, pôde-se conhecer a imensa quantidade de boates ou
casas noturnas que pululam nas cidades e como milhares de jovens as frequentam.
E, segundo o testemunho deles, tomam bebidas alcoólicas antes, durante e depois
das baladas, sem falar em outras drogas que aparecem nesses ambientes. Assim
fica muito difícil ter bons reflexos em situações de perigo. Sexo, bebidas,
drogas etc.: é só assim que se divertem nossos jovens? É dessa maneira que
teremos uma juventude responsável, sadia, honesta e feliz, da qual virá o
futuro? É só no pecado que conseguem se alegrar? É uma boa reflexão para a
Campanha da Fraternidade deste ano, cujo tema é “Fraternidade e Juventude”, que
coincide com a Quaresma.
É claro que existe uma diversão sadia.
São Francisco de Sales reflete: “A necessidade dum divertimento honesto, para
dar certa expansão ao espírito e alívio ao corpo, é universalmente
reconhecida... Muito defeituosa é aquela severidade de alguns espíritos rudes,
que nunca querem permitir um pouco de repouso nem para si nem para os outros”.
Mas ele recomenda a modéstia e a temperança nas diversões, guardando sempre o
coração longe do pecado. E completava: “O barulho não faz bem e o bem não faz
barulho”.
Por
isso, durante o Carnaval, os cristãos mais conscientes preferem se retirar do
tumulto e se entregar ao recolhimento e à oração. Uma boa preparação para a
Quaresma, tempo de penitência e oração, pelos jovens e pela Igreja, sobretudo
depois da triste notícia da próxima renúncia do Papa.
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