Hoje, quarta-feira de Cinzas, começa o importante tempo
litúrgico da Quaresma, no qual a Igreja almeja que nos unamos
mais intimamente ao Mistério Pascal de Nosso Senhor Jesus Cristo, mistério que
inclui sua Paixão, sua morte e sua gloriosa Ressurreição. A Campanha da Fraternidade, que acontece
na Quaresma, tem como finalidade unir as exigências da conversão, da oração e
da penitência com algum projeto social, na intenção de renovar a vida da Igreja
e ajudar a transformar a sociedade, a partir de temas específicos, tratados sob
a visão cristã, convocando os cristãos a uma maior participação nos sofrimentos
de Cristo, vendo-o na pessoa do próximo, especialmente dos mais necessitados da
nossa ajuda.
O
tema da Campanha da Fraternidade desse ano é “Fraternidade e tráfico humano”,
com o lema “É para a liberdade que Cristo nos libertou” (Gl 5, 1).
A
razão é que o tráfico humano está presente em todo o mundo e os cristãos não
podem ficar insensíveis a essa triste realidade. Tráfico humano é toda
comercialização de pessoas, ou seja, o uso de pessoas como se fossem coisas
vendáveis, negociáveis. É uma forma de escravidão, um desrespeito grave à
dignidade da pessoa humana. Pessoas são compradas e vendidas por dinheiro, para
o prazer, para extração de órgãos ou como instrumento de corrupção. Segundo as
Nações Unidas, de 800 mil a 2, 4 milhões de pessoas vivem traficadas hoje no
mundo. E o Brasil não fica isento dessas escravidões. Pensemos especialmente
nas crianças aliciadas e escravizadas como soldados mirins a serviço do tráfico
de drogas.
“O
comércio de pessoas humanas constitui uma chocante ofensa contra a dignidade
humana e uma grave violação dos direitos humanos fundamentais. Já o Concílio
Vaticano II apontou ‘a prostituição, o mercado de mulheres e jovens e também as
condições degradantes de trabalho, que reduzem os operários a meros
instrumentos de lucros, sem respeitar-lhes a personalidade livre e responsável’
como ‘infâmias’ que ‘envenenam os que as cometem e constituem ‘uma suprema
desonra ao Criador’ (GS 27)” (B. João Paulo II).
“Insisto
que o tráfico de pessoas é uma atividade ignóbil, uma vergonha para as nossas
sociedades, que se dizem civilizadas! Exploradores e clientes de todos os
níveis deveriam fazer um exame sério de consciência diante de si mesmo e
perante Deus! Hoje a Igreja renova o seu apelo vigoroso a fim de que sejam
sempre salvaguardadas a dignidade e a centralidade de cada pessoa, no respeito
pelos seus direitos fundamentais, como ressalta a sua doutrina social... Num
mundo em que se fala muito de direitos, quantas vezes é verdadeiramente
espezinhada a dignidade humana! Num mundo onde se fala tanto de direitos,
parece que o único que os tem é o dinheiro...” (Papa Francisco).
Lutemos
contra o trabalho escravo, contra a exploração de mulheres e crianças e contra
o tráfico de órgãos, oferecendo nesta Quaresma nossas orações e sacrifícios por
uma sociedade mais cristã e, consequentemente, mais humana e fraterna.
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