O livro proposto para estudo neste
cinquentenário do Mês da Bíblia, é a Carta de São Paulo aos Gálatas.
Os Gálatas, habitantes da Galácia, na Turquia atual, eram originários
das tribos celtas da Gália. Ali foram fundadas comunidades cristãs, visitadas
por Paulo, que lhes escreve esta carta.
Os cristãos desta comunidade foram
visitados por cristãos extremados de origem judaica, que ensinavam que, sem a
circuncisão e a Lei de Moisés, hão haveria salvação: são os judaizantes. Estes
tentavam enfraquecer a autoridade de Paulo, difamando-o. São Paulo até
suportaria em silêncio as ofensas pessoais, mas não podia permitir que a
autenticidade do Evangelho fosse negada por estes que queriam impor aos
cristãos a Lei de Moisés, negando o aperfeiçoamento trazido pelo Evangelho. Por
isso, Paulo lhes escreve com veemência esta carta.
O principal objetivo desta carta é
mostrar a caducidade da Lei de Moisés após a vinda de Cristo. A promessa feita
a Abraão, nosso pai na fé, de que todos os povos seriam nele abençoados, é
independente da Lei de Moisés, que veio 130 anos depois dessa promessa. Todos
os povos são abençoados pela fé na promessa de Deus de um Salvador, o Messias,
Jesus Cristo. A Lei de Moisés, tinha a finalidade de conduzir o povo ao
Messias, o Cristo, e deveria desaparecer com a vinda dele, pois terminou a sua
função.
Daí, como consequência, a liberdade
dos cristãos, com relação à lei antiga. Foi importante a missão de São Paulo em
desatrelar o cristianismo do judaísmo. Paulo, judeu, inspirado por Deus,
compreendeu a provisoriedade da Lei de Moisés. Mas, - cuidado! - essa epístola,
chamada por Lutero a “magna carta da Liberdade Cristã”, apregoa a liberdade em
relação à Lei Mosaica, não frente a toda lei: o cristão, está obrigado a
praticar as obras da lei superior da caridade e da graça.
Quando Paulo afirma que somos salvos
pela Fé, e não pelas obras da Lei, significa que entramos na justificação e na
amizade com Deus não porque tenhamos praticado obras boas e meritórias, mas
unicamente porque Deus nos chamou e temos fé nesse chamado, como Abraão. Assim,
ninguém compra a amizade com Deus ou ninguém sai do estado de pecador porque o
mereça: é um dom gratuito de Deus, a graça, que perdoa o pecado e nos dá a
filiação divina. Mas ninguém permanece na amizade de Deus, gratuitamente
recebida, se não pratica as boas obras que essa amizade nos impõe: “Em Cristo
Jesus nem a circuncisão nem a incircuncisão tem valor, mas a fé agindo pela
caridade” (Gl 5,6). São Tiago, corrobora essa doutrina. Não nega a gratuidade
da justificação (cf. Tg 1,8), mas ensina a necessidade das boas obras como
fruto da graça no cristão (cf. Tg 2, 14-26).
A Epístola aos Gálatas contém a
doutrina da liberdade cristã, do mistério da cruz e da profissão da filiação
divina: “A vós, a graça e paz da parte de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus
Cristo. Ele se entregou por nossos pecados, para nos libertar do presente mundo
mau, segundo a vontade de nosso Deus e Pai” (Gl 1, 3-4).
*Bispo da Administração Apostólica
Pessoal
São João Maria Vianney
http://domfernandorifan.blogspot.com.br/
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