O
título desse artigo poderia ser “A força de um olhar”. Pietro Sarubbi, quando
adolescente, fugiu de casa e foi trabalhar num circo. Viajou pelo mundo como
ator de teatro e cinema, tentando preencher o vazio espiritual que o afligia.
Em 2001, conseguiu um papel coadjuvante em Hollywood, mas seu vazio existencial
continuava. Meses depois apareceu uma oferta para colaborar com Mel Gibson.
Pensou que o filme seria de ação, mas era sobre a Paixão de Jesus. Nunca
imaginou que poderia atuar em uma representação da Paixão de Cristo, porque
naquele momento estava muito longe da Igreja. Queria encarnar o apóstolo Pedro.
Não por algo espiritual, mas porque pagavam melhor por dia de trabalho. Por
isso, não escondeu sua decepção quando o diretor disse que o procurava para
interpretar Barrabás (agência Zenit).
Mel Gibson, o diretor, explicou-lhe
que Barrabás era mais que um bandido, um animal sem palavras, o que se
expressava em seu olhar. Era por isso
que ele tinha sido escolhido para interpretá-lo, pois, depois de investigar,
achou que ele parecia encarnar bem esse animal selvagem e, ao mesmo tempo,
refugiar no fundo do seu coração o olhar de um homem bom.
Um dia, no set de filmagens, Sarubbi
ficou absorto contemplando por uns momentos seu colega Jim Caviezel, que
interpretava Jesus. Faltavam poucos minutos para gravar a cena onde o povo
perdoava Barrabás e condenava o Messias. Surpreendentemente, o ator e Barrabás
se transformaram numa só pessoa. A cena avançou e ele já não atuava, vivia,
vibrava com os acontecimentos. “Não, a esse não! Barrabás!’ Os gritos da
multidão tinham alcançado o seu objetivo. Estava livre! Inflado pela sua boa
sorte, olhava ironicamente para as autoridades e, em seguida, para a multidão.
E, finalmente, descendo as escadas, seu olhar se encontrou com o de Jesus. “Foi
um grande impacto. Senti como se tivesse uma corrente elétrica entre nós. Eu
via o próprio Jesus”, diz Pietro Sarubbi. A partir daquele momento, diz ele,
tudo em sua vida mudou. Aquela paz que eu tinha procurado por anos, finalmente
tinha invadido sua alma.
“Ao olhar nos meus olhos, seus olhos não tinham ódio
ou ressentimento, apenas misericórdia e amor”. O ator italiano relata assim a
sua fulminante conversão no livro “De Barrabás a Jesus, convertido por um
olhar”, onde mostra a razão da sua gratidão com aquele personagem, Barrabás,
que ele tinha resistido a encarnar: “Ele é o homem que Jesus salvou da cruz. É
ele que representa toda a humanidade”.
Foi esse olhar misericordioso de Jesus que mirou Pedro
no pátio da casa de Caifás e que o fizeram chorar amargamente (Lc 22, 61), para se tornar o grande São Pedro.
Vem à nossa mente o célebre madrigal renascentista “ojos claros, serenos” de
Gutierre de Cetina, adaptado por Francisco Guerrero: “Olhos claros, serenos,
que fixaram em vosso apóstolo Pedro aí, olhai para mim e reparai o que eu
perdi. Se atado fortemente, quereis sofrer por mim e ser açoitado, não me
olheis irado, para que não pareçais menos clemente. Pois choro amargamente,
voltai os olhos serenos, e já que morreis por mim, olhai-me ao menos”.
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