A Quaresma é um tempo próprio para a meditação sobre a
nossa vida espiritual, que consiste em uma contínua luta: o combate espiritual
contra o mal. Sabemos, pelo catecismo e pela experiência, quais são os três
inimigos da nossa alma: o mundo, o demônio e a carne. Contra esses, o combate
será contínuo, para perseverarmos no bem. E no combate pelo bem contra o mal, há
sempre tentações, vindas desses três inimigos.
Refletimos
nesse tempo (1º Domingo) nas tentações de Jesus no deserto. Preparando-se para
o seu ministério público, Jesus passou quarenta dias no deserto, afastado do
mundo, mortificando a carne, orando e jejuando. Após esse jejum, ele foi
tentado pelo demônio, que ele venceu. Suas tentações representam as três
concupiscências (1 Jo 2, 16), que tentam nos seduzir: concupiscência da carne,
simbolizada ali pela transformação das pedras em pães para satisfazer a carne
faminta, a concupiscência dos olhos, figurada pela ambição de possuir todos os
reinos e riquezas deste mundo, e a soberba da vida, representada no desejo
ganancioso de ser aplaudido.
A
concupiscência da carne, nossa grande fraqueza e fonte de tentações, engloba de
modo especial a impureza, a curiosidade mórbida, a pornografia, os prazeres
carnais proibidos, os adultérios, as infidelidades, as traições, as violações,
os assédios, etc. Mas abrange também as iras, as inimizades, as rixas, os maus
tratos, as violências de todo tipo, as agressões, as injúrias, as maledicências,
as calúnias, as fofocas, as mentiras. Todos somos tentados a tudo isso, a que
devemos resistir pela oração e vigilância. “Vigiai e orai, para não cairdes em
tentação; o espírito, na verdade, está pronto, mas a carne é fraca” (Mt 26, 41).
A
soberba da vida inclui o orgulho, a presunção, a inveja, a complacência
própria, o amor-próprio destemperado, o narcisismo, a empáfia, a vaidade, o
sadismo, o desejo de subir à custa de pisar nos outros, o julgar-se melhor do
que o próximo, a vanglória, a altivez, os juízos temerários, a desobediência, a
revolta, o espírito de crítica, o reparar no defeito dos outros sem olhar os
próprios, etc.
A
concupiscência dos olhos engloba a ambição de possuir, o insaciável desejo de
ter cada vez mais, a inveja também, que é a tristeza de ver o próximo crescer
ou a alegria de vê-lo decrescer, a corrupção, a exploração dos outros menos
favorecidos, aproveitando-se da sua situação difícil, o desvio do dinheiro
público, a sede do poder, a malversação na administração da coisa pública, o
desejo desmensurado de ganhar as eleições a qualquer custo, ainda que seja pela
compra dos votos, etc.
Mas
tentação não é pecado. É sugestão e convite para pecar. Mesmo Jesus foi
tentado. E venceu as tentações. Não nos admiremos de sermos tentados, desde que
resistamos a esses convites e sugestões para o mal. Deus não permite que
sejamos tentados acima das nossas forças, dando-nos sempre a graça de resistir,
porque Ele “nunca manda o impossível, mas nos ordena que façamos o possível e
peçamos o que não nos é possível” (Santo Agostinho).
*Bispo da Administração Apostólica Pessoal
São João Maria Vianney
htp://domfernandorifan.blogspot.com.br/
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