A IGREJA E A POLÍTICA

         O tema da Campanha da Fraternidade desse ano “Fraternidade: Igreja e Sociedade”, com o lema “Eu vim para servir” (cf. Mc 10, 45), é ocasião para se tratar da política, o que pode levar alguns setores da sociedade a pensarem que a Igreja entrou na batalha política, e, pior, favorece a linha socialista e os partidos de esquerda. Faz-se necessário, por isso, recordar alguns princípios esclarecedores do porquê e como a Igreja entra na política.
Segundo Aristóteles, “o homem é por natureza um animal político, destinado a viver em sociedade” (Política, I, 1,9). E Santo Tomás de Aquino cunhou o termo bem comum, ou bem público, que é o bem de toda a sociedade, dando-o como finalidade do Estado.
Na doutrina social da Igreja, Política é “uma prudente solicitude pelo bem comum” (S. João Paulo II, Laborem exercens, 20). “A comunidade política existe, portanto, em vista do bem comum; nele encontra a sua completa justificação e significado e dele deriva o seu direito natural e próprio. Quanto ao bem comum, ele compreende o conjunto das condições de vida social que permitem aos indivíduos, famílias e associações alcançar mais plena e facilmente a própria perfeição” (Gaudium et Spes, 74 – cf. S. João XXIII, Mater et Magistra).
A Igreja está ao serviço do Reino de Deus, anunciando o Evangelho e seus valores, e “não se confunde com a comunidade política nem está ligada a nenhum sistema político” (Gaudium et Spes, 76). Mas os cristãos participam na vida pública como cidadãos. “Os fiéis leigos não podem de maneira nenhuma abdicar de participar na ‘política’, ou seja, na multíplice e variada ação econômica, social, legislativa, administrativa e cultural, destinada a promover de forma orgânica e institucional o bem comum” (S. João Paulo II, Christifideles laici, 42).
“Reconhecendo muito embora a autonomia da realidade política, deverão se esforçar os cristãos solicitados a entrarem na ação política por encontrar uma coerência entre as suas opções e o Evangelho” (Paulo VI, Octogesima Adveniens, 46).
Mas é preciso respeitar os campos de ação e a competência.
A Igreja não pode nem deve tomar nas suas próprias mãos a batalha política... não pode nem deve se colocar no lugar do Estado. Mas também não pode nem deve ficar à margem na luta pela justiça. Deve inserir-se nela pela via da argumentação racional e deve despertar as forças espirituais, sem as quais a justiça... não poderá firmar-se nem prosperar” (Papa Bento XVI, Deus caritas est, n. 28).
Este trabalho político não é competência imediata da Igreja. O respeito de uma sã laicidade – até mesmo com a pluralidade das posições políticas – é essencial na tradição cristã autêntica. Se a Igreja começasse a se transformar diretamente em sujeito político, não faria mais pelos pobres e pela justiça, mas faria menos, porque perderia sua independência e sua autoridade moral, identificando-se com uma única via política e com posições parciais opináveis. A Igreja é advogada da justiça e dos pobres, precisamente ao não identificar-se com os políticos nem com os interesses de partido. Só sendo independente pode ensinar os grandes critérios e os valores irrevogáveis, orientar as consciências e oferecer uma opção de vida que vai além do âmbito político” (Bento XVI, Aparecida, 13-5-2007, Disc. Inaug. do CELAM).
“Não cabe aos pastores da Igreja intervir diretamente na construção política e na organização da vida social. Essa tarefa faz parte da vocação dos fiéis leigos, que agem por própria iniciativa com seus concidadãos” (Catecismo da Igreja Católica n° 2442).
Não cabe à Igreja formular soluções concretas – e muito menos soluções únicas – para questões temporais, que Deus deixou ao juízo livre e responsável de cada um, embora seja seu direito e dever pronunciar juízos morais sobre realidades temporais, quando a fé ou a lei moral o exijam” (Nota doutrinal da Congregação para a Doutrina da Fé sobre a participação e comportamento dos católicos na vida política, n° 3).

Vem a calhar a solução de Santo Agostinho: “Em questão de princípios, unidade. Nas questões discutíveis e opináveis, liberdade. Em todas as coisas, caridade”.

2 comentários:

  1. A bênção, D Rifan!
    A Igreja do Brasil, via CNBB, a qual passa a ideia para a sociedade de a representar, apesar de os Revmos Bispos serem autônomos, teria se partidarizado devido a certos estranhos apoios, como à "Reforma Política", patrocinada pelo PT e apenas mais por partidos e dezenas de agremiações ultra esquerdistas, do ramo stalinista, facções dos tipos bastante intolerantes e anarquistas.
    Hoje de manhã, 13/03, às 7.30 H ouvi na rede SAT-Radio América o presidente da CNBB, o progressista Cardeal D R Damasceno; perguntado se deveria haver o impeachment da mandataria Dilma, disse que no momento não vê motivos para isso, só se o STF a condenar, com provas!
    Dessa forma, estaria ao lado do PT do aborto, pedofilia, ideologia do gênero, das ideologias tais quais dos nazifascistas, da corrupção geral patrocinada pelo partido, da destruição das famílias, da perversão da juventude de permitir sexo-novelas, BBBs e similares, da frontal perseguição à Igreja...
    Aliás, de alto a baixo, a CNBB quando mencionada na net só se notam pesadas críticas, com toda razão.
    D Murilo Krieger outro dia, aventou a possibilidade de existirem grupos na CNBB tomando decisões que não correspondem a todos os bispos; no caso da "Reforma Política"; certas propostas dos Bispos não foram aceitas para nela se incluírem; daí que a CNBB está, ao que parece, via apoiadores (infiltrados vermelhos?) estaria sendo usada pelos comunistas para projetos de mantenimento no poder do PT - não de governo, pois os comunistas não os têm!
    Se não é que esses grupos a que tão bem se referiu seriam pró esquerdistas e não lhe são aliados. O grande D Luiz Bergonzini dizia: "não posso concordar com certos irmãos do episcopado" ao ser incompreendido de censurar o PT, caso de não apoiar Dilma; com razão!
    "A tomada do poder deve ser obra da inssurreição e as metas políticas se vêem depois de entrada do poder" - Lênin.
    Nesse caso, devido a esses estranhos apoios aos vermelhos provindos da CNBB - sempre sincronizada à TL/PT - configurariam-se a traidores de Cristo, da Igreja e deixariam o rebanho à mercê dos lobos, dos relativistas e alienadores da sociedade para mais facilmente inocular nela os pestilentos vírus do marxismo - com ajuda de Altos Hierárquicos, já não bastando a vermelha TL e seu séquito de falsos profetas pregando a doutrina da Igreja socializada e que atuariam também nas CEB, CIMI, CPT, CBJP etc.!...

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  2. Gostei da explicação de Dom Rifan. Com sabedoria e procurando ser fiel a doutrina social da igreja. Peçamos ao Espírito Santo que nos ilumine e nos mostre o melhor caminho a ser seguido.

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Seu comentário é muito bem vindo. Que Deus o abençõe.