“Louvado sejas, meu Senhor,
pela nossa irmã, a mãe terra, que nos sustenta e governa e produz variados
frutos com flores coloridas e verduras”. Assim se exprimia São Francisco de
Assis, no seu célebre “Cântico do Irmão Sol” ou “Cântico das criaturas”, no
qual expressa o seu louvor a Deus através de suas obras. Inspirado nesse
cântico, o Papa Francisco escreveu sua encíclica “Laudato si”, sobre o zelo que
devemos ter com as criaturas que Deus nos deu, sobre o cuidado da casa comum,
“a nossa irmã, a terra”.
Numa posição de equilíbrio entre os ambientalistas e
ecologistas com visão apenas naturalista da questão e os gananciosos pelo
dinheiro que visam apenas o lucro sem se preocuparem com os danos ambientais,
ambos muitas vezes esquecidos da centralidade e dignidade da pessoa humana, o
Papa adota uma correta posição teológica e antropológica diante do problema da
natureza criada por Deus e dada ao homem, rei da criação. O Papa nos lembra que
“esta irmã clama
contra o mal que lhe provocamos por causa do uso irresponsável e do abuso dos
bens que Deus nela colocou” (n. 2).
“Se o ser humano se declara
autônomo da realidade e se constitui dominador absoluto, desmorona-se a própria
base da sua existência, porque em vez de realizar o seu papel de colaborador de
Deus na obra da criação, o homem substitui-se a Deus, e deste modo acaba por provocar a revolta da natureza” (n. 117).
Desta encíclica, cuja leitura integral recomendo a todos,
ressalto alguns pontos significativos, como, por exemplo, quando o Papa condena
os defensores da contracepção e do controle artificial da população: “Em vez de resolver os
problemas dos pobres e pensar num mundo diferente, alguns limitam-se a propor
uma redução da natalidade. Não faltam pressões internacionais sobre os países
em vias de desenvolvimento, que condicionam as ajudas econômicas a determinadas
políticas de ‘saúde reprodutiva’” (n. 50).
O Papa defende,
sobretudo, a vida humana: “Uma vez que tudo está relacionado, também não é
compatível a defesa da natureza com a justificação do aborto. Não parece viável
um percurso educativo para acolher os seres frágeis que nos rodeiam e que, às
vezes, são molestos e inoportunos, quando não se dá proteção a um embrião
humano ainda que a sua chegada seja causa de incômodos e dificuldades” (n. 120).
“Além disso, é preocupante constatar que alguns movimentos ecologistas defendem
a integridade do meio ambiente e, com razão, reclamam a imposição de
determinados limites à pesquisa científica, mas não aplicam estes mesmos
princípios à vida humana. Muitas vezes justifica-se que se ultrapassem todos os
limites, quando se faz experiências com embriões humanos vivos. Esquece-se que
o valor inalienável do ser humano é independente do seu grau de
desenvolvimento. Aliás, quando a técnica ignora os grandes princípios éticos,
acaba por considerar legítima qualquer prática. Como vimos neste capítulo, a
técnica separada da ética dificilmente será capaz de autolimitar o seu poder”
(n. 136).
Esse amor que São Francisco de Assis tinha para com os animais e a natureza serve de lição para todos nós. Quanto ao documento do papa Francisco, é sem dúvida alguma importantíssimo para os nossos dias.
ResponderExcluir